quarta-feira, 4 de março de 2020

LÍDER DO PUN ALERTA CEDEAO QUE SE PODE TORNAR PARTE DO PROBLEMA

O líder do Partido de Unidade Nacional (PUN), Idrissa Djaló, alertou hoje a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) que se pode tornar parte do problema na Guiné-Bissau, em vez da solução.

Numa carta enviada ao presidente da comissão da CEDEAO, Jean-Claude Kassi-Brou, Idrissa Djaló reconhece que a crise política-militar que o país atravessa há longos anos é da "responsabilidade da classe política dirigente e do topo da hierarquia militar" e que apesar de todos esperarem uma solução por parte da organização ela pode vir a tornar-se "parte do problema".

O político guineense ilustra a afirmação com os acordos de Dacar e de Conacri, que, refere, "em lugar de constituírem uma resposta concorreram para o enfraquecimento das instituições" do país e que culminaram com as sucessivas nomeações de primeiros-ministros pelo Presidente cessante, José Mário Vaz, que "criaram polémicas" e "divisões profundas" na sociedade.

Idrissa Djaló sublinhou que apesar dos apoios dados pela CEDEAO à organização das legislativas e das presidenciais, a organização "não avaliou convenientemente as derrapagens que acompanharam as eleições, nem assinalou a gravidade dos atentados ao jogo democrático, nomeadamente as interferências de países vizinhos ou a afluência massiva de dinheiro de proveniência duvidosa".




"Como deverá ser do seu conhecimento, o nosso país está gangrenado pelo narcotráfico e o dinheiro sujo é reciclado em momentos de embate político desvirtuando os equilíbrios e bloqueando toda e qualquer possibilidade de uma verdadeira alternativa ao atual sistema", salientou.

Segundo o líder do PUN, depois do anúncio provisório dos resultados eleitorais pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), os comunicados da CEDEAO "não só não acalmam a situação, como não apresentam solução".

Idrissa Djaló considerou mesmo "tristes" os comunicados da CEDEAO que pedem ao Supremo Tribunal de Justiça e à CNE "para colaborarem".

"Estas duas instituições não podem ser postas no mesmo patamar", afirmou, salientando que a Constituição da Guiné-Bissau define claramente a hierarquia jurídica e o papel e competências da CNE, que está obrigada a cumprir com as decisões do Supremo Tribunal de Justiça em matéria eleitoral.

Reconhecendo a justeza do último comunicado da organização, o líder do PUN alertou que a nova crise pode ter "consequências extremamente graves".

"Esta nova crise - que já está em curso - não se assemelha a nenhuma outra. Esta crise, acredite, terá consequências extremamente graves, em primeiro lugar, para a população da Guiné-Bissau, em seguida para os vizinhos, que sentirão o impacto dela, e depois para a sub-região", avisou Idrissa Djaló, cuja formação política integra o Governo de Aristides Gomes.

A Guiné-Bissau vive desde a semana passada um novo momento de tensão política, iniciado com a decisão de Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das presidenciais pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), de tomar posse como Presidente do país, enquanto decorre um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça apresentado por Domingos Simões Pereira, que alega irregularidades graves no processo.

Na sequência da tomada de posse, Umaro Sissoco Embaló demitiu Aristides Gomes, que lidera o Governo que saiu das legislativas e que tem a maioria no parlamento do país, e nomeou Nuno Nabian para o cargo.

Após estas decisões, os militares guineenses ocuparam e encerraram as instituições do Estado guineense, impedindo Aristides Gomes e o seu Governo de continuar em funções.

Mediadora da crise guineense, a CEDEAO voltou a ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida na Guiné-Bissau e acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos.

As Nações Unidas, a União Europeia e a Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) apelaram ao diálogo e à resolução da crise política com base no cumprimento das leis e da Constituição do país.

Conosaba/Lusa

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