Uma ordem presidencial para parar a construção de uma central termoelétrica numa zona protegida da Guiné-Bissau não está a ser cumprida, disseram à Lusa organizações de defesa do ambiente.
Alfredo da Silva, diretor do Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) e Miguel de Barros, secretário-executivo da associação Tiniguena, referiram que a ordem de José Mário Vaz foi dada há uma semana, mas ainda não foi cumprida.
De acordo Alfredo da Silva, o chefe do Estado guineense mandou para o Parque Natural das Lagoas de Cufada, no sul do país, uma delegação multidisciplinar para proceder ao levantamento do projeto, "mas a população, instrumentalizada," não o permitiu.
A comissão tinha como missão constatar o que já foi feito em termos da construção e propor uma solução para uma eventual mudança do projeto, para outro local, fora do parque das Lagoas de Cufada.
Considerada pelos ambientalistas a maior reserva de água doce da Guiné-Bissau, local de repouso de aves e zona estratégica de pesca, principal meio de subsistência da população do sul do país, o parque abrange uma área em redor das lagoas protegida por lei.
O governo autorizou que uma empresa indiana construa no local uma central termoelétrica que irá abastecer o sul da Guiné-Bissau com geradores alimentados a gasóleo, facto criticado pelos ambientalistas.
Segundo o ministro da Energia, Florentino Pereira, deslocalizar o projeto do parque para outro local ou parar as obras neste momento traria "custos incalculáveis" que o governo não poderá suportar.
O projeto da construção da central está orçado em 18,7 milhões de euros e os ambientalistas acreditam que nem foram realizados 10% da obra projetada, pelo que defendem que é possível parar e mudar do local a futura central.
O director do IBAP, que denunciou ameaças da população em destruir as viaturas em que os técnicos se faziam transportar e ainda espancá-los, adiantou que os populares de Buba foram instrumentalizados "por alguém" e agora acreditam que os ambientalistas não querem que a central seja construída no local.
"A população foi levada a acreditar que nós queremos que a central seja agora instalada na região de Bafatá, no leste, em detrimento da população da zona sul, o que é falso", enfatizou Miguel de Barros, que não só não compreende o posicionamento da população como o facto de a ordem do chefe de Estado ter sido ignorada.
Os ambientalistas aplaudem a intenção do Presidente guineense em querer que se parem com as obras da construção da central, mas afirmam ser preciso "fazer mais", caso contrário, admitem avançar para os tribunais nacionais e internacionais pedindo a responsabilização do Estado e dos autores do projeto.
Conosaba/Lusa
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