sábado, 6 de junho de 2020

As consequências da pandemia na produção agrícola de arroz guineense

Em 25 de março do ano em curso, a Guiné-Bissau confirmou os dois primeiros casos do COVID-19 que ocasionou o estado de emergência desde 28 de março de 2020 tendo em conta o aumento de casos do Covid-19, o estado de emergência continua a ser prologado no país.
Com isso, o país está a cominho de registrar péssima campanha de produção agrícola do seu principal produto alimentício, o arroz. É de salientar que este produto é fundamental para a população da Guiné-Bissau na autossuficiência e nas trocas locais, quase nada no que refere a exportação.
Desse modo, o presente texto pretende elaborar uma breve análise sobre a produção de (arroz) que já está a vista. No percurso da minha pesquisa de Bacharelado em Humanidades na UNILAB fiz algumas reflexões através de debates dos especialistas que pesquisam esta temática, baseando, inclusive, na minha própria experiência vivenciada sobre esta realidade produtiva do país.
A pesquisa realizada e a minha inserção levaram-me a pensar que tem a necessidade maior de traçar um plano sólido para não desperdiçar tudo no que diz respeito ao aproveitamento nesta área agrícola, pois corresponde a uma região carente de recursos e não corresponde com uma produção a altura da necessidade da população, por várias questões, pode-se apontar a dependência em termos da chuva, mau estado dos diques, entre outras coisas.
Cultivo do Arroz
O trabalho com o cereal decorre sempre, em forma de intercâmbio entre familiares e amigos. É importante lembrar que esta aliança de solidariedade e interajuda pode ser feita por regiões e setores distantes ou próximos dependendo de relações efetivas.
O arroz é essencial na sociedade guineense, embora a produção seja centralizada nos produtores rurais com métodos ainda arcaicos, sublinha-se que este trabalho exige muito esforço físico. É bom recordar que mesmo com as dificuldades que camponeses enfrentam durante a produção de arroz, sempre na época chuvosa o foco e correria deles estão voltados neste setor para garantir autossuficiência da produção de arroz na sociedade na qual estão inseridos.
Para Carney (2001), a cultura de arroz é essencial para a identidade cultural de grande parte da África Ocidental. Em grupos étnicos esse cereal constitui o alimento básico de uma família, uma refeição inclui arroz ao dia, e caso não inclua, considera-se que a pessoa não comeu. A sua importância é também evidente em celebrações das aldeias, como em cerimonias funerais de alguns grupos, durante os quais se fazem oferendas do arroz aos espíritos dos mortos (CARNEY, 2001).
Isso não foge a nossa realidade na Guiné-Bissau, o arroz é alimento, mas também produto econômico, ritualístico e religioso. Deve ser por isso que grande número de famílias tradicionais guineenses são agricultores, a produção de orizicultura guineense não suporta a população deste território, ou melhor, dos próprios camponeses.
 Vale ressaltar, que não obstante a produção e consumo de arroz serem tão relevantes no país, ainda encontramos em toda parte do território nacional com agricultores e produções muito abaixo do que seria necessário para a subsistência das famílias. Veja bem, os arrozes que são comercializados nos mercados da Guiné-Bissau maior parte é de origem importada um fato vergonhoso.
Rendimento produtivo da produção de arroz na Guiné-Bissau
A produção nacional da Guiné-Bissau é estimada em 140.000 toneladas de arroz em casca, ou seja, 77.000 toneladas do arroz branco (após ser descascado) aproveitando um total geral de 113.368 área de terras (DJATA, MANE, INDI, 2003).
Como ilustrei acima que a tarefa de arroz é um serviço que obriga aglomerações, por causa da sua natureza arcaica, que continua a gerar aos lavradores um resultado econômico não satisfatório, porém que eles consideram há equilíbrio  no que produzem, ajudando no consumo de seus familiares por um bom tempo. Na verdade, este rendimento varia dependendo da mobilização de força do trabalho laboral de cada produtor.
Lamentavelmente, hoje estamos num momento tão delicado no país cercado pela pandemia do covid-19. As minhas preocupações são com relação às orientações que vão ser providenciadas para salvar as vidas das pessoas que dependem rigorosamente da orizicultura para sua segurança alimentar.
Acredito que estratégias devem ser feitas no sentido de apontar para um trabalho que não crie os riscos de propagações do vírus, sobretudo nas zonas rurais onde se concentram a produção de cereal e produtores do território guineense.
            Em conversa telefônica em 17 de maio de 2020, via whatsaap, com o meu tio produtor e residente no interior da Guiné-Bissau, ele disse que: “estamos prestes a começar o trabalho, resultado da campanha de caju não é encorajador, estou com medo de não dar certo no cultivo de cereal”. Perguntei a ele quais métodos que irão usar por questão de covid-19, e se o estado de emergência prolongar, me respondeu: “os mesmos”. Significa usar as metodologias costumeiras. As mesmas não obedecem a quarentena, estou aflito com a forma que será gerida este cultivo que está começando.
Perante esta situação de pandemia, alguns pontos importantes é o Estado guineense saber reconhecer a sua realidade sociocultural e econômica para poder prevenir com antecedência, evitando agravamentos de problemas que o covid-19 nos impulsiona, tais como: grandes números de contaminações, fome ou de perdas de vidas humanas. Portanto, as medidas devem ser tomadas pelas autoridades, obedecendo o contexto real do país, para que tenha eficácia, caso contrário não terá efeito nenhum.
E para concluir
As consequências imediatas do coronavírus num país estruturalmente carente são muitas, como estamos assistindo o aumento instantâneo de números de infetados, e agravamento da fome. A Autoridade governamental sem capacidade suficiente para suportar “os carenciados” neste momento.
 Em via de regra,  o Estado da Guiné-Bissau deveria criar um plano consistente que possa reforçar este setor produtivo no país e isso ajudará não só no melhoramento de condições de vida dos guineenses, mas também no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Guiné, um motivo que deve orgulhar os governantes de proporcionar tal feito.
            Então, a luta no momento deve ser voltada para um trabalho mais sério para a saúde pública a fim de que não caia no colapso, como também evitar a alta taxa de fome que “outrora já existiu” e que poderá não estar distante.
Que Deus abençoe a Guiné-Bissau!
Por: Iano Fogna Blata (Bacharel em humanidades pela Unilab, e licenciando em Ciências sociais pela mesma Universidade).
Referências
CARNEY, Judith. Arroz NegroAs Origens Africanas do Cultivo do Arroz nas Américas. Bissau: Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas, 2001

O Caju da Guiné-Bissau. (ánalise da fileira) Draft.Bissau Março de 2004.

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