sábado, 12 de setembro de 2015

"NOVAS GERAÇÕES COMETEM OS MESMOS ERROS DO PASSADO NA GUINÉ-BISSAU", DIZ ANALISTA POLÍTICO CARLOS VAMAIM


A crise político-militar que assolou a Guiné-Bissau entre junho de 1998 a maio de 1999 ajudou a acelerar a desestruturação do país nos domínios político, económico e social, considerou o analista Carlos Vamaim.

Antigo ministro da Justiça e Trabalho e mais tarde da Função Publica, sempre em governos de transição, Carlos Vamaim considerou errado afirmar que foi o conflito que opôs o então Presidente ´Nino´ Vieira a uma Junta Militar que "desestruturou por completo" a Guiné-Bissau.

"Eu não subscrevo essa opinião, na medida em que os problemas já vinham de longe, a desestruturação do Estado começou a partir da segunda metade [da década] de 1980, a partir de 85 até hoje", afirmou Vamaim.


Para o advogado que se assume como estudioso da Constituição do país, o conflito que ficou conhecido como a "guerra de 07 de junho de 98", data em que se iniciou, podia ter sido evitado se o presidente ´Nino´ Vieira tivesse optado pelo diálogo.

Não são conhecidos números oficiais de mortes de um conflito que dividiu os guineenses durante 11 meses, tendo de um lado os apoiantes do então presidente `Nino´ Vieira e do outro o general Ansumane Mané, chefe do Estado-Maior das Forcas Armadas, entretanto suspenso de funções e acusado de tráfico de armas para os rebeldes que lutam pela independência da zona sul do Senegal.

Um dos operacionais da Junta Militar, general José Sanhá, disse à Lusa que o conflito se deu "por manifesta falta de diálogo" entre o Governo e os militares revoltosos.

De forma indirecta, José Sanhá, veterano de luta pela independência, culpa o presidente Vieira pela falta de diálogo com os militares, sendo que na sua maioria, eram combatentes da Liberdade da Pátria que se diziam votados à miséria. "Esses combatentes lutaram nas matas deste país com os que dirigiam o país na altura", lembrou José Sanhá, primeiro elemento da então Junta Militar a assumir publicamente numa rádio que se estava perante um golpe contra o presidente ´Nino´ Vieira.

O analista Carlos Vamaim é que não tem pejo nenhum em apontar o dedo ao então presidente na altura em que se deu o conflito armado de 1998.

"O país acabou por ser formatado à vontade de um só homem que dirigia (o que) levou a esse conflito que podia ter sido evitado pelo mais alto magistrado através do diálogo, porque o Presidente da República tem como função garantir a estabilidade", defendeu o analista constitucional.

Para Carlos Vamaim, o Governo do presidente ´Nino´ Vieira "acabou com a cultura do mérito" o que, disse, "ajudou a acelerar a desestruturação" do Estado guineense até aos dias que correm.

O general José Sanhá disse recear que a ausência do diálogo, "sobretudo entre as novas gerações de dirigentes", possa levar a Guiné-Bissau a novas crises no Estado.

Fazendo uma breve análise da atual situação do país, referiu: "A falta de diálogo no Estado traz conflito, como o que tivermos em 98, agora é lamentável e triste que as novas gerações estejam a cometer os mesmos erros do passado", concluiu o general reformado que se dedica à agricultura.

O Presidente guineense destituiu o primeiro-ministro a 12 de Agosto passado e nomeou para o cargo Baciro Djá, cuja nomeação foi já considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal, o que levou o recém-nomeado para o cargo a apresentar a demissão.

Lusa/Conosaba

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