O desencanto e a frustração do sucessivo adiamento do desenvolvimento da Guiné-Bissau mantém-se no terceiro livro do poeta guineense Tony Tcheka, que disse encontrar nas rimas e nas palavras a forma de "exorcizar" os males que o apoquentam.
Numa entrevista à agência Lusa, António Soares Lopes Júnior, 63 anos, autor de "Noites de Insónia em Terra Adormecida" (1996) e "Guiné: Sabura Que Dói" (2009), falou de "Desesperança no Chão de Medo e Dor", a lançar hoje em Lisboa, relacionado com as sucessivas crises políticas e militares que assolam ciclicamente a Guiné-Bissau.
A temática do amor, tão cara ao também jornalista, não é esquecida ao longo das 170 páginas do livro (publicado pela editora guineense Corubal), divididas por cinco capítulos, o último com "estudiosos, críticos e escritores" a interpelarem a poesia de Tony Tcheka.
"É o terceiro livro em que incido o enfoque na Guiné-Bissau, que me toca, que me mina, que me encanta, que me desencanta. Desde 1980, o início dos golpes (14 de novembro de 1980), tem vivido uma situação catastrófica, caótica, com momentos de elevada violência, momentos difíceis, de desânimo e frustração", lamentou.
"O livro é exatamente o registo de um desses últimos períodos, que ocorreu depois do golpe de Estado de 2012, numa altura em que o país caminhava para uma recuperação económica e financeira, com uma performance de registo, e em que houve um golpe de Estado em pleno processo de eleições gerais", acrescentou.
A partir daí, disse Tony Tcheka, "foram mais dois anos de imobilismo", em que se "delapidou" o Estado e se "coartou a idiossincrasia guineense", como a honradez, a verticalidade, a moral, o saber estar e o compartilhar.
"Fui escrevendo para exorcizar esses males que me apoquentavam no dia-a-dia. O resultado está no livro, que aborda toda uma situação vivenciada e assumida, que me doeu muito no corpo e na alma. São cenários vividos nessa maldição que persegue a Guiné-Bissau e as suas gentes", sublinhou.
No primeiro trimestre de 2016, Tony Tcheka vai entrar pela primeira vez na ficção, com a publicação de "Cravos em Lisboa Mudam Destinos em Bissau", um conjunto de "estórias" relacionadas com o 25 de abril de 1974 vivenciadas na capital guineense e que envolvem "pessoas, famílias e instituições".
"Não falei com ninguém, não entrevistei ninguém. O livro é romanceado em função da realidade que vivi. Como achei que não havia nada na Guiné-Bissau escrito sobre esse assunto, resolvi entrar por aí", explicou.
Na próxima semana, já em Bissau, Tony Tcheka vai assumir-se também como investigador para apresentar um estudo intitulado "Os Media na Guiné-Bissau", que começa no início do século XIX e termina em 2013 e descreve toda a história da comunicação social na antiga província portuguesa da Guiné e depois de 1973, no novel país.
Tony Tcheka, natural de Bissau, onde nasceu a 21 de dezembro de 1951, é um dos fundadores da União Nacional de Artistas e Escritores (UNAE) e é considerado um nome de referência da literatura guineense, com trabalhos publicados em várias antologias na Guiné-Bissau, Portugal, França, Brasil e Alemanha.
Também jornalista, António Soares Lopes Júnior foi redator e mais tarde diretor da Rádio Nacional (RDN) e chefe da redacção e diretor do Jornal Nô Pintcha. Nesta qualidade criou o suplemento cultural e literário Bantabá.
Como correspondente e analista, trabalhou com a BBC, Voz da América, Voz da Alemanha, Tanjug e, em Portugal, com o Público, a antiga agência noticiosa ANOP, RTP-África e TSF.
Lusa/Conosaba
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