Em 25 de março do ano em curso, a Guiné-Bissau confirmou os dois primeiros
casos do COVID-19 que ocasionou o estado de emergência desde 28 de março de
2020 tendo em conta o aumento de casos do Covid-19, o estado de emergência
continua a ser prologado no país.
Com isso, o país está a
cominho de registrar péssima campanha de produção agrícola do seu principal
produto alimentício, o arroz. É de salientar que este produto é fundamental
para a população da Guiné-Bissau na autossuficiência e nas trocas locais, quase
nada no que refere a exportação.
Desse
modo, o presente texto pretende elaborar uma breve análise sobre a produção de
(arroz) que já está a vista. No percurso da minha
pesquisa de Bacharelado em Humanidades na UNILAB fiz algumas reflexões através
de debates dos especialistas que pesquisam esta temática, baseando, inclusive,
na minha própria experiência vivenciada sobre esta realidade produtiva do país.
A pesquisa realizada e a
minha inserção levaram-me a pensar que tem a necessidade maior de traçar um
plano sólido para não desperdiçar tudo no que diz respeito ao aproveitamento
nesta área agrícola, pois corresponde a uma região carente de recursos e não
corresponde com uma produção a altura da necessidade da população, por várias
questões, pode-se apontar a dependência em termos da chuva, mau estado dos
diques, entre outras coisas.
Cultivo
do Arroz
O trabalho com o cereal
decorre sempre, em forma de intercâmbio entre familiares e amigos. É importante
lembrar que esta aliança de solidariedade e interajuda pode ser feita por
regiões e setores distantes ou próximos dependendo de relações efetivas.
O arroz é essencial na sociedade guineense, embora a produção seja centralizada nos produtores
rurais com métodos ainda arcaicos, sublinha-se que este trabalho exige muito
esforço físico. É bom recordar que mesmo com as dificuldades que camponeses
enfrentam durante a produção de arroz, sempre na época chuvosa o foco e
correria deles estão voltados neste setor para garantir autossuficiência da produção
de arroz na sociedade na qual estão inseridos.
Para Carney (2001), a cultura de arroz é
essencial para a identidade cultural de grande parte da África Ocidental. Em
grupos étnicos esse cereal constitui o alimento básico de uma família, uma
refeição inclui arroz ao dia, e caso não inclua, considera-se que a pessoa não
comeu. A sua importância é também evidente em celebrações das aldeias, como em cerimonias
funerais de alguns grupos, durante os quais se fazem oferendas do arroz aos
espíritos dos mortos (CARNEY, 2001).
Isso
não foge a nossa realidade na Guiné-Bissau, o arroz é alimento, mas também
produto econômico, ritualístico e religioso. Deve ser por isso que grande
número de famílias tradicionais guineenses são agricultores, a produção de
orizicultura guineense não suporta a população deste território, ou melhor, dos
próprios camponeses.
Vale ressaltar, que não obstante a produção e
consumo de arroz serem tão relevantes no país, ainda encontramos em toda parte do
território nacional com agricultores e produções muito abaixo do que seria
necessário para a subsistência das famílias. Veja bem, os arrozes que são comercializados
nos mercados da Guiné-Bissau maior parte é de origem importada um fato vergonhoso.
Rendimento produtivo da produção de arroz na
Guiné-Bissau
A produção nacional da Guiné-Bissau é
estimada em 140.000 toneladas de arroz em casca, ou seja, 77.000 toneladas do
arroz branco (após ser descascado) aproveitando um total geral de 113.368 área
de terras (DJATA, MANE, INDI, 2003).
Como ilustrei acima que a tarefa de arroz é
um serviço que obriga aglomerações, por causa da sua natureza arcaica, que continua
a gerar aos lavradores um resultado econômico não satisfatório, porém que eles
consideram há equilíbrio no que produzem,
ajudando no consumo de seus familiares por um bom tempo. Na verdade, este
rendimento varia dependendo da mobilização de força do trabalho laboral de cada
produtor.
Lamentavelmente, hoje estamos num momento tão
delicado no país cercado pela pandemia do covid-19. As minhas preocupações são
com relação às orientações que vão ser providenciadas para salvar as vidas das
pessoas que dependem rigorosamente da orizicultura para sua segurança
alimentar.
Acredito que estratégias devem ser feitas no
sentido de apontar para um trabalho que não crie os riscos de propagações do
vírus, sobretudo nas zonas rurais onde se concentram a produção de cereal e
produtores do território guineense.
Em
conversa telefônica em 17 de maio de 2020, via whatsaap, com o meu tio produtor e residente no interior da
Guiné-Bissau, ele disse que: “estamos prestes a começar o trabalho, resultado da
campanha de caju não é encorajador, estou com medo de não dar certo no cultivo
de cereal”. Perguntei a ele quais métodos que irão usar por questão de covid-19,
e se o estado de emergência prolongar, me respondeu: “os mesmos”. Significa
usar as metodologias costumeiras. As mesmas não obedecem a quarentena, estou aflito
com a forma que será gerida este cultivo que está começando.
Perante esta situação de pandemia, alguns pontos
importantes é o Estado guineense saber reconhecer a sua realidade sociocultural
e econômica para poder prevenir com antecedência, evitando agravamentos de
problemas que o covid-19 nos impulsiona, tais como: grandes números de
contaminações, fome ou de perdas de vidas humanas. Portanto, as medidas devem
ser tomadas pelas autoridades, obedecendo o contexto real do país, para que
tenha eficácia, caso contrário não terá efeito nenhum.
E para concluir
As consequências imediatas do coronavírus num país
estruturalmente carente são muitas, como estamos assistindo o aumento
instantâneo de números de infetados, e agravamento da fome. A Autoridade governamental sem
capacidade suficiente para suportar “os carenciados” neste momento.
Em via de regra, o Estado da Guiné-Bissau deveria criar um
plano consistente que possa reforçar este setor produtivo no país e isso
ajudará não só no melhoramento de condições de vida dos guineenses, mas também no crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) da Guiné, um motivo que deve orgulhar os governantes de proporcionar tal
feito.
Então, a luta no momento deve ser voltada para um trabalho
mais sério para a saúde pública a fim de que não caia no colapso, como também evitar
a alta taxa de fome que “outrora já existiu” e que poderá não estar distante.
Que Deus abençoe a Guiné-Bissau!
Por: Iano Fogna Blata (Bacharel
em humanidades pela Unilab, e licenciando em Ciências sociais pela mesma
Universidade).
Referências
CARNEY,
Judith. Arroz Negro. As
Origens Africanas do Cultivo do Arroz nas Américas. Bissau:
Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas, 2001
O Caju
da Guiné-Bissau. (ánalise da fileira) Draft.Bissau Março de 2004.
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