Um Guineense nascido em Mansoa!"Fidju de homi garandi"
É
urgente rever a nossa Constituição da República, para, depois,
arranjar condições razoáveis para uma reforma profunda do Estado,
designadamente nas forças armadas do nosso país.
Enquanto
isso não acontecer, a Guiné-Bissau não encontrará o seu
verdadeiro caminho para o cumprimento do “programa maior”
idealizado pelo fundador da nacionalidade guineense e cabo-verdiana,
Amilcar Cabral.
A
Guiné-Bissau é um país promissor. Tem recursos naturais que
permitem sustentar o seu próprio modelo de desenvolvimento. Tem
recursos humanos capazes, que são a sua maior riqueza.
O
que é certo, neste momento, e é pacífico, é rever a lei
fundamental do país.
A
iniciativa para essa revisão pode partir de um partido político, da
iniciativa de um grupo de deputados, dos académicos, etc,, com
discussões e contribuições abertas a todas as sensibilidades.
O
que se tem assistido na GB, como o título deste artigo sugere, é a
primazia do partido sobre o estado, qualquer que seja o partido,
desde que esteja no poder. Não há uma nítida distinção entre o
partido e o Estado. O partido faz do Estado sua propriedade; o
interesse partidário sobrepõe –se ao interesse público; o
partido só conta com os seus militantes e camaradas nas estruturas
do Estado, mesmo que não tenham qualidades e aptidão para o
exercício de cargos públicos de responsabilidade.
Não
é novidade para ninguém, de uns anos para cá, a GB ter Ministros
analfabetos. O que ainda se verifica.
Ora,
se assim acontece, o que um Ministro analfabeto sabe da Constituição?
Do que é o Estado? O que é a Administração Pública? Ou até, da
Lei Orgânica que rege o Ministério que ele próprio tutela?
Na
GB acontece tudo o contrário: os que “menos sabem” é que
mandam. As elites, pura e simplesmente, prescindiram de desempenhar o
seu verdadeiro papel de liderar o país. Compreende-se. Há muitos
factores que contribuem para isso. Uma delas é falta de motivação,
Outra, é a forte influência que os militares continuam a
condicionar o país.
Fazendo
um breve retrospectiva do meu percurso político, digo, com toda a
franqueza, que não tenho vergonha do meu passado. Fui um dos mais
destacados pioneiros Abel Djassi em Mansoa, após a independência;
jurei a bandeira; participei em muitas marchas e nos acampamentos
“Iorna Tamba”. Fui Juventude Amílcar Cabral, fui eleito 1º
responsável para dirigir e orientar os mais novos no Sector de
Mansoa. Em Bissau, trabalhei na Cruz Vermelha, como voluntário,
dando o melhor possível de mim; mais tarde, já na qualidade de
funcionário da Cruz Vermelha, trabalhei com Ernesto Henriques,
falecido Dr. Paulo Medina (Homi de Canhutu), falecido Dr. Domingos
Fernandes (Fundador do Partido RGB), Armando Ramos, tio Fati o
condutor de ambulância, Albino Có, Aladje, Dedé de Pilum, Sinhote
etc. Amo Banculém (Calequir) em Bissau, o lugar onde cresci e
ganhei muita maturidade, isto é: aprendi ser homem com H grande!
O
meu falecido Pai não foi a mata dar tiros, mas, colaborou ativamente
na mobilização e inclusive no encaminhamento das pessoas vindas de
Bissau para as matas de Mansoa para alinharem na luta armada. Em
1968, o meu falecido pai foi preso pela PIDE, juntamente com mais 11
camaradas, acusados de colaborarem com PAIGC, levados para a Bissau,
e posteriormente transferidos para ilha “Djiu de Galinha” onde
passou muitos anos e conheceu muitos revolucionários.
O
PAIGC proclamou unilateralmente a independência de Portugal, em
1973, tendo Portugal reconhecido de jure essa independência em 1974.
A partir desta data, o PAIGC e o Estado eram a mesma coisa. Não
havia distinção. O próprio PAIGC tinha a supremacia sobre o
Estado. Era o Estado. Um partido! Mas isso tinha assento
constitucional. Basta ver o artigo a Constituição da República, no
seu art.º 6.º, que afirma: “O PAIGC é a força dirigente da
sociedade. Ele é a expressão suprema da vontade soberana do povo.
