quinta-feira, 11 de julho de 2019

"ADESÃO DA GUINÉ-BISSAU A ZONA DE LIVRE COMÉRCIO AFRICANA!" - MESTRE: ALIU SOARES CASSAMA

No dia 7 de julho do corrente ano, decorreu em Niamey, no Níger, a cimeira sobre a zona de livre comércio no continente Africano onde a Guiné-Bissau participou ao mais alto nível através da presença do Presidente da República cessante, Sua Excelência o Sr. Dr. José Mário Vaz. O acordo estabelece um enquadramento para a liberalização de serviços e mercadorias e tem como objetivo eliminar as tarifas aduaneiras em 90 por cento.

O Presidente da Comissão Executiva da organização continental disse que se trata de um “dia histórico” cuja materialização dos compromissos assumidos visa integrar 55 Estados membros e reagrupar as diferentes zonas económicas.

Mas afinal, o que é uma Zona de Livre Comércio? De acordo com a teoria económica, serve para estimular ganhos de produtividade na estrutura produtiva nacional através de uma maior exposição das economias à concorrência externa.

O discurso sobre a integração económica inter-africana não é novo. O que é novidade agora parece ser o interesse e a determinação da nova classe de dirigentes africanos em dar passos significativos, procurando agir e ir além dos bonitos discursos, uma vez que África continua a representar 50% das trocas comerciais internacionais.

O fundamento da Zona de livre Comércio Africana é que a integração económica regional pode melhorar o posicionamento de África entre os diferentes “players” da economia mundial, rompendo as barreiras que inibem a eficiência e restringem o crescimento económico.

O mais grave ainda neste cenário é o facto do comércio inter-africano representar apenas 20 por cento quando comparado com as realidades europeia e asiática que se situam, respetivamente, em 70 e 50 por cento.

Voltando a casa, a primeira coisa que temos que fazer é reativar o sector privado valorizando a produção local que passa necessariamente pela estruturação da nossa economia num cômputo geral, assim como as nossas empresas cujos produtos não conseguem muitas vezes penetrar ou competir noutros mercados por várias razões como o protecionismo ou as insuficiências tecnológicas. As empresas terão agora mercado para vender e escoar os produtos, ou seja, não estão limitadas pura e simplesmente aos mercados do Senegal, Guiné-Conakry ou da Gâmbia. Entretanto, poderão produzir-se também desvantagens significativas na nossa economia por causa dos fortes desequilíbrios macroeconómicos e do ambiente de negócios que inibe a iniciativa privada e a concorrência perfeita.

Devemos, com toda a humildade, assumir que somos um mercado essencialmente consumidor de produtos importados, incluindo os que constituem a cesta básica, e ainda não estamos perto de dispor de um tecido industrial, no sector da alimentação e da agro-indústria, que disponha de robustez suficiente para competir com muitos dos países que integram esses blocos económicos.

Esta adesão irá encorajar a Guiné a promover a competitividade e a produtividade das indústrias, resultando numa maior eficiência das empresas e de  cada setor económico.

Ora, não devemos pensar que a Zona do Livre Comércio irá resolver todos os nossos problemas. Esta só irá aumentar a pressão por uma verdadeira melhoria do ambiente de negócios para que o país possa captar mais investimento direto estrangeiro fora das commodities (principalmente castanha de caju no nosso caso). Uma outra questão importante com a qual nos vamos confrontar tem que ver com as infraestruturas e, neste capítulo, a Guiné-Bissau é um dos países que poderá ter mais dificuldades em aumentar a sua produção, abastecer-se e competir na busca dos outros mercados.

Um país é considerado profundamente integrado quando atinge valores acima da média em três das cinco dimensões da integração económica em África, a saber: Integração do comércio; integração da produtividade; integração das infraestruturas; liberdade de circulação das pessoas; e integração macroeconómica e financeira, facto que poderá justificar a não plena adesão da Guiné-Bissau.

Um dos países que assinou o acordo juntamente  connosco em Niamey foi a Nigéria. Os empresários deste país anglófono encontram suporte intelectual no prémio Nobel da Economia de 2008, Paul Krugman, que disse perante a classe empresarial Nigeriana que “muita gente pensa que o comércio internacional é bom. Claramente que não. A análise económica convencional determina que às vezes vários sectores saem perdedores com o comércio livre”.

O mercado Africano é formado por 54 dos 55 países (a Eritreia não assinou o acordo) e envolve cerca de 1,2 mil milhões de pessoas para um PIB acumulado de mais de 2,5 triliões de dólares.

Deixo um recado aos nossos dirigentes: Se a Guiné-Bissau quiser continuar a beneficiar das vantagens da Zona livre de comércio Africana, deverá urgentemente adotar medidas que induzam transformações na estrutura produtiva com enfâse para o sector agrícola e a indústria transformadora, maior eficiência dos gastos e investimentos públicos e privados.

O PIB continental (mais de 50 por cento) encontra-se (exageradamente) concentrado em 3 países (Nigéria, África do Sul e Egipto). Para além disso, a indústria transformadora tem uma contribuição marginal (cerca de 10 por cento).

Apenas uma contribuição!

Mestre Aliu Soares Cassamá

Sem comentários:

Enviar um comentário