Não há registo nos últimos anos em África de eleições que tenham sido tantas vezes adiadas como as da Guiné-Bissau. Finalmente foram marcadas para 13 de Abril. Surpresa são os nomes avançados para o cargo de Presidente.
José Mário Vaz, Paulo Gomes, Nuno Nabiam e Abel Incada são os quatro candidatos mais promissores das eleições guineenses.
Trata-se de quatro ilustres desconhecidos e não há um peso-pesado político entre os candidatos. Esse papel poderia ter sido assumido pelo ex-primeiro ministro Carlos Gomes Júnior, derrubado aquando do golpe de Estado de 12 de abril de 2012.
Na altura tinha ganho a primeira volta das eleições e a sua vitória parecia certa, mas face à situação de insegurança no seu país, Carlos Gomes Júnior optou por permanecer no exílio em Cabo Verde.
O outro nome que falta é o de Kumba Ialá, Presidente entre 2000 e 2003, e figura emblemática da política nacional, que morreu no passado dia 4 de abril.
A falta de figuras de integração levou a divisões nos dois principais blocos políticos, PAIGC e PRS.
PAIGC aposta na economia
No caso do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) tem dois candidatos à presidência.
O candidato oficial José Mário Vaz, ministro das Finanças de Carlos Gomes Júnior até 2012, promete dar prioridade à economia: "Vamos ganhar as legislativas e vamos ganhar as presidenciais para o bem da Guiné-Bissau e dos guineenses."
Jomav, como é conhecido, diz ainda que "Prioridade das prioridades é criar uma economia forte, criar trabalho e por finalmente a economia a funcionar."
O país que se encontra em recessão desde o golpe, precisa recuperar-se urgentemente.
Mas José Mário Vaz está também foi associado a suspeitas de desvio de fundos de assistência angolana. São suspeitas que Vaz rejeita categoricamente.
Gomes assume fraqueza e vantagem
Paulo Gomes também é do PAIGC, mas concorre como independente. Porém, também este candidato coloca a tónica na economia, e apresenta-se como especialista na área: "Sou um tecnocrata, não sou um político ativo, mas tenho a grande vantagem de conhecer bem a economia do meu país."
O candidato lembra que tem "uma experiência nacional e estrangeira que é importante quando se trata de um chefe de Estado para poder abrir portas e ser promotor do país no estrangeiro" e justifica: "Porque, vamos ser francos, somos um país com poupança negativa. Os recursos para o nosso crescimento deverão, nos próximos anos, vir do estrangeiro, do apoio e ajudas bilateral e multilateral."
PRS inseparável dos militares
O Partido da Renovação Social, PRS, a segunda grande formação política do país, tem um total de quatro candidatos às presidenciais.
O representante oficial do PRS nesta corrida é Abel Incada, mas as suas perspetivas parecem ténues. Para a segunda volta, os observadores apostam antes em Nuno Nabiam, que gozava também do apoio do falecido Presidente Kumba Ialá.
Nabiam procura ainda a proximidade com os militares, e sobretudo com António Indjai, Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas. Até porque a maioria dos oficiais pertence à etnia balanta, eleitores tradicionais do PRS.
De modo que não admira que em entrevista à DW Nabiam se esquive da pergunta sobre a necessidade de reformar o exército: "Acredito que de facto é necessário implementar a reforma no setor da defesa e segurança, mas tem de ser uma reforma bem pensada."
Na opinião de Nabiam "não se pode enviar uma pessoa para casa assim do nada, são coisas que tem de ser estudadas, as chefias militares são guineenses, são homens que estão a trabalhar, se houver necessidade, de facto, na altura certa será discutido."
Desafios pós eleições
A campanha eleitoral decorreu com tranquilidade e sem incidentes. Observadores internacionais estão no terreno para garantir a realização de eleições livres.
Mas a Guiné-Bissau permanece um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento, como provam os numerosos golpes, tentativas de derrube e assassinatos políticos dos últimos anos.
E é precisamente o exército que mais contribui para a instablidade, por rejeitar um controle civil e todas as tentativas de reforma, apesar desta ser incontornável, diz a politologa portuguesa, Elisabete Azevedo-Harman:
Ela argumenta que "várias reformas, incluindo a das forças armadas, mas também a questão do emprego, a estrutura social e económica está debilitada neste momento. Dai tornar-se um Estado vulnerável a forças criminosas como é a questão do narcotráfico."
Muitos desafios para o próximo Presidente do país. E um desafio será terminar o seu mandato de quatro anos. Pois, desde a independência de Portugal, nenhum dos dez presidentes do país chegou ao fim do seu mandato.
DW.DE
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