O secretário nacional do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) admitiu hoje estar "muito apreensivo" com a missão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) no país por desconhecer os seus objetivos.
Uma missão de alto nível composta por peritos constitucionais da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental chega esta segunda-feira a Bissau para uma resolução do contencioso eleitoral, criado após a segunda volta das presidenciais da Guiné-Bissau.
"Eu estou muito apreensivo, particularmente, e acredito que toda a direção superior do partido também deve estar neste momento com essa apreensão e começamos a pensar o que é que eles vão fazer. Mudar as leis, não podem", afirmou aos jornalistas Ali Hijazi, falando após uma reunião entre a direção do partido, veteranos e antigos combatentes.
"Talvez venham tentar negociar, mediar. Não sei, porque, até este momento, não estamos na agenda deles", afirmou.
Ali Hijazi disse também que na Guiné-Bissau a "candidatura começa e termina no Supremo Tribunal de Justiça".
"É o Supremo Tribunal que vai avalizar o trabalho final da CNE (Comissão Nacional de Eleições) e dizer, sim senhor, este candidato é o vencedor das eleições. A partir daí é que publica no Boletim Oficial e a partir daí é que se marca o empossamento do candidato e isso não aconteceu", referiu.
O responsável também questionou o papel das forças de interposição da CEDEAO (Ecomib) face à atuação das Forças Armadas guineenses, que nos últimos dias ocuparam instituições do Estado, incluindo o Supremo Tribunal de Justiça e o Palácio do Governo.
"Se a Ecomib está aqui na Guiné-Bissau para defender as instituições, agora perguntamos, onde é que eles estão? E porquê que estas situações estão a acontecer? Também é a nossa questão e também não sabemos responder a isso", disse Ali Hijazi, respondendo a jornalistas sobre a atuação desta força.
O responsável salientou que o PAIGC também é uma instituição pública e precisa de proteção, quando
A missão da CEDEAO, que vai permanecer em Bissau até dia 13, é composta por peritos constitucionais e de regulação interinstitucional e vai trabalhar com a Comissão Nacional de Eleições e com o Supremo Tribunal de Justiça para ajudar a uma "resolução rápida do contencioso eleitoral criado após a divulgação dos resultados da segunda volta das presidenciais".
Na reunião de hoje entre a direção do partido, veteranos e antigos combatentes saíram várias recomendações, incluindo o envio para a Guiné-Bissau uma força de 'capacetes azuis' (das Nações Unidas) para reforçar a Ecomib e que as Forças Armadas cumpram o seu papel republicano e se retirem para os quartéis e deixem de "amedrontar" a população.
A Guiné-Bissau vive mais um momento de tensão política, depois de Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições presidenciais do país pela Comissão Nacional de Eleições, ter tomado posse há uma semana como Presidente do país, quando ainda decorre um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça, apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira, que alega graves irregularidades no processo.
Na sequência da tomada de posse, Umaro Sissoco Embaló demitiu Aristides Gomes, que lidera o Governo que saiu das legislativas e que tem a maioria no parlamento do país, e nomeou Nuno Nabian para o cargo.
Após estas decisões, os militares guineenses ocuparam e encerraram as instituições do Estado guineense, impedindo Aristides Gomes e o seu Governo de continuar em funções.
O presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, que tinha tomado posse na sexta-feira como Presidente interino, com base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do Estado tome posse em caso de vacatura na chefia do Estado, renunciou no domingo ao cargo por razões de segurança, referindo que recebeu ameaças de morte.
Umaro Sissoco Embaló afirmou que não há nenhum golpe de Estado em curso no país e que não foi imposta nenhuma restrição aos direitos e liberdades dos cidadãos.
Mediadora da crise guineense, a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) voltou a ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida na Guiné-Bissau e acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos.
As Nações Unidas, a União Europeia e a Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) apelaram ao diálogo e à resolução da crise política com base no cumprimento das leis e da Constituição do país.
O Conselho de Segurança da ONU também já admitiu a imposição de sanções.
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