Duas investigadores portuguesas apresentaram na Guiné-Bissau um estudo sobre a problemática de crianças ostracizadas pelos pais como sendo "irãs" (feiticeiras) apenas por terem doenças ou caraterísticas diferenciadas.
Filipa Gonçalves e Sofia Alves, da Fundação Fé e Cooperação (FEC), apresentaram na quinta-feira o estudo financiado pela União Europeia, para demonstrarem uma violação dos direitos das crianças.
O irã é no imaginário de muitos povos guineenses uma divindade com poderes sobrenaturais que tanto podem ser usados para fazer o mal como o bem aos vivos.
Em declarações à agência Lusa, Filipa Gonçalves referiu que "a criança-irã é uma nomenclatura simplificada" usada pela população guineense para denominar um menor com alguma característica diferenciada dos outros.
Para as comunidades das nove regiões da Guiné-Bissau estudadas pelas duas investigadoras portuguesas, as crianças-irãs "são seres especiais, muita das vezes abandonadas ou maltratadas" quando na realidade apenas são diferentes por terem alguma doença, defeito físico ou intelectual.
Filipa Gonçalves cita o caso de crianças que sofrem de epilepsia que são ostracizadas quando estão a ter convulsões, o que, "para as comunidades, são manifestações do irã", disse.
O estudo, apresentado na Casa dos Direitos em Bissau, revela também que as comunidades consideram ainda uma criança com desnutrição crónica como sendo irã, quando não têm respostas para o problema da sua falta de alimentos, adiantou Filipa Gonçalves.
As investigadoras portuguesas levaram três anos a realizar o estudo, que agora pretendem dar a conhecer a maior número de pessoas na Guiné-Bissau para o que consideram ser "um problema sério, mas pouco falado" na sociedade guineense.
As autoras do estudo querem que o problema da criança-irã seja colocado na agenda pública da Guiné-Bissau como tem sido a excisão genital feminina.
MB // VM
Lusa/Fim
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