segunda-feira, 9 de maio de 2022

"Não compreendemos estado de terror que se quer implementar na Guiné-Bissau" - direitos humanos

Foto/arquivo - Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto Mário Silva

Bissau, 08 mai 2022 (Lusa) – O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto Mário Silva, afirmou hoje não compreender o estado de terror que se quer implementar na Guiné-Bissau, após o ataque no sábado contra o deputado Agnelo Regala.

“Não compreendemos esta atitude dos nossos concidadãos, não compreendemos o estado de terror que se quer implementar na Guiné-Bissau e pensamos que as autoridades públicas devem assumir as suas responsabilidades imediatamente”, afirmou aos jornalistas Augusto Mário Silva.

O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos falava aos jornalistas na residência do deputado, em Bissau, que foi vítima de um ataque contra a sua vida, que lhe provocou ferimentos, e onde hoje dezenas de pessoas foram manifestar solidariedade.

“Quero desafiar o primeiro-ministro e o Presidente da República a assumirem as suas responsabilidades, particularmente o primeiro-ministro, enquanto chefe do Governo a quem cabe a responsabilidade de conduzir a política interna e externa do país, que garanta a segurança dos cidadãos”, afirmou Augusto Mário Silva.

A assunção dessa responsabilidade, continuou o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, passa “necessariamente pela identificação dos autores desta e de outras práticas que já aconteceram aqui, a sua tradução à justiça e consequente responsabilização”.

“Isso é que vai fazer voltar a confiança dos cidadãos nas instituições da República e nas entidades políticas, que nós elegemos e nós escolhemos”, disse, insistindo que o primeiro-ministro e o chefe de Estado devem assumir as suas responsabilidades.

“De outra maneira vamos instalar um Estado de caos. Alimentar milícias para intimidar as pessoas, numa primeira fase pode parecer que tudo corre a seu favor, mas depois foge do seu controlo, implanta-se um Estado de terror e de caos, de violência generalizada e ninguém consegue viver neste país ou trabalhar. É preciso por cobro a esta situação imediatamente, este é o apelo e o desafio que lanço às autoridades públicas da Guiné-Bissau”, salientou.

Questionado sobre se considera haver uma ligação entre o ataque contra o deputado e a conferência de imprensa do Espaço de Concertação dos Partidos Democráticos sobre o envio de uma missão de estabilização da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental para o país, o presidente da Liga disse que é “natural a ligação”.

“É natural a ligação entre o pronunciamento do deputado Agnelo Regala e o sucedido. Não há como não ligar esses factos. O deputado é um dos políticos mais coerente que existe na Guiné-Bissau, não tem tido comportamentos promíscuos. Quando essa milícia, esse esquadrão, que chamamos de terror, aparece em casa do deputado Agnelo para fazer tudo isto, a única interpretação que temos é que está a mandar uma mensagem”, afirmou.

“Qual é a mensagem? Vocês não devem pronunciar-se sobre assuntos tido como delicados da Guiné-Bissau”, acrescentou.

O deputado guineense Agnelo Regala foi no sábado vítima de um ataque junto à sua residência no centro de Bissau, tendo sofrido ferimentos numa perna na sequência de disparos feitos contra si.

Agnelo Regala é presidente do partido da União para a Mudança e proprietário da Rádio Bombolom.

A União para a Mudança, na oposição no parlamento da Guiné-Bissau, faz parte Espaço de Concertação dos Partidos Democráticos guineenses, que está semana afirmou que o incumprimento da lei para o envio de uma missão militar para o país pode configurar uma invasão pelas forças da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

O espaço de concertação “condenou sem reservas os sinais de desprezo e desconsideração à soberania da República da Guiné-Bissau por parte das entidades promotora e autora da decisão” e exortou a CEDEAO a respeitar os princípios fundamentais que sustentam a organização.

O espaço de concertação exigiu que a “Assembleia Nacional Popular seja ouvida e a sua resolução levada em conta na determinação do mandato e constituição de qualquer eventual força a estacionar” no país.

A CEDEAO anunciou o envio de uma missão militar de interposição para a Guiné-Bissau em fevereiro na sequência de um ataque contra o Palácio do Governo, quando decorria uma reunião do Conselho de Ministros, em que participavam o chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, e o primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam.

A semana passada, a força começou a chegar ao país, mas o porta-voz do Governo e ministro do Turismo guineense, Fernando Vaz, remeteu mais pormenores para a cimeira dos chefes das Forças Armadas da CEDEAO, que vai decorrer em maio no Gana.

Fontes militares confirmaram à Lusa que a força de estabilização será composta “num primeiro momento” por 631 militares.

O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, afirmou na África do Sul, que a força é composta por elementos do Senegal, Nigéria, Gana e Costa do Marfim.

Conosaba/Lusa

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