O Homem e o Político que marcou Portugal
Apontado por muitos como o pai da Democracia portuguesa, mas também um dos principais responsáveis pela entrada de Portugal na ex-CEE,
Biografia
Nascido na extinta freguesia do Coração de Jesus na cidade de Lisboa, foi o segundo filho do antigo sacerdote, professor e pedagogo, que foi Ministro das Colónias na Primeira República, João Lopes Soares, natural de Leiria; e de Elisa Nobre Baptista, professora da instrução primária, natural de Santarém.
Percurso académico e profissional
Mário Soares licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1951, e em Direito, na Faculdade de Direito da mesma universidade, em 1957.
Foi advogado e professor do ensino secundário particular, chegando a dirigir o Colégio Moderno, fundado pelo pai, e no qual lhe sucederam a sua mulher, Maria de Jesus Barroso Soares e, posteriormente, a sua filha, Isabel Barroso Soares, psicóloga, além de professora do colégio.
Como advogado defensor de presos políticos, participou em numerosos julgamentos, realizados no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial. Representou, nomeadamente, Álvaro Cunhal quando acusado de crimes políticos, e a família de Humberto Delgado na investigação do seu alegado assassinato. Juntamente com Adelino da Palma Carlos defendeu também a causa dinástica de Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança.
Percurso político
“Sou republicano, socialista e laico.”
— Mário Soares no casamento de Duarte Pio de Bragança
Apoiado pelo pai e fortemente influenciado pelo ambiente em que cresceu, de tradição republicana e oposicionista, Mário Soares iniciou muito jovem a sua atividade política.
Por influência de Álvaro Cunhal (que chegou a ser regente de estudos no Colégio Moderno) aderiu em 1943 ao Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), estrutura ligada ao Partido Comunista Português, e integrou a partir de 1946 a Comissão Central do MUD - Movimento de Unidade Democrática, sob a presidência de Mário de Azevedo Gomes; tendo sido nesse âmbito co-fundador do MUD Juvenil e membro da sua primeira Comissão Central.
Em 1949 foi secretário da Comissão Central da candidatura do general Norton de Matos à Presidência da República e em 1958 pertenceu à comissão da candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República.
Afastado do PCP, fundou em 1955 a Resistência Republicana e Socialista, reunindo outros elementos vindos do PCP (como Fernando Piteira Santos, expulso do PCP em 1949), da União Socialista (como Manuel Mendes, antigo militante do MUD Juvenil), Gustavo Soromenho, Ramos da Costa, José Ribeiro dos Santos, Teófilo Carvalho Santos, José Magalhães Godinho, entre outros.
Foi em nome deste grupo que entrou em 1956 para o Directório Democrato-Social, a convite de Armando Adão e Silva, e de que faziam parte António Sérgio, Jaime Cortesão e Azevedo Gomes.
Foi redator e signatário do Programa para a Democratização da República, em 1961.
Candidatou-se a deputado à Assembleia Nacional do Estado Novo, nas listas da Oposição Democrática, em 1965, pela CDE, e em 1969, pela CEUD.
Preso 12 vezes, cumprindo um total de cerca de três anos de cadeia, foi deportado sem julgamento para a ilha de São Tomé, em 1968, até o governo de Marcello Caetano lhe permitir o exílio em França, em 1970.
Casamento
Foi na prisão, embora com registo na 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, que casou por procuração, a 22 de fevereiro de 1949, com Maria Barroso.
Exílio em França
Aquando do seu exílio em França, em 1970, foi chargé de cours nas universidades de Paris VIII (Vincennes) e Paris IV (Sorbonne), e igualmente professor convidado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes, que lhe atribuiu o grau de Doutor Honoris Causa.
Estando ainda aí, em 1972, foi à loja à loja maçónica parisiense "Les Compagnons Ardents", da "Grande Loge de France", pedir apoio para a luta política contra o Estado Novo e ingressou na maçonaria, segundo ele próprio[9], optando depois por ficar "adormecido".
Regresso a Portugal
A 28 de Abril de 1974, três dias depois da Revolução de 25 de Abril, regressou do exílio em Paris, no chamado "Comboio da Liberdade". Dois dias depois, esteve presente na chegada a Lisboa de Álvaro Cunhal. Ainda que tivessem ideias políticas diferentes, subiram de braços dados, pela primeira e última vez, as ruas da Baixa Pombalina e a avenida da Liberdade.
Durante o período revolucionário que ficou conhecido como PREC foi o principal líder civil do campo democrático, tendo conduzido o Partido Socialista à vitória nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1975.
Percurso governativo
Foi ministro dos Negócios Estrangeiros, de Maio de 1974 a Março de 1975, e um dos impulsionadores da independência das colónias portuguesas, tendo sido responsável por parte desse processo.
A partir de Março de 1977 colaborou no processo de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), vindo a subscrever, como primeiro-ministro, o Tratado de Adesão, em 12 de Julho de 1985.
Foi primeiro-ministro de Portugal nos seguintes períodos:
I Governo Constitucional entre 1976 e 1977;
II Governo Constitucional em 1978;
IX Governo Constitucional entre 1983 e 1985.
Presidente da República
Presidente da República entre 1986 e 1996 (1.º mandato de 10 de Março de 1986 a 1991, 2.º mandato de 