terça-feira, 23 de dezembro de 2025

UM MÊS HOJE APÓS AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS E PRESIDENCIAIS NA GUINÉ-BISSAU, QUE CUSTARAM CERCA DE TRÊS MIL MILHÕES DE FRANCOS CFA, EQUIVALENTE A MAIS DE 4,5 MILHÕES DE EUROS


Completa-se hoje um mês desde que os guineenses foram às urnas para participar nas eleições legislativas e presidenciais, um momento considerado decisivo para o futuro político do país. O escrutínio, realizado em clima globalmente calmo, mobilizou milhares de eleitores em todo o território nacional e na diáspora, reafirmando o compromisso da população com a democracia.
No entanto, o processo eleitoral foi abruptamente interrompido no dia 26 de novembro, na véspera do anúncio dos resultados provisórios, na sequência de um golpe de Estado. Durante os acontecimentos, elementos do Secretariado Executivo da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e magistrados do Ministério Público que fiscalizavam o processo foram sequestrados, os servidores informáticos da instituição danificados e as atas-síntese do apuramento nacional alegadamente confiscadas por homens armados.

Na sequência destes distúrbios, a CNE informou publicamente não dispor de condições técnicas para concluir o processo eleitoral, alegando que os danos causados inviabilizaram a centralização e validação dos resultados finais.

Apesar disso, o candidato presidencial Fernando Dias da Costa reivindica vitória eleitoral, sustentando que existem condições objetivas e alternativas técnicas para a publicação dos resultados, com base nos dados já apurados antes da interrupção do processo. Da mesma forma, a direção da campanha de Umaro Sissoco Embaló, através do seu mandatário José Paulo Semedo, afirma não duvidar da vitória do seu candidato.

A mesma posição da candidatura de Fernando Dias é partilhada por várias organizações da sociedade civil e por alguns observadores eleitorais internacionais, que defendem a existência de mecanismos alternativos que permitiriam a divulgação dos resultados eleitorais. Estas entidades classificam a interrupção do processo como uma “combinação” destinada a impedir a conclusão normal do escrutínio.
Um mês depois das eleições, o país vive um clima de incerteza política, enquanto a população aguarda esclarecimentos, responsabilização dos autores dos distúrbios e uma solução que respeite a vontade expressa nas urnas. Analistas políticos sublinham que a superação da atual crise passa pelo diálogo, respeito ao Estado de Direito e reposição da legalidade constitucional.

Na sequência do golpe militar que interrompeu o processo eleitoral, várias figuras políticas e cidadãos, entre os quais Domingos Simões Pereira, Octávio Lopes, Roberto Mbesba e Marciano Indi, continuam detidos.

O alto comando militar que assumiu o poder justificou o golpe como forma de evitar uma possível guerra civil no país, alegando que as eleições não resolveriam os problemas estruturais e anunciando uma transição de um ano para implementar as reformas consideradas necessárias.

A um mês do ato eleitoral, muitos guineenses continuam a esperar que a verdade eleitoral venha a público e que o país reencontre o caminho da estabilidade democrática e institucional.

RSM: 23 12 2025

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