segunda-feira, 11 de abril de 2022

Guiné-Bissau: "Nada mudou para bem" desde o golpe de 2012 - investigador

O investigador guineense Wilson Te considerou que o último golpe de Estado na Guiné-Bissau, há dez anos, deu azo a entusiasmo, mas depois veio a desilusão, e concluiu que desde então "nada mudou para bem".

"Os guineenses viveram este período entre entusiasmo e desilusão", disse o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa, em declarações à Lusa a propósito dos 10 anos do golpe de Estado de 12 de abril de 2012, que depôs o Presidente da República interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, em pleno período eleitoral.

O entusiasmo, contou, ocorreu quando o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) ganhou as eleições legislativas com maioria absoluta, em 2014, "mas mesmo assim decidiu formar um Governo de inclusão" que juntava todos os partidos com a representação parlamentar.

Foi "uma coisa inédita" na Guiné-Bissau, afirmou.

"Mas o entusiasmo acabou por se transformar numa desilusão, com a demissão do mesmo Governo um ano depois", lembrou Wilson Te, considerando que, desde então, "praticamente nada mudou para bem".

"Eu poderia até dizer que, em vez de crescer, voltámos um pouco para trás. (...) Não mudou para o bem, mas sim para o pior", afirmou.

O investigador responsabiliza por esta desilusão "um grupo de pessoas que não conseguem viver fora do poder".

Outro motivo para a instabilidade política na Guiné-Bissau é que "um dos pilares da democracia não funciona: a justiça".

"Falta de aplicação da justiça e falta de observância da Constituição da República", apontou.

Questionado sobre se seria preciso alterar a Constituição para resolver o problema, Wilson Te disse que "o problema não está na Constituição da República. O problema está nas pessoas", que não a cumprem.

Exemplificou com o facto de o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, ter afastado o Governo do PAIGC, que tinha ganhado as eleições de 2019, e nomeado um Governo liderado por um partido que tem apenas cinco deputados, quando a Constituição diz que o primeiro-ministro é nomeado pelo Presidente da República "tendo em conta os resultados eleitorais e ouvidos os partidos políticos representados na Assembleia Nacional".

Por outro lado, disse que o chefe de Estado "diz claramente que é o único chefe da Guiné-Bissau, enquanto na Constituição há separação de poderes".

Admitindo que a Guiné-Bissau tem "problemas sérios", Wilson Te disse acreditar que a solução para o país está nos guineenses e que passa por "conversar e tentar ultrapassar os impasses".

"Na democracia há duas coisas importantes, a observância da lei e o diálogo, que é muito importante. Agora não querer diálogo com ninguém, isso não resolve problema nenhum", disse.

Conosaba/Lusa

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