O
termo guinendade está ligado ao conceito de identidade nacional, à vivência
sociocultural do "Homem" guineense ou à língua crioula, que Cónego Marcelino
Marques de Barros chamava, ainda no século XIX, de "o guineense". Entretanto,
cada vez que falamos com quem recorre ao termo guinendade, para saber o que
significa na verdade o referido termo, a resposta acaba por ser, regra geral
(ou invariavelmente) "não sei
explicar bem mas é algo que está intrinsecamente ligado à Guiné-Bissau".
Esta
resposta quase comum, revela o quanto o próprio termo é lato e vago. Ou seja, é
a mesma coisa do que perguntar a um guineense "o que é ser guineense".
De um modo geral, todos nós sabemos responder, porque é lato e vago. Logo,
qualquer que seja a resposta, esta serve desde que tenha um pingo de lógica.
Contudo,
se formos analisar bem as coisas, podemos definir a guinendade como a
mestiçagem étnica, porque na génese de cada guineense existe uma diversidade
enorme de etnias, em que cada uma delas reporta a um conjunto de traços
culturais próprios e a um conjunto de status
social, que acaba por formar aquilo a que chamamos de cultura crioula baseada
naquilo que nos une, o crioulo. Mas será que guinendade é apenas isso?
Talvez
possamos também ver a guinendade como uma forma de estar, de sentir e,
sobretudo, de ser.
Quando
me refiro à guinendade como forma de estar, refiro-me ao nosso modo de estar
com o outro que não é da nossa etnia, nem da nossa nacionalidade, nem da nossa
comunidade ou do nosso espaço de convívio. Esse, "ooutro", deve ser tratado
com todo o carinho possível, porque o ditado diz que o "hóspede leva o mau
e o bom nome da casa", por isso, temos que ser solidários e hospitaleiros com
"o outro", para que ele possa integrar e contagiar com a nossa forma
de estar, para que possa levar o nosso "bom nome".
Podemos
também referir aqui a guinendade como a nossa maneira de sentir as coisas. De uma
forma muito pacata conseguimos ver alegria em tudo e sem motivo assinalável (ou
sem motivo aparente), festejamos, comemoramos e contentamo-nos com o pouco que
temos. Ou ainda, a nossa forma de lidar com a morte, com os nossos
antepassados, com as missas ou as simolas
de tchur ou com as nossas cerimónias
tradicionais.
No que
diz respeito à nossa forma de ser, podemos dizer que a guinendade é uma questão
de pertença, de um sentimento ligado ao que é nacional, independentemente de onde
o nosso umbigo tenha sido enterrado. A pertença à língua e cultura crioula, a
pertença a uma dada etnia, que compõe o nosso mosaico étnico. Ou simplesmente
uma pertença por nos envolvermos apaixonadamente com a Guiné-Bissau, sentirmo-nos
guineenses ou ainda uma pertença por fazer parte, sem ser parte nenhuma, porque
apenas o contato com a Guiné-Bissau é contagioso.
Se recorremos
à arte e à cultura, somos capazes de definir a guinendade como uma expressão
artística, que tenta apresentar, de um modo muito criativo, a identidade do "Homem"
guineense, independentemente do seu estatuto socioeconómico, mas com os seus
traços culturais, como por exemplo, os seus valores e crenças.
Contudo,
será que é possível falar da guinendade sem nos referirmos às nossas músicas:
gumbé, tina, siko, Djambadon, kusundé, etc. O gumbé como estilo musical que
está associado ao crioulo, é cantado quase sempre nessa língua nacional.
Entretanto, nesta matéria não podemos deixar de apontar a Orquestra Super Mama
Djombo como motivo de orgulho nacional, devido às suas composições que se
identificam com tudo o que seja guineense, ou seja, a Orquestra canta
simplesmente a guinendade. E o saudoso José Carlos Schwarz como o pioneiro da
música moderna guineense, era a voz dessa guinendade, ontem na Luta de
Libertação Nacional.
Apesar
de tudo, a guinendade é um processo que está em permanente construção, porque é
um processo dinâmico, que progride de acordo com o desenvolvimento socioeconómico
do país, sobretudo, com o desenvolvimento educacional do povo guineense.
Para
dizer a verdade, a guinendade é a alma do sentir-se guineense. Amanhã poderá
ser outra coisa. Mas hoje é isto!
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