O presidente do sindicato de base dos trabalhadores do Hospital Nacional Simão Mendes, Armando Nhito Indi, denunciou que a direção do hospital está a recrutar estagiários para os serviços de urgência do maior estabelecimento hospitalar da Guiné-Bissau, por os técnicos e profissionais de saúde terem aderido à greve geral na função pública decretada pela União Nacional de Trabalhadores da Guiné – Central Sindical (UNTG – CS).
Em reação a essa situação, o sindicalista e enfermeiro de profissão mostrou-se preocupado com a atitude da direção do hospital e dos estudantes (estagiários) por terem aceitado fazer o serviço naquelas condições, sobretudo na ausência dos seus tutores (médicos e enfermeiros) para orientá-los.
Na entrevista a O Democrata (semana 16 de 2021), Armando Nhito Indi afirmou ter informado às universidades e às escolas de formação que decorre uma greve no hospital e que os médicos ou enfermeiros (tutores) não estariam disponíveis para seguir ou orientar os estagiários a nível dos diferentes serviços, por isso disse estranhar o comportamento dos estudantes, que acusou de agirem nas costas dos enfermeiros e médicos responsáveis pelo processo e de terem aceitado uma “contratação indevida” pela direção, para prestação de serviços sem nenhuma supervisão.
SINDICALISTA CRITICA TÉCNICOS DE SAÚDE QUE FURAM A GREVE PARA AGRADAR A DIREÇÃO
O sindicalista informou que os trabalhadores do Hospital Nacional Simão Mendes tentaram alertar as direções das universidades sobre essa situação de “recrutamento indevido” de estudantes pela direção e dos riscos que tal atitude pode acarretar, mas não foram ouvidos.
“Tentamos alertar as direções das universidades sobre essa situação de recrutamento indevido de estudantes pela direção do hospital, inclusive dos riscos. Aceitar trabalhar sem um tutor para orientá-los é um grande risco, por isso as próprias universidades são cúmplices por tê-los enviado para trabalhar como profissionais no hospital”, referiu.
O sindicalista disse que apesar de terem aderido à greve geral, continuam a observar os serviços mínimos, de acordo com as normas, “até disponibilizamos técnicos para cada serviço, de acordo com as exigências daquele serviço. Enfatizou neste particular que a greve registada no maior centro hospitalar está a ter um “impacto grande” sobre os pacientes que recorrem aos serviços do hospital e que não conseguem ser atendidos. Contudo, frisou que aderiram à greve com o propósito de reclamar ou exigir do governo melhores condições laborais e salários.
Assegurou que o sindicato fez questão de colocar um médico e um enfermeiro nos serviços de urgência, tendo lamentado muito o fato de alguns médicos e técnicos de saúde terem recusado aderir à greve geral, porque “estamos todos a defender uma única causa para o bem-estar da toda a classe”. Enfatizou que “é verdade que não é obrigatório aderir à greve, mas a grande verdade é que é uma luta para a causa de trabalhadores, portanto se for atendida vai beneficiar todos incluindo aqueles que não a aderiram”.
“Nos serviços da maternidade, do laboratório e de oftalmologia, deparamo-nos com enormes dificuldades em termos da colaboração de técnicos, bem como no que concerne à fiscalização da conduta do próprio pessoal, mas isso se verifica mais a nível da maternidade! Em cada greve definimos uma lista reduzida de pessoas para assegurar os serviços mínimos, mas infelizmente o procedimento é violado pelos próprios técnicos. Há um grosso número de técnicos que está a trabalhar nesses serviços, boicotando a greve em curso”, contou.
Questionado se os técnicos que furam a greve nos serviços da maternidade, laboratório e oftalmologia recebem alguma coisa ou dinheiro de forma ilícita através das cobranças feitas aos pacientes ou familiares, Armando Nhito Indi não descartou essa possibilidade, contudo, disse que não dispõe de nenhuma informação ou prova que possa confirmar ou desmentir essa denúncia ou se esses técnicos recebem alguma coisa em troca para furar a greve, mas estranha o comportamento dos mesmos e acusa-os de constantemente desobedecerem a orientação do sindicato de base sobre adesão à greve.
“QUESTÕES POLÍTICAS MOTIVAM MÉDICOS E TÉCNICOS DE SAÚDE A ADERIREM À GREVE”
O sindicalista revelou ainda que alguns médicos e técnicos de saúde em geral decidiram aderir à greve por conveniência político partidária, mas não por causa do profissionalismo ou da causa defendida pela central sindical-UNTG, organização a qual fazem parte. Na opinião do sindicalista, a política partidária não deveria entrar naquele estabelecimento hospitalar.
Reconheceu que a greve registada há mais de cinco meses na função pública com “consequências drásticas” a população está a criar um “sufoco” aos números reduzidos dos médicos e técnicos de saúde colocados para assegurar os serviços mínimos, pelo que exortou o governo a dialogar com a central sindical e encontrar uma solução.
“O sindicalismo não é só exigir do patronato, mas também fiscalizar a conduta dos associados e exigi-los a terem uma conduta que vai de acordo com os princípios deontológicos e profissionais”, disse o sindicalista, para de seguida acrescentar que já receberam denúncias várias vezes sobre condutas e práticas ilegais dentro do hospital. Afirmou no entanto, que todas as denúncias foram submetidas à direção do hospital para eventual responsabilização e consequentes punições.
ESCASSEZ DE MATERIAIS DE TRABALHO DEIXA TÉCNICOS EXPOSTOS A CONTAMINAÇÃO POR DOENÇAS
O enfermeiro de profissão que dirige o sindicato de base dos trabalhadores do hospital explicou que os técnicos do hospital trabalham com enormes dificuldades em termos de materiais e equipamentos de proteção pessoal. Acrescentou que a escassez de materiais de trabalho obriga os técnicos a fazerem um esforço para além do normal, tendo lembrado que a direção muitas vezes dá quatro ou cinco pares de luvas para trabalhar durante 12 horas.
“Na quarta enfermaria, há 30 camas que os técnicos são obrigados a atender todas aquelas pessoas com quatro ou cinco pares de luvas, o que não é recomendável. Porque as luvas devem ser descartáveis, assim que as usar num paciente. Com essa falta de materiais, ao invés de salvar vidas acaba-se por prejudicar ou contaminar algumas pessoas”, referiu.
Entretanto, avançou em relação às máscaras faciais que apenas duas são disponibilizadas para cada técnico.
Segundo Armando Nhito Indi, essa situação de falta de equipamentos é do conhecimento da direção, porque que a sua organização sindical já chegou a inventariar os equipamentos necessários.
“Até o carro do pessoal já não transporta os funcionários. Questionamos à direção, esta alegou apenas a falta de dinheiro para assegurar o combustível”, disse.
Armando Nhito Indi referiu que os trabalhadores estão a reclamar não apenas os salários na função pública como também os subsídios de vela, que não recebem desde 2015. Informou que deixaram de receber desde o mês de outubro do ano passado os subsídios da hora extra estabelecidos pelo ministério das Finanças.
O sindicalista disse que até dezembro de 2020, o hospital contava com 546 funcionários. Sublinhou que o serviço de limpeza do hospital é assegurado por uma empresa privada, tendo acrescentado que o pessoal menor (serventes) do hospital são apenas em um número de oito pessoas e todos têm idade avançada, quase para a reforma.
Por: Epifânea Mendonça
Conosaba/odemocratagb
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