O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Nuno Nabiam, disse hoje que o país está a preparar-se para "os piores efeitos da pandemia" e que precisa de apoio no setor da saúde, mas também para as consequências económicas.
Em entrevista à Lusa, Nuno Nabiam afirmou que a pandemia do novo coronavírus vai ter na Guiné-Bissau um custo económico “pesado e duradouro”, que vai ameaçar o “progresso” e ampliar as desigualdades.
“Estamo-nos a preparar para os piores efeitos desta pandemia, mas precisamos de apoio na preparação para a crise de saúde e para as consequências económicas”, sublinhou.
Questionado pela Lusa sobre os laços do seu Governo com os principais parceiros internacionais, o primeiro-ministro guineense disse estar “focado em aprimorar as relações” e que atinjam o “ponto ótimo”.
“Herdei o Governo e deparei-me com a situação dos cofres do Estado depauperados pelo meu antecessor, portanto face a estas emergências latentes era crucial o apoio e amparo dos parceiros internacionais”, disse Nuno Nabian.
Nuno Nabian foi nomeado primeiro-ministro pelo Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, que demitiu o Governo de Aristides Gomes, que saiu das legislativas de março de 2019.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, que tem mediado a crise política no país, tinha dado até 22 de maio para ser formado um Governo, que respeitasse os resultados das eleições legislativas.
O parlamento da Guiné-Bissau, de onde emana o Governo, está dividido em dois blocos e ambos reclamam ter a maioria para governar.
Contudo, o Presidente guineense decidiu dar um prazo até 18 de junho para que o impasse político seja resolvido no parlamento.
Segundo o primeiro-ministro guineense, no início do seu mandato sentiu um “ligeiro constrangimento da comunidade internacional”, talvez devido à “desconfiança”.
Esse é um “facto que estamos gradualmente a superar graças à nossa forma de dirigir assente numa estratégia muito simples: gestão transparente e prestação de contas”, afirmou.
Nuno Nabian afirmou também que gestão da pandemia do novo coronavírus foi gerida no “início apenas com meios e dinheiros do Estado”.
O que, disse, terá “despertado na comunidade internacional a confiança que necessitavam”.
“Hoje, o quadro que temos tanto a nível bilateral como multilateral é bem diferente de há dois meses, ou seja, efetivamente temos recebido apoio de alguns parceiros como o Banco Mundial por exemplo”, salientou.
O primeiro-ministro guineense disse também que recebeu sem surpresa o relatório do Programa da ONU para o Desenvolvimento sobre o impacto sócioeconómico da pandemia no país e que avisa para a possibilidade de um aumento da pobreza e do colapso do sistema de saúde.
“Era previsível que o impacto da pandemia seria devastador a nível social e económico”, afirmou.
Segundo o chefe do Governo, feito um esforço “incomensurável e apenas com recursos internos” para combater a pandemia e garantir a segurança alimentar.
“Adquirimos e estamos a distribuir a toda a nossa população, mais de 25 mil toneladas de arroz e 10 mil toneladas de açúcar. Esse esforço colossal representa para o Governo a certeza de que nenhum guineense irá passar fome ou deixará de ter uma alimentação adequada por força dos danos colaterais da pandemia”, sublinhou.
Nuno Nabian disse também que estão a ser avaliadas medidas e ações a serem implementadas para “recuperar as finanças públicas, apoios e incentivos as empresas como forma de salvaguardar empregos e rendimentos” e recordou que o Estado já emprestou dinheiro aos bancos para capitalizar os operadores nacionais da campanha de caju.
A Guiné-Bissau regista quase 1.400 casos acumulados de covid-19 e 12 vítimas mortais, sendo o terceiro país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa com mais casos do novo coronavírus, a seguir ao Brasil e a Portugal.
Em África, há 5.678 mortos confirmados e mais de 209 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a seguir à Guiné-Bissau está a Guiné Equatorial (1.306 casos e 12 mortos), que não atualiza os dados há quase duas semanas, Cabo Verde (616 casos e cinco mortes), São Tomé e Príncipe (632 casos e 12 mortos), Moçambique (472 casos e dois mortos) e Angola (113 infetados e quatro mortos).
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de infetados (mais de 772 mil, atrás dos Estados Unidos) e o terceiro de mortos (39.680, depois de Estados Unidos e Reino Unido).
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 416 mil mortos e infetou mais de 7,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.
Conosaba/Lusa
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