A dois meses de deixar o poder, o Presidente José Eduardo dos Santos está fragilizado e enfrenta o colapso financeiro do país.
Vítima de um acidente vascular isquémico, o Presidente Eduardo dos Santos foi obrigado esta semana a conceder poderes a Manuel Vicente, o número dois do regime, para dirigir o Conselho de Ministros.
Esta decisão, inédita em 38 anos de poder eduardista, terá sido precipitada pelo facto de ter sofrido a mais grave “crise prostática” desde que, há mais de 20 anos, foi submetido a tratamento no Brasil, dizem analistas.
Evacuado de emergência para Barcelona há duas semanas, Eduardo dos Santos ficou temporariamente incapacitado para dirigir alguns dossiês e terá sido aconselhado a tomar aquela decisão.
Angola ficou em “suspense” e não havia certeza para nada. A dois meses de abandonar o Palácio da Cidade Alta, José Eduardo dos Santos, com 74 anos de idade, deixou em cima da mesa uma proposta para ser caucionada pela futura liderança do país. Trata-se da nomeação das novas chefias militares, que não terá sido bem acolhida em certos círculos políticos…
E deixou também o país em estado de “coma” financeiro. Se tudo já andava aos solavancos, passou a literalmente parado.
A crise de recursos financeiros para assuntos correntes atingiu uma estagnação de tal magnitude, que o Ministério da Economia deixou até de ter em caixa dinheiro para manutenção dos aparelhos de ar condicionado. Segundo uma fonte do Ministério das Finanças, não há hoje certeza de que possa haver verbas para pagar a dívida pública…
“No estado em que estava, o Presidente não tinha outra saída senão dar poderes ao vice-presidente para tentar por a máquina a funcionar”, confidenciou ao Expresso um membro da direção do MPLA.
“A doença não escolhe o estatuto das pessoas”, desabafou um deputado do partido no Governo, que pediu anonimato.
O agravamento do estado de saúde do Presidente, guardado a sete chaves pelos serviços de informação angolanos, segundo apurou o Expresso junto de uma fonte afeta ao seu pessoal médico, terá obrigado o Presidente a recorrer aos serviços de médicos cubanos a trabalhar na Clínica Multiperfil. Antes disso, fora visto a ser submetido a exames específicos no Centro de Imagiologia presidencial da Clínica Girassol durante os quais terá sofrido uma lipotimia.
Não era a primeira recaída de Eduardo dos Santos depois de, há seis meses, ter desmaiado durante o óbito do seu irmão mais velho Avelino dos Santos. Na altura, tinha interrompido o tratamento médico que já estava a fazer em Barcelona. Mais recentemente, uma reunião do Conselho de Ministros foi cancelada por indisponibilidade do Presidente e o facto nunca tornado público.
O secretismo que envolveu esta sua nova deslocação à capital catalã, depois de uma recaída nos aposentos do Palácio da Cidade Alta, acabaria por provocar um vendaval de especulações e boatos sem paralelo na vida política angolana.
Este clima de apreensão agravou-se ainda mais após se ter descoberto e tornado público que as imagens difundidas pela Televisão Pública de Angola (TPA) da partida do chefe de Estado para Barcelona no aeroporto militar eram imagens de arquivo. “A trapalhada é tal que já nem sabem manipular”, disse ao Expresso Graça Campos, diretor do portal ‘Correio Angolense’.
“Estes dez dias de incertezas abalaram Angola”, diz a professora universitária Filomena Martinho, que chegou a temer o pior ao ser confrontada com o desencontro de informações e de contrainformações.
O pior terá já passado. O Expresso apurou que os filhos de Eduardo dos Santos, que tinham ido a Barcelona visitar o pai, já se encontram de volta a Luanda.
A cultura do secretismo das autoridades na gestão pública deste dossiê é que provocaram danos à imagem do regime. Considerado por diversos analistas como sendo a principal causa do incómodo clima político instalado, ao MPLA estão agora a ser atribuídas as principais responsabilidades pela onda de alarmismo que sacudiu a sociedade angolana nos últimos dias.
“Em comunicação é sempre melhor a antecipação do que a reação. A viagem do Presidente, qualquer que tenha sido o motivo, deveria ter sido oficialmente comunicada aos cidadãos para diminuir a possibilidade de desinformação”, disse ao Expresso João Melo, jornalista e deputado do MPLA.
“Angola vive um período de transição e o Governo, que tem de esperar desestabilização por parte dos seus adversários, esteve mais uma vez mal na abordagem deste tema”, concluiu aquele especialista em comunicação e marketing.
Conosaba com [Expresso.sapo.pt]
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