Fico muito triste com estas notícias. Sobretudo, quando sinto e noto uma
certa letargia por parte das autoridades guineenses em não protegerem os seus
concidadãos por este mundo fora. Por vezes até me dá a sensação de que têm vergonha
de assumirem as suas responsabilidades perante situações dessas.
O guineense
comum começa a ficar cansado de notícias envolvendo os seus compatriotas e
sobretudo da letargia das instituições estatais, perante situações verdadeiramente
desumanas como aquela que assistimos na Líbia e que, infelizmente, ocorrem
também noutros países. Essas situações começam a ser muitas e recorrentes: com
os estudantes guineenses na Rússia, no Brasil, etc, etc.
Mas alguém pode ter
vergonha ou complexo em não assistir aos seus irmãos apenas porque voluntária ou involuntariamente decidiram emigrar? Para mim a maior vergonha é a de um ministro
(qualquer que ele seja) que visita um país estrangeiro e não é recebido pelo
seu homólogo, mas por um funcionário de segunda ou terceira categoria do país
visitado.
A maior vergonha é quando são barrados nos aeroportos deste mundo. Mas
a maior de todas as vergonhas é quando um país não consegue criar condições, internamente,
para que os nossos compatriotas não tivessem necessidade de se sujeitarem a
todas as espécies de humilhações neste mundo. Espero não estar equivocado, mas
estou em crer que na cabeça maldosa de alguns perpassa seguramente a ideia de
que as vítimas da Líbia (não sei porquê, mas enquanto escrevia este artigo
também veio-me à memória persistentemente Marrocos), da Rússia ou do Brasil é
que escolheram esse caminho. Mas, independentemente do juízo (perverso ou não) que
se possa fazer sobre o assunto, também muitos de nos temos o direito de perguntar
se o Estado guineense tem cumprido o seu papel ao longo dos anos, sobretudo na sua
prerrogativa de proteger os seus cidadãos dentro e fora da nossa terra. Aliás,
se os cidadãos guineenses gozam constitucionalmente dos mesmos direitos e
deveres (quer vivam dentro ou fora) não faria sentido nenhum que o Estado não
assumisse o seu papel perante eles. Da mesma forma como espera os seus votos
aquando das eleições.
E o guineense que escolheu viver fora do seu torrão natal
deve sentir essa proteção, evitando aquela sensação que muitas vezes e em
diferentes momentos nos atravessou o pensamento e a nossa alma de guineenses radicados
no estrangeiro de que somos apátridas. Tem havido muitos abusos sobre os nossos
compatriotas. Hoje muitos andam desorientados, confiscados pela desesperança
relativamente ao futuro da sua Pátria. Outros até de cabeça vergada.
Não foi
isso o que nos ensinou a história ainda recente da nossa terra. A luta que
fizemos contra o colonialismo foi para todos (homens, mulheres e crianças)
andarem de cabeça levantada, livres e sem complexos de nenhuma espécie. Em
qualquer parte deste mundo. Com o orgulho que nos deveria caracterizar como
povo e como país a esta hora já deveria estar a caminho da Líbia uma delegação
de alto nível da Guiné-Bissau para se inteirar da situação e resgatar os nossos
compatriotas.
E sobre isso (e outras situações similares) todos os guineenses deveriam
pôr-se de acordo, porque isso sim, é também uma matéria de interesse nacional. E
já agora, por falar em matéria de interesse nacional, numa altura em que se
aguarda com expectativa o desfecho relativamente ao famigerado (para não dizer
desventrado) acordo de Conakry gostaria muito de ouvir falar também da marcação
de eleições legislativas que deverão ter lugar em meados de 2018. Já vai sendo
tempo para isso.
Julião Soares Sousa
Sem comentários:
Enviar um comentário