Fidel ainda destacou que 'a discriminação racial foi varrida pela Revolução', e que a ilha garante 'aposentadoria e a igualdade salarial para todos'
O ex-presidente cubano Fidel Castro, em suas primeiras declarações sobre a histórica visita de Barack Obama à ilha de Cuba, fez um alerta: “não precisamos de nenhum presente vindo do império, nada”.
“Que ninguém alimente ilusões de que o povo deste nobre e abnegado país renunciará à glória e aos direitos que conquistou, e à riqueza espiritual que ganhou com o desenvolvimento da educação, da ciência e da cultura”, escreveu Fidel, numa nota publicada nesta segunda-feira (28/3) no diário oficial Granma, com o título El hermano Obama (“O irmão Obama”).
“Quero avisar também que somos capazes de produzir os alimentos e as riquezas materiais que necessitamos com o esforço e a inteligência do nosso povo. Não precisamos de nenhum presente vindo do império, nada. Nossos esforços serão legais e pacíficos, porque o nosso compromisso é com a paz e a fraternidade de todos os seres humanos que vivem neste planeta”, indicou Fidel.
Em sua reflexão, o ex-líder cubano, de 89 anos – e afastado do poder desde 2006 –, analisa o discurso ao povo cubano que Obama realizou na terça-feira passada, no Gran Teatro de Havana, durante sua visita à ilha, a primeira de um mandatário estadunidense à Cuba revolucionária.
Sobre as declarações de Obama a favor de “esquecer o passado e priorizar o futuro”, Fidel Castro considerou que o presidente norte-americano soube utilizar as “palavras mais sedutoras”, mas afirmou que os cubanos “correram o risco de um infarto” ao escutá-lo falar de cubanos e estadunidenses como “amigos, família e vizinhos”.
“Após um bloqueio impiedoso, que já dura quase 60 anos, e dos ataques de mercenários a barcos e portos cubanos, um avião de passageiros que foi explodido em pleno voo, após diversas invasões mercenárias e múltiplos atos de violência que deixaram vários mortos?”, questionou Fidel.
Segundo ele, “um dilúvio de conceitos inteiramente novos” entraram em na mente dos cubanos que escutaram o discurso de Obama. Por exemplo, quando ele afirmou que sua visita a Cuba tinha como propósito deixar para trás a Guerra Fria nas Américas e estender uma “mão de amizade” ao povo cubano.
Castro recordou a Invasão da Baía dos Porcos, em 1961, quando “uma força mercenária com canhões e infantaria blindada, equipada com aviões, foi treinada e acompanhada por porta-aviões dos Estados Unidos, atacando o nosso país de surpresa”.
“Nada poderá justificar aquele ataque traiçoeiro, que custou ao nosso país centenas de baixas, entre mortos e feridos. Além disso, não me consta que eles tenham conseguido evacuar nem mesmo um mercenário da brigada ianque que tentou assaltar o sul da nossa ilha. E ainda assim, aviões mercenários ianques foram apresentados depois às Nações Unidas como cubanos sublevados”, recordou Castro a respeito daquele acontecimento, que aprofundou a divisão entre os Estados Unidos e a Cuba revolucionária.
Fidel Castro também criticou que as declarações do presidente norte-americano a respeito da origem mestiça tanto de Cuba quanto dos Estados Unidos, por não mencionar que “a discriminação racial foi varrida pela Revolução”, e que a ilha aprovou leis que garantem “a aposentadoria e a igualdade salarial para todos os cubanos, quando o senhor Obama ainda não tinha nem dez anos completos”.
Tradução: Victor Farinelli
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