Ele decide a orientação política da política do Estado e assegura
a sua realização pelos meios correspondentes”. Adiante, mesmo em
relação à Assembleia Nacional Popular, que é “órgão supremo
do Poder de Estado”, as instâncias do Partido podem exercer a sua
hegemonia, tal como nos explicavam os dirigentes do PAIGC: «O
Partido tem a última palavra sobre os candidatos a deputados à
Assembleia Nacional Popular e pode propor a destituição de um
deputado. O Congresso do Partido prevalece sobre Assembleia Nacional
Popular em todos os momentos. Mais ainda, na medida em que o Conselho
Superior da Luta é o «Congresso Permanente», também ele prevalece
sobre a Assembleia Nacional Popular. Até aqui tudo bem, nunca houve
conflitos entre essas duas realidades, a não ser num ou outro caso
em que ponham problemas acerca das respetivas esferas de competência.
O facto de serem as mesmas pessoas os principais responsáveis tanto
do Partido como do Estado, evitou o surgimento de tensões.
Com
abertura politica e com o aparecimento de novas forças políticas
(RGB, PRS,UM etc. etc.), na década de 90, por outro lado, havia
muitos descontentes no seio do PAIGC, saíram e juntaram-se aos
outros partidos para solidificarem a democracia na Guiné-Bissau.
Apesar disso, o PAIGC continua a beneficiar do estatuto de partido
libertador da nação Guineense. ao mesmo tempo, foi ele quem fez a
Constituição da República e criou o Estado da Guiné-Bissau.
Cometeu muitos erros, o povo guineense deixou de acreditar no
partido.
E
Quando as coisas não estão bem, a solução é muda-las. O partido
tem que trabalhar mais e mudar a sua forma de fazer política para
que o povo volte a acreditar novamente nele! Chegou a altura
transferir poder para os jovens, porque os mais velhos não são
eternos e devem urgentemente preparar o trono para os mais novos,
para o bem da nação!
Agora
o tempo é outro, caros compatriotas, vamo-nos juntar todos para
defender a revisão da nossa Constituição da República, para
evitar, de uma vez por todas, a supremacia do partido sobre estado.
Já temos pessoas suficientes e capazes para trabalhar nesta matéria,
isto é, revisão constitucional, tais como o Prof. Dr. Emílio Kaff
Costa e outros.
A
nossa terra vive, todos dias, como se fosse o último da sua
existência, sem motivação e sem esperança. O nosso país é
campeão do mundo de golpes e contra golpes.
O
povo da Guiné-Bissau tem direito de ser feliz.
Vou citar as frases
escritas do
nosso saudoso fundador da nação Guineense e Cabo-verdiana “Amílcar
Lopes Cabral” «Nem
toda gente é do Partido»
dizia assim: “Ponho
o problema claro aos camaradas, sobre o nosso trabalho. No Partido,
de verdade, só entra gente honesta, séria. E sai todo aquele que é
desonesto, todos aqueles que se aproveitam do nosso Partido para
servir os seus interesses pessoais. Hoje enganam-nos, mas amanhã
saem de certeza. Quem mente, sai, quem quer só servir a sua cabeça,
para ter calças de tergal, com boas camisas, para abusar das nossas
raparigas, ou quem anda abusar do povo da nossa terra, esses saem. O
nosso Partido está aberto aos melhores filhos da nossa terra. Porque
há alguns camaradas que estão a sacrificar-se muito, mas com a
ideia de que amanhã vão gozar, com bom automóvel, criados, várias
mulheres, etc. Esses estão enganados. Não são do nosso Partido e
vão ver isso de certeza”!
É
verdade, admito que sou um Cabralista, mas, isso não implica que
concordo com tudo o que ele diz ou escreveu, o tempo é outro, temos
que se adaptar aos tempos. Se calhar, se estivesse vivo a Guiné não
estaria como está agora!
Termino
por aqui mandando recados e um abraço forte ao jovem Dr. Palaciano
Gomes, Presidente do Partido Democrático para o Desenvolvimento,
quando assumirem o poder um dia desses no nosso país, por meio de
eleições, peço-vos que assumem o vosso papel como verdadeiros
políticos, fazem com que as estruturas militares também assumem o
papel deles, isso é, defender a Pátria das agressões externas. Dar
condições aos militares no ativo e na reserva e dignificar a vida
dos antigos combatentes. Não vamos vender e nem tão pouco penhorar
a Guiné-Bissau! Até um dia. Conseguiremos o melhor para nossa
querida pátria!
Viva
Guiné-Bissau
Matosinhos 02 de Dezembro de 2014.
Pate
Cabral Djob.
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