Bissau, 03 Mai 22 (ANG) - A junta no poder no Mali anunciou no domingo que rompe os acordos de defesa com a França e os seus parceiros europeus envolvidos na luta contra os jihadistas implantados no país, após meses de um crescente mal-estar com Paris que se agudizou depois de os militares malianos terem tornado a assumir a totalidade do poder no ano passado, alguns meses apenas depois de um primeiro golpe de Estado em 2020.
Numa comunicação na televisão esta segunda-feira à noite, o porta-voz do governo maliano, o coronel Abdoulaye Maïga, anunciou que o executivo "denuncia" o acordo de cooperação em matéria de defesa concluído com Paris em 2014 assim como os Acordos do Estatuto das Forças que fixam o quadro jurídico da presença no Mali das forças francesas Barkhane e da força europeia Takuba.
Ao invocar uma "atitude unilateral" da França quando suspendeu as operações conjuntas com as forças malianas em Junho do ano passado e quando anunciou em Fevereiro a retirada das forças de Barkhane e Takuba, "novamente sem consultar o lado maliano", este responsável acusou a França de "múltiplas violações" do espaço aéreo maliano, apesar do estabelecimento pela junta de uma zona de exclusão aérea em grande parte do território.
"Á luz dessas falhas graves, bem como dos flagrantes ataques à soberania nacional do Mali, o governo da República do Mali decidiu denunciar o tratado de cooperação em matéria de defesa do dia 16 de Julho de 2014", acrescentou o coronel Abdoulaye Maïga especificando que esta decisão comunicada às autoridades francesas ontem à tarde, entra em vigor dentro de seis meses.
Já relativamente aos Acordos do Estatuto das Forças que fixam desde 2013 as modalidades da presença no país das forças Barkhane e Takuba, o porta-voz do governo maliano informou que a sua denúncia tem efeito imediato, isto numa altura em que a retirada da força francesa Barkhane, anunciada em Fevereiro, deve decorrer não de forma repentina, mas sim ao longo de 4 a 6 meses por motivos de segurança.
Isto sucede depois de meses de mal-estar entre a junta militar maliana e as autoridades francesas. Pouco depois do segundo golpe militar ocorrido em Maio de 2021, a França anunciou que pretendia a prazo reduzir os seus efetivos e redefinir a sua presença no Mali. Uma decisão que, na altura, foi qualificada de "abandono" pela junta militar.
Em Fevereiro, o embaixador francês no Mali foi expulso, numa nova expressão do mal-estar entre Paris e Bamaco, sendo que na semana passada as autoridades malianas suspenderam de forma permanente as emissões da RFI e da France 24 no seu território sob a acusação de "cobertura tendenciosa das notícias malianas". Igualmente há dias, a junta militar acusou abertamente as forças francesas de "espionagem" e "subversão" depois do Estado-maior francês ter divulgado vídeos do que afirma serem mercenários russos a enterrar corpos junto da base de Gossi, no centro do país, no intuito de acusar de crimes de guerra as forças francesas que se retiraram recentemente dessa base.
Nestes últimos meses, tanto os Estados Unidos como a França têm acusado a junta militar de recorrer a mercenários do grupo Wagner próximo do Kremlin. Acusações até agora desmentidas pelo Mali que fala de uma cooperação antiga de Estado para Estado. Entretanto, esta terça-feira, o chefe da diplomacia russa, Sergueï Lavrov, confirmou a presença de paramilitares desse grupo tanto na Líbia como no Mali, especificando que "isto nada tem a ver com o Estado russo" e que é "numa base comercial".
Conosaba/ANG/RFI
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