Cerca de 45% dos guineenses vivem em zonas urbanas, mas a maioria sem serviços básicos e sem emprego decente, afirmou hoje o coordenador residente do sistema das Nações Unidas na Guiné-Bissau, Anthony Ohemeng-Boamah.
Ohemeng-Boamah afirmou que a Guiné-Bissau precisa tomar medidas para ir ao encontro do crescimento demográfico nas zonas urbanas, uma vez que a tendência é para um crescimento cada vez maior.
"Esse número está a aumentar todos os dias. Da maioria de habitantes urbanos, 75% vivem em zonas informais, nas favelas, geralmente zonas propensas a catástrofes. Apenas 25% de guineenses têm acesso ao saneamento básico e 54% à eletricidade" e carecem de serviços básicos e de oportunidade de emprego, observou Ohemeng-Boamah.
O responsável notou que as cidades e os municípios organizados podem ajudar a inverter essa realidade que disse ser resultado de crescimento rápido e não planeado das zonas urbanas.
O coordenador residente do sistema das Nações Unidas falava na abertura do seminário coorganizado com a delegação da União Europeia (UE), no âmbito das celebrações do Dia da Europa, em Bissau, sob o lema: "Cidades verdes e inclusivas".
Durante o seminário, que decorreu no centro cultural francês, em Bissau, foram apresentadas as conclusões do projeto "Fortalecendo o Planeamento Estratégico e Espacial na Guiné-Bissau", financiado pela UE e implementado pela UN-Habitat, durante os anos de 2020 e 2021.
Segundo a embaixadora da União Europeia na Guiné-Bissau, Sónia Neto, o projeto "surgiu do encontro entre as prioridades crescentes da União Europeia e África sobre os temas das cidades e da urbanização" e da competência técnica da UN-Habitat.
"Este projeto tem também como objetivo orientar as reflexões atuais no âmbito da nossa programação de ajuda ao desenvolvimento entre 2021 e 2027", disse.
A embaixadora Sónia Neto explicou que o diagnóstico sobre "localização, disponibilidade e diversidade de serviços de base e infraestruturas constitui uma ferramenta útil para avaliar o papel e importância que as cidades e outros assentamentos humanos desempenham num determinado território".
Por outro lado, disse, o "mapeamento da dinâmica demográfica a nível nacional ajuda a compreender as tendências demográficas relacionadas com o aumento da população e com as migrações, nomeadamente entre áreas urbanas e rurais e entre as regiões e a área urbana de Bissau".
O ministro guineense das Obras Públicas, Construções e Urbanismo, Fidélis Forbs, considerou que grande parte dos problemas é criada por maus hábitos da própria população.
"Por exemplo, o vazamento de lixo a céu aberto, a construção nas zonas húmidas, nos centros urbanos sem obediência às regras ou sem projeto arquitetónico", sublinhou Forbs.
O ministro apelou aos guineenses e estrangeiros que vivem na Guiné-Bissau "para uma mudança de paradigma" em questões de habitação e ocupação dos solos.
Idelfonso Pinto, diretor-geral do Urbanismo defendeu que o país "está longe" de pensar no conceito de Cidades Verdes e Inclusivas, dando o exemplo de espaços verdes que estão a ser ocupados com casas que, "a rigor da lei" teriam de ser demolidas.
O arquiteto formado no Brasil apontou ainda "as falhas que estão a ser cometidas" com as estradas que estão a ser requalificadas em Bissau.
"As estradas estão a ser feitas, muito bem, precisamos de estradas, mas não estamos a pensar nos esgotos pluviais e sanitários das localidades. Não podemos continuar a construir fossa sética nas casas por toda a vida", observou Idelfonso Pinto.
O programa "Cidades verdes e inclusivas" está incluído no Programa Multianual da União Europeia com a Guiné-Bissau para o período 2021-2027, no valor de 112 milhões de euros.
Conosaba/Lusa
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