sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Saída de três países da CEDEAO: ANALISTA ALERTA QUE A CEDEAO PODE PERDER SE IGNORAR A ALIANÇA DO SAHEL

O especialista em relações internacionais e analista dos assuntos da sub-região do Jornal O Democrata, Abdu Jarju, afirmou que a saída dos países que constituem a Aliança do Estado de Sahel (AES), designadamente, Mali, Burkina Faso e o Níger da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), não terá consequências a nível da sub-região em termos de cooperação.

“Não haverá consequências. Ambos os lados estão no senso normal, sendo que no início houve reações emocionais, mas a organização sub-regional tem mais a perder se ignorar os países da Aliança do Sahel”, alertou.

Em entrevista ao jornal O Democrata sobre a situação política sub-regional, o docente universitário e antigo embaixador extraordinário e plenipotenciário da Gâmbia para a Guiné-Bissau, Guiné-Conacri e Cabo Verde lembrou que a CEDEAO tem neste momento 1,9 milhões de quilómetros quadrados, enquanto os três países da Aliança partilham 2.740.000 quilómetros quadrados, o que significa que os três países têm mais espaço geográfico do que os países restantes da CEDEAO.

Frisou, neste particular, que em termos de riqueza os países da Aliança têm mais recursos naturais que os restantes membros da CEDEAO, de maneira que é preciso para todos ponderem na sua atuação e na cooperação para ver quais são os benefícios das duas organizações.

EX-EMBAIXADOR: “ALIANÇA DOS ESTADOS DO SAHEL VÊ A CEDEAO COMO UM SATELETIDE DE IMPERIALISTAS”

“A posição geográfica do Mali, de Burkina Faso e do Níger impede que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental continue a sancionar, caso contrário o transporte aéreo será afetado. Se a CEDEAO sancionar países da Aliança do Sahel, eles também podem aplicar a mesma sansão”, disse, acrescentado que esta situação pode levar a CEDEAO a pagar um preço muito caro, porque “o preço de bilhete de avião da Europa para África pode multiplicar-se três vezes a fim de poder contornar os países da Aliança.

“Os países membros da Aliança do Sahel dividiram a CEDEAO e a Europa, que está no meio, fazendo que o território se torne muito mais largo e toda esta situação obrigará as duas organizações a cooperarem para os interesses dos ambos lados.Contudo o comércio entre os países restantes da CEDEAO, representa cinco por cento entre eles e os obstáculos para circulação dos bens faz com que a carga comercial entre os países da CEDEAO torne-se insignificante”, advertiu.

Questionado ainda sobre uma possível saída dos países da Aliança do Sahel da União Económica Monetário Oeste Africana (UEMOA), Jarju abriu a possibilidade de um dia estes países abandonarem a moeda franco cfa.

“Se estes países Mali, Burkina e Níger saírem daquela organização, haverá consequências económicas sobre a moeda e política, o que poderá precipitar a saída de alguns países do franco CFA. Repara que alguns Estados membros olham para o franco CFA como uma coisa imposta, uma espécie de colonização, uma dominação. Não é uma moeda africana, mas sim francesa, de maneira que mais cedo ou mais tarde estes países acabarão por abandonar a moeda”, assinalou.

Sobre a situação da Aliança do Sahel, o professor universitário disse que a partir do momento em que estes países sentiram que a CEDEAO violou os textos que regem a organização, começaram a levantar uma série de questões, que criaram um clima de desconfiança perante os países membros da CEDEAO.

Afirmou que a CEDEAO tem atuado fora do contexto dos seus textos originais de fundação e os países da Aliança reagiram, dizendo que devem abandonar a organização, tendo em conta a reação negativa da CEDEAO. Quando se trata de sanções económicas, fecho de fronteiras e todas estas situações levaram à reação dos países da Aliança que decidiram abandonar a CEDEAO, porque “acabam por vê-la como um satélite do Ocidente, ou seja, dos países imperialistas”.

Abdu Jarju lembrou que as circunstâncias que motivaram a criação da Aliança dos Estados do Sahel foi um contexto particular e de insegurança que estes países sentiram e tiveram que enfrentar os problemas de luta contra o terrorismo e num momento aconteceram golpes de estado nestes três países e a reação da CEDEAO perante os golpes de Estado não obedeceu aos textos originais que os fundadores preconizaram, sobre a componente económica e política.

“Quando se tratava de luta contra o terrorismo, a imprensa ocidental tratava da luta contra os Jihadistas, o que não foi compreensivo pelos países membros da Aliança do Sahel. Eles estão a fazer uma luta contra o terrorismo. O Jhiadismo não se compreende e como é possível que um país como o Mali, que tem 85 a 95 por cento de muçulmanos, haja um grupo de muçulmanos que acha que deve converter os outros países para o islamismo, isto é uma posição muito mais estranha para estes países, através de grupos de terroristas fabricados pelo ocidente, sobretudo pelos Estados Unidos, pela França e pela Inglaterra que combateram Mohamar Kadafi em 2011 e as duas organizações, Al-Qaeda e o Estado Islâmico, que são uma fabricação dos Estados Unidos, apadrinhados pela Arábia Saudita e Qatar. Atendendo todo este contexto, os países decidiram sair e a CEDEAO, que estava a preparar-se para receber instruções dos seus pares para condenar”, sublinhou.

O Professor Universitário e Especialista em Segurança e Relações Internacionais afirmou que a decisão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) de instaurar um Tribunal Especial para julgar os alegados crimes do antigo Presidente da República da Gâmbia, Yahya Jammeh, durante 22 anos de mandato tem conotações políticas.

Lembrou que não é a primeira vez que o atual regime da Gâmbia pede à CEDEAO para instaurar um Tribunal Especial e o primeiro pedido foi recusado pela organização com alegações de que o governo gambiano não teria mecanismos para resolver aquela situação e no segundo momento, a CEDEAO decidiu instaurar um Tribunal Especial para julgar o regime de Yahya Jammeh, que dirigiu o país por 22 anos, porque” o atual Presidente da República, Adama Barrow, está a tentar candidatar-se para um terceiro mandato e a mensagem de trazer Yahya Jammeh para julgar no seu país, Gâmbia, foi uma promessa durante a campanha eleitoral, tanto no primeiro mandato como no segundo.

Abdu Jarju disse que o atual regime em Banjul viu a instauração do Tribunal Especial para o julgamento do antigo Presidente como uma vitória política para resolver a questão interna. Sublinhou que ninguém se congratulou com essa decisão, sobretudo quando o indivíduo é um democrata e não se coaduna com a injustiça e a impunidade, por isso “posso concordar para colocar as responsabilidades em todos os alegados crimes que foram cometidos durante 22 anos, porque “um país sem justiça não pode ser credível e estável, sendo que uma sociedade que vive na injustiça não pode ter o sossego”.

“Quero alertar a este tribunal que o julgamento do regime de Yahya Jammeh não será um exercício fácil, porque até ao momento o antigo chefe de Estado continua a ter influência e o seu partido está dividido em duas partes e a maioria está com ele. Outra coisa é que julgar o regime não se trata apenas de Yahya Jammeh, mas incluirá outros indivíduos com posições e influências, de maneira que é preciso esperar para ver se vai acontecer. Contudo, não será um processo fácil, sobretudo quando o julgamento é feito em território gambiano. Outro aspeto, é que a Guiné-Equatorial onde se encontra o Presidente Jammeh é um país cuja constituição não admite a extradição das pessoas exiladas. Assim será que Yahya Jammeh vai ser mesmo julgado à distância ou presencialmente? Vamos esperar para ver o que vai acontecer”, sublinhou.

Por: Aguinaldo Ampa
Conosaba/odemocratagb.

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