Universidade Paris Sorbonne organizou no dia 21 de Novembro um colóquio em homenagem ao centenário do nascimento de Amílcar Cabral. © RFI/Lígia Anjos
Este ano marca o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, celebrado mundialmente com eventos que destacaram o seu papel como líder revolucionário e visionário africano. Ao longo do ano de 2024, houve conferências internacionais, exposições, publicações em Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, Brasil, Estados Unidos ou ainda em França. A Universidade Paris Sorbonne organizou um colóquio que juntou intelectuais que refelctiram sobre o legado de Amílcar Cabral.
A Universidade Paris Sorbonne organizou no dia 21 de Novembro um colóquio em homenagem ao centenário do nascimento de Amílcar Cabral, líder revolucionário e pensador fundamental na luta pela independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau. O colóquio juntou intelectuais que refelctiram sobre o legado de Amíilcar Cabral.
A professora de filosofia, Luísa Semedo, apresentou um texto sobre "a herança de Amílcar Cabral na luta afro queer: descolonização, identidade e resistência”. A docente destacou a importância do pensamento de Cabral na luta afro queer, lembrando que a filosofia de Cabral ainda inspira movimentos contemporâneos ao promover uma luta pela humanidade e pela desconstrução de preconceitos de gênero.
A questão afro queer junta vários tipos de opressão. É uma espécie de interseccionalidade e, portanto, uma pessoa afro quer, ou seja, uma pessoa que é queer e que tem origem africana, ou está no continente africano ou faz parte da diáspora afro descendente, acaba por criar uma só identidade que é complexa e que não é só uma justaposição de opressões ou de identidades, cria uma nova identidade.
Ele conseguiu juntar activismo e pensamento. A luta não era só uma luta contextual, não era só uma pessoa que ali estava e de repente foi obrigada a ir para a luta. Fazia parte da forma como ele via o mundo e da forma como ele achava que devia agir no mundo.
Djamila Cabral, filha de Luís Cabral e sobrinha de Amílcar Cabral, apresentou a reedição do livro "Luís Cabral, Crónica da Libertação, 2024", obra escrita pelo pai em 1980. A reedição pretende ressaltar a relevância e actualidade do relato sobre a luta pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Djamila Cabral partilha lembranças do tio, Amílcar Cabral, uma pessoa que conseguiu reunir pessoas de diferentes origens na luta pela independência. Para Djamila Cabral, a principal lição de Amílcar Cabral é a importância de procurar objectivos comuns em vez de interesses pessoais, uma mensagem que continua a ser crucial para os desafios existentes no continente africano.
A reedição deste livro foi motivada pela relevância e pela actualidade da obra, escrita pelo meu pai enquanto estava preso na década de 1980, e pela necessidade de divulgar mais amplamente a luta pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Como é que ele conseguiu fazer com que gente de todos os horizontes, dos mais diversos e mais contrários, pudessem abraçar uma causa. Para mim, está ali o fundamental... Precisamos ter uma causa, precisamos ter um objetivo comum.
O escritor cabo-verdiano Filinto Silva apresentou um texto sobre o "centenário global com o signo do futuro", saudando a iniciativa da UNESCO em ter criado no calendário 2024 o dia Amílcar Cabral, para uma comemoração mundial. Filinto Silva comparou Amílcar Cabral a pensadores como Edgar Morin.
O mote foi dado pela própria UNESCO, que não só aceitou a candidatura dos seus escritos ao programa Memória do Mundo, mas criou no calendário, em 2024, o dia Amílcar Cabral para uma comemoração mundial. Todo o legado estudado sobre Amílcar Cabral mostra que há uma futuridade no pensamento e na obra de Amílcar Cabral.
Amílcar Cabral fez uma luta, uma guerra que, paradoxalmente, foi uma guerra libertadora, uma guerra poética, uma guerra utópica que permitia não só ao combater o exército colonial português. Ele tinha uma visão emancipadora para o inimigo. Ele diz: 'Essa luta vai permitir-nos libertar rumo à independência, mas vai permitir uma tomada de consciência do outro lado da trincheira para que se liberte do próprio colonialismo e do fascismo.
A antiga ministra francesa Elisabeth Moreno descreveu "Cabral e as diásporas", lembrando que Amílcar Cabral não é apenas uma figura central para a história africana, mas também para a diáspora africana, estabelecendo ligações essenciais entre as comunidades.
As diásporas existem hoje graças ao trabalho e da libertação do Cabral por causa da ideia de que nós também temos capacidade de pensar o nosso futuro, de ter uma visão de onde queremos ir. Se hoje a diáspora está livre e pode viver onde quer e fazer o que quer, é por causa de pessoas como Cabral que deram sua vida para que nós tentamos de ver o que podemos fazer com a nossa liberdade.
Cabral era um visionário que sabia que ninguém pode realmente ganhar as batalhas com armas, mas com ideias.
Este ano ficou marcado pelo centenário de Amílcar Cabral, celebrado mundialmente com eventos que destacaram o papel de Carbal como líder revolucionário e visionário africano. Ao longo do ano, houve conferências internacionais, exposições e publicações em países como Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, Brasil, Estados Unidos ou ainda aqui em França. As celebrações reuniram académicos, artistas e activistas para reflectirem sobre seu legado político, cultural e sua luta pela liberdade. As iniciativas revelaram a importância global de Cabral como símbolo de resistência, justiça social e unidade africana.
Por: Lígia ANJOS
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