terça-feira, 30 de maio de 2023

Coordenador do MADEM: “VAMOS REFORMAR O NOSSO SISTEMA DE ENSINO E REVOLUCIONAR A NOSSA AGRICULTURA”

[Campanha eleitoral_ENTREVISTA] O Coordenador Nacional do Movimento para a Alternância Democrática – Grupo15 (MADEM-G15), Braima Camará, afirmou que o seu partido está em condições de revolucionar o setor de agricultura, mas garantiu que primeiramente, o seu governo vai revolucionar o sistema de ensino guineense, desde o currículo, a construção de polos universitários bem como investimentos pesados noutras áreas do mesmo setor.

“Vamos mecanizar a nossa agricultura e não é preciso nada de outro mundo. Temos solo fértil e temos água em abundância, portanto, resta-nos investir pesado nas máquinas e preparar os recursos humanos para cultivar a terra. Vamos ter a nossa auto suficiência alimentar muito rapidamente e ser um país que vai contribuir de certa maneira para que o mundo possa ter aqui um outro celeiro. O nosso país está em condição de ser o celeiro em África, porque é que vamos depender da Ucrânia?”, disse.

Camará, que também é cabeça de lista do MADEM-G 15 para o cargo do primeiro-ministro nas eleições legislativas agendadas para o dia 04 de junho, fez estas afirmações na entrevista ao jornal O Democrata para falar do programa eleitoral do partido, bem como dos setores que constituem as prioridades e das estratégias definidas para relançar os setores da educação, saúde e agricultura.

“A nossa governação será uma governação justa, transparente e equilibrada. Será uma governação de rigor, disciplina e de distribuição equitativa dos recursos que vamos arrecadando e, sobretudo, alocar verbas às instituições às quais entendemos serem merecedoras de apoios. É uma questão de ter a idoneidade e coragem de decidir e fazer justiça, vamos tentar imprimir uma nova dinâmica e isto inclui a nossa visão estratégica de imprimir reformas, porque eu sei que há muita gente que não está cá neste momento e que não está a trabalhar, mas recebem salários” assegurou, defendendo que é preciso realmente avançar com a reforma na função pública, de formas a dinamizá-la.

O Democrata leva a cabo uma iniciativa de entrevista exclusiva com os cabeça de lista dos principais partidos para o cargo de primeiro-ministro.

O Democrata (OD): A Guiné-Bissau carece de tudo, razão pela qual é considerado que tudo é prioridade. Fala-nos de forma sintética do programa eleitoral do Movimento para a Alternância Democrática (MADEM), sobretudo das áreas prioritárias que merecerão uma atenção especial…

Braima Camará (BC): A nossa primeira prioridade é a consolidação da paz e a estabilidade para permitir que o MADEM consiga implementar o seu programa de desenvolvimento da Guiné-Bissau.

Para isso é preciso que os eleitores votem massivamente e de forma clara no MADEM, o que permitirá que o nosso partido governe num clima de estabilidade. É bom dizer que as prioridades são praticamente todas as áreas neste país, mas sendo um partido organizado conseguimos produzir um programa no qual estão claramente definidos, através dos seus eixos, que a nossa primeira prioridade será efetivamente a reforma no setor da educação.

Temos que criar as condições para consolidarmos o trabalho que o nosso Presidente da República, General Umaro Sissoco Embaló, já começou desde as infraestruturas escolares, a começar pelo nosso liceu de referência, Liceu Nacional Kwame Nkrumah. Depois da educação, vem o setor da saúde que para nós, também precisa de uma reforma profunda.

Ainda temos o setor de agricultura como outra prioridade no nosso programa eleitoral que vamos transformar no programa de governação. Nós temos um país muito fértil, solo e água em abundância É preciso mecanizar a nossa agricultura, ou seja, devemos cultivar a terra para criarmos a nossa própria auto suficiência alimentar.

Não se compreende o porquê de um país que há 60 anos, com menos de 500 mil habitantes, era um dos exportadores de arroz. Hoje tem dois milhões de habitantes, está a importar quase 150 mil toneladas de arroz. Isso demonstra que há falta de visão política pública para este setor estratégico para a vida do nosso país.

As infraestruturas merecerão uma atenção especial no nosso governo. É preciso termos pontes, estradas e barragens para que possamos ligar o nosso país, desde a parte insular até continente. Devemos traduzir tudo isso numa realidade para o bem-estar do povo guineense, porque o nosso país não é pobre.

Os setores da defesa, segurança e da justiça constituirão igualmente uma das prioridades, aliás, todos os setores são prioridades, por isso é preciso uma liderança forte, idônea e não comprometida com quaisquer estratégias externas e o único partido que reúne essas condições é o MADEM, através da minha pessoa.

