A jovem, o professor e o régulo (chefe tradicional), personagens do escritor guineense Abdulai Silá para retratar o passado colonial, vão saltar para as telas numa longa-metragem sobre os anos 50 e 60 da Guiné Portuguesa.
escritor guineense Abdulai Silá
A importância da escola, de ter alguém que saiba dirigir uma comunidade ou o papel da emancipação da mulher, são ideias que o filme "Coração Guiné: a última tragédia" quer destacar a partir da obra "A Última Tragédia".
O projeto foi um dos vencedores do concurso FIC TV promovido pela Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) para promover a produção audiovisual nos países de língua portuguesa.
"A história tem como palco a Guiné-Bissau, mas podia ter acontecido noutro país africano de expressão portuguesa, ou no Brasil", refere Mussá Baldé, jornalista e escritor guineense.
Trata-se de um conto de época, o que o transforma num desafio maior, tanto para o realizador e como para o produtor.
"É preciso reavivar os cenários da época de 50 a 60, numa história que se passa em diferentes pontos da Guiné-Bissau: Biombo, Quinhamel, Bissau e Catió", acrescenta Mussá Baldé.
Retratar o passado "é o maior desafio. Por exemplo, já descobrimos onde encontrar carros da época", acrescenta o realizador, José Lopes -- formado em Cuba e com trabalho feito no apoio a filmes de outros realizadores guineenses.
A partir do livro de Abdulai Silá, já foi feita uma adaptação que se constitui como a primeira versão do guião -- que mereceu a escolha da CPLP -- e que agora vai ser trabalhada.
Seguem-se sete sessões através da Internet com tutores artísticos a definir pela organização, para um trabalho de preparação que se deverá prolongar até final de 2016.
"Se após este período o projeto conseguir estar de acordo com as expetativas, recebe 100% de financiamento" e avança para as filmagens, refere o produtor.
Baldé e Lopes já se aventuraram numa longa metragem quando em 2011 fizeram parte da equipa que criou "Clara di Sabura" (Clara da boa vida), a história de uma jovem que deixa a escola para procurar sucesso fácil a seduzir políticos e empresários.
Agora a luta promete ser maior, num país que continua com as mesmas limitações: faltam infraestruturas base, mão-de-obra qualificada e recursos técnicos.
A dupla planeia recorrer a especialistas de outros países da CPLP para o projeto avançar, refere o produtor, que ainda assim reconhece virtudes à Guiné-Bissau, seu país Natal.
"Há talento e inspiração. Aqui há sempre histórias para contar. Por exemplo, o que se tem passado com o Parlamento, como que sequestrado pelos seus próprios deputados, dava um filme", refere Mussá Baldé.
A dupla que dirige o projeto garante que ideias não faltam, o que não há "é dinheiro" para as concretizar.
"Temos dois grandes realizadores, Flora Gomes e Sana N'Hada, mas nós também queremos fazer o nosso caminho", acrescenta Baldé, que tem um sonho por concretizar.
"O meu sonho é fazer a primeira telenovela da Guiné-Bissau", em que sejam relatadas histórias do quotidiano.
Até lá, a produção do filme em si promete ser uma aventura.
Lusa/Conosaba
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