quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

«OPINIÃO» "GUINÉ-BISSAU: POR UMA NOVA FASE POLÍTICA" - ARMANDO CORREIA


Após a independência em 1973, a Guiné-Bissau começou-se a pensar no tocante a formação de um modelo de Estado, que deveria então servir a sua população. Deste modo, o mesmo foi pensado e implementado com base no companheirismo, heroísmo e exibicionismo dos que tinham acabado de sair da guerra colonial “veteranos da luta”, deixando de fora quadros que poderiam amparar a formação do Estado, e a diversidade cultural que o país apresenta. Desde a sua implementação, o Estado não tem demonstrado a capacidade de resolver de uma forma efetiva os problemas do seu povo, tanto a nível político, social, jurídico e estrutural, e a má gestão da coisa pública, fator que me parece ainda prevalecer.

Mas, a pergunta que não quer intercalar é seguinte: até quando sairemos dessa insuficiência do Estado? Para quando uma democracia plena e um Estado realmente laico na Guiné-Bissau? Pelo cenário político, atualmente vigente no país, me parece que o Estado está cada vez afundando e o presente e o futuro para melhor saída mais distante. Mais uma vez, estamos a mostrar ao mundo a nossa incapacidade de gerir os nossos problemas. Sempre que enfrentamos um problema na maioria das vezes a falta de sucesso na sua resolução é tão evidente que despensa grande retrospectiva. Por exemplo, no segundo trimestre de 2012, como sabemos, o fenômeno designado por “golpe de Estado” atingiu inconvenientemente a população da Guiné-Bissau e deixou marcas na sociedade guineense. Com esse e outros acontecimentos, entramos coletivamente num declínio político, educacional, social e econômica jamais vista nos últimos 12 anos da nossa democracia. Esses acontecimentos levou a comunidade internacional a suspender acordos de cooperação com a Guiné-Bissau, tendo em conta a promiscuidade política que se vivia no país após o ocorrido.

A maioria da população acreditava que o fenômeno da crônica instabilidade se centrava na “classe castrense”. Hoje o quotidiano nos mostra que a nossa comum percepção dos causadores da instabilidade e riscos de iminentes conflitos é outra, ou seja, não são mais os militares.  

Em 2014 o governo de transição foi criado após o “golpe de Estado 2012” com o apoio da maioria dos países membros da CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) e de outros parceiros que acreditavam no futuro de um pequeno país africano com apenas 1.530.673 habitantes. Conseguiu-se realizar as eleições gerais com uma participação expressiva do eleitorado num país onde o ato de votar e de ser votado não parece ser obrigatório. Quero dizer, com essa observação, que o fenômeno da instabilidade política ocorrido no país está intimamente relacionado à nossa incapacidade de praticar a democracia e gerir o Estado.

Atente-se, também, que o fator dessa instabilidade política se deve a inoperância dos direitos humanos no primeiro país da África lusófona a proclamar e conquistar a sua independência. Nos 43 anos da independência, parece urgente uma nova liderança do Estado, uma nova fase política para “reconstrução do Estado”, para que o país possa reconquistar o seu lugar na África e no mundo globalizado através de esforços de próprios guineenses e amigos da Guiné-Bissau. Nessa nova luta, os jovens intelectuais e pesquisadores têm um papel de fundamental importância para forçar uma nova esperança estatal e social ao país. Como dizia Amílcar Cabral “estamos convencidos que qualquer revolução nacional ou social que não esteja fundamentada no adequado conhecimento da realidade, corre sérios riscos de ser condenada ao fracasso”. 

Hermeneuticamente falando, qualquer que seja Estado em busca da liberdade e melhoria de condições de vida de seus cidadãos, deve levar em conta a realidade concreta do seu povo (cultura, tradições, valores, práticas, visões) para que possa ganhar concretude real e soberana.

Portanto a “reconstrução do Estado” perpassa não só a uma profunda alteração ou adequação da nossa Constituição, como também facilitar a mudança da mentalidade e investir seriamente em educação de qualidade e remuneração condigna dos professores em todos os níveis escolar.

Por outro lado, o governo precisa investir na política de recuperação do cérebro “brain drain” para uma ampla reforma no aparelho de Estado, permitindo, assim, a máquina burocrática funcionar da melhor maneira possível de modo a tornar viável um desenvolvimento contínuo na pátria de Cabral. Enfim, não queremos viver numa sociedade da utopia, queremos sim viver numa sociedade onde todos os guineenses vão usufruir dos seus direitos de cidadão/ã, uma sociedade mais justa e equilibrada. Onde não existe uma sociedade equilibrada e socialmente justa, conflitos de diversas natureza, empreendida inclusive por agentes do Estado em defesa dos seus interesses pessoal, grupal ou familiar, a instabilidade continuará sempre presente.   


Por: Armando Arnaldo Correia, graduando em ciências humanas pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – Unilab, Redenção, Ceará, Brasil. Correio eletrônico: armandoarnaldocorreia@outlook.com.br

Sem comentários:

Enviar um comentário