Está aqui uma oportunidade única para a Guiné-Bissau, temos um Chefe de Estado com boas relações que requerem um governo dirigido por um primeiro-ministro disponível e com capacidade de diálogo, de tolerância e compreensão bem como que conseguirá coabitar com o Presidente da República.

A nossa Constituição define isso claramente. Quem nomeia é o Presidente da República, os partidos propõem e quem nomeia é o Chefe De Estado. O único partido que conseguirá entender-se com o Presidente da República e trabalhar no desenvolvimento do país é o MADEM.

OD: Regista-se neste momento o aumento do preço de produtos da primeira necessidade no mercado associado à campanha de comercialização da castanha de cajú que está aquém das expectativas. Que estratégias vai adotar a curto prazo para contrariar essa realidade, se vencer o escrutínio de 04 de junho?

BC: Já estamos a trabalhar nisso. Quem me conhece sabe que a minha vida tem sido de pragmatismo. Sou empreendedor e empresário que já deu provas no setor privado, portanto é bom dizer que os problemas existentes neste momento em termos da subida dos preços são problemas globais e não têm nada a ver com a Guiné-Bissau.

São vicissitudes de um conjunto de problemas que assolam o mundo. Foi a pandemia do coronavírus (Covid-19) e mal saímos do coronavírus surgiu o conflito que opõe um dos celeiros mais importantes do mundo, a Rússia e a Ucrânia. Isso teve impacto negativo em todo o mundo não só na Guiné-Bissau, até porque na Guiné-Bissau os preços sofreram um aumento muito ténue.

Trabalhamos com a União Económica Monetária Oeste Africana (UEMOA) e conseguimos identificar os montantes de verbas que vamos colocar a disposição do nosso governo, no âmbito do nosso programa eleitoral que será transformado no programa de governação.

Dentro desse programa de governação vamos extrair 15 primeiras medidas que vão resolver os problemas da instabilidade do mercado, dos produtos e da castanha de cajú.

Nós temos estratégias e soluções para os problemas que o país enfrenta neste momento. Os montantes das verbas já estão identificados é só dar o salto formal de ganhar as eleições através da votação massiva do povo que nós esperamos para que possamos resolver os desafios neste momento.

OD: A agricultura é considerada como a base econômica do país. De várias décadas para cá, nenhum governo conseguiu apresentar uma solução e progressos neste setor. Que fórmulas o seu governo vai apresentar aos guineenses para revolucionar este setor, à semelhança do Senegal, onde foram feitos grandes investimentos e hoje são produzidos milhões de toneladas de arroz, mancara, feijão e milho?

BC: Nós estamos em condições de revolucionar a agricultura, mas a primeira revolução vai ser no sistema educativo. Temos que investir fortemente na educação através da construção de polos universitários para a formação técnicos profissionais de entre os nossos jovens, porque defendemos a formação da juventude para ela estar à altura de responder aos desafios.

Não faz sentido trazer tecnologia de ponta e não ter recursos humanos qualificados para traduzir em ganhos reais as oportunidades e as vantagens que aquelas máquinas oferecem. Foi por isso que a prioridade das prioridades é trabalhar na capacitação do homem guineense.

Vamos mecanizar a nossa agricultura e não é preciso nada de outro mundo. Temos solo fértil e temos água em abundância.Portanto, resta-nos investir pesado nas máquinas e preparar os recursos humanos para cultivar a terra. Vamos ter a nossa auto suficiência alimentar muito rapidamente e sermos um país que vai contribuir de para que o mundo possa ter aqui um outro celeiro. O nosso país está em condições de ser umceleiro em África, porque é que vamos depender da Ucrânia?

Se a Guiné-Bissau é um país com solo que permite o cultivo de arroz, batata doce, mancara, feijão, banana, frutas… como é que a Guiné-Bissau vai importar do Brasil o sumo de cajú, de manga a partir de Portugal e pagar impostos. Isso é ofensa para nós e com o nosso governo, isso não vai acontecer, porque já dei provas disso e criei fundo soberano aqui na Guiné-Bissau.

O famoso FUNPI de que ouvem falar era exatamente a minha estratégia para termos financiamento interno que poderia permitir um investimento nos setores produtivos ou setores do crescimento económico e isso só se pode fazer com investimento a médio e ao longo prazo, porque só com a indústria que se desenvolve o país e não apenas com o comércio. Eu sou o único candidato dotado de experiência privada neste aspecto com vantagem de ter trabalhado com vários chefes de Estado que me deram um certo conhecimento sobre os reais problemas que afetam o Estado, apesar de não ter exercido funções do cargo governamental.

OD: Que mecanismos usarão para negociar com os sindicatos do setor da Educação, para responder às suas reivindicações e relançar o setor para atingir o nível da sub-região?

BC: Os problemas existem na verdade, mas oferecemos a nossa disponibilidade para o diálogo para que possamos encontrar uma solução. Tenho total disponibilidade para diagnosticarmos em conjunto de problemas e buscarmos grandes consensos.

Os sindicalistas são guineenses, por isso o país contará com tudo e todos para a sua estabilização política e governativa. Temos em agenda um conjunto de cidadãos que eram quadros e que tinham emprego no sistema de saúde e de repente estão fora do sistema, portanto é um conjuntos de desafios e problemas que vamos herdar e esses problemas resolvem-se com diálogo. A nossa governação será uma governação inclusiva em que vamos chamar toda a gente à volta de uma mesa. O pior é que quando o governo quer diálogo e, eu sou conhecido como homem do diálogo e não tenho dificuldades de contornar as situações complicadas…

OD: O setor de saúde é considerado o mais agitante por carecer de tudo, desde pessoal qualificado, infraestruturas hospitalares e equipamentos. O vosso programa prevê uma melhoria de condições de trabalho, quais são as estratégias que usaram para, desta vez, entenderem-se com um setor sindical exigente, depois seguir para a resolução dos problemas que o setor enfrenta?

BC: É justo dizer que o governo do General Umaro Sissoco Embaló tem feito os trabalhos que mais nenhum governo fez na sua história. Porque é que vocês não realçam isso, porque é que não falam da evolução que houve no hospital nacional Simão Mendes. Hoje em dia o tratamento, primeiro socorro é gratuito, medicamento é gratuito e o pequeno almoço e jantar ninguém paga.

O hospital tem a sua independência hoje em termos da produção do oxigénio. Quantas vidas foram ceifadas aqui por falta de oxigênio e hoje estamos a produzir com capacidade de auto suficiência e até oferecer aos outros países.

OD: A massa salarial situa-se na ordem de seis bilhões de FCFA, o que causa uma dor de cabeça ao tesouro público, em caso de vitória nas eleições, como pensa resolver essa situação?

BC: A nossa governação será uma governação justa, transparente e equilibrada. Será uma governação de rigor, disciplina e de distribuição equitativa dos recursos que vamos arrecadando e, sobretudo, alocar as verbas às instituições as quais cumprem e fazem justiça. É uma questão de serem idóneas e terem a coragem de decidir e fazer justiça. Vamos tentar imprimir uma nova dinâmica e isso inclui a nossa visão estratégica de imprimir reformas, porque eu sei que há muita gente que não está cá neste momento que não está a trabalhar, mas recebe salários.

É preciso realmente uma reforma que seja a nossa prioridade também. Vamos ter a coragem de pôr o dedo na ferida. Quem trabalha merece receber e quem não trabalha não é justo que receba…

OD: Em caso de vitória com maioria absoluta, o MADEM estará disponível a trabalhar com as outras formações políticas?

BC: Eu sempre digo que mesmo que ganhemos com 102 deputados, estamos a contar com todas as competências guineenses. O MADEM é um partido do povo, justo e que quer a paz e estabilidade. A paz e a estabilidade não se fazem com exclusões.

Nós vamos contar com todos os partidos e independentes, porque vamos colocar homens certos nos lugares certos e vamos fazer uma distribuição equitativa das oportunidades na base da justiça, da honestidade e coerência.

Vamos combater a corrupção, o clientelismo e o nepotismo. Vamos adotar o princípio de tolerância zero à corrupção e ao nepotismo, portanto se o M’Bana é competente e estiver na China, vamos buscá-lo para vir dar a sua contribuição. A Guiné-Bissau só se pacificará e se desenvolverá contando com todos os guineenses.

OD: A declaração de bens e o monitoramento de boas práticas aos dirigentes de Estado será uma realidade no governo e sob que forma?

BC: Defendo sempre que a minha governação será uma governação de mãos limpas, não gostaria que toda a gente soubesse o que eu conquistei na minha vida, mas infelizmente por ter enveredado por esta via pública, eu digo às pessoas que a minha vida é um livro aberto.

Eu vou colocar a disposição da imprensa os meus bens. O que eu tenho ou fui construindo desde que a Guiné-Bissau: Geba, Bafatá, Bissau, Farim, Tombali e Canchungo.

Vou dizer ainda ao povo guineense o que eu tenho no Senegal, em Portugal e na França. O povo guineense sabe perfeitamente que eu fui o maior e melhor exportador da castanha de cajú de todos os tempos há 20 anos. Eu não tenho nada a esconder…

Por: Assana Sambú
Foto: Marcelo Na Ritche
Conosaba/odemocratagb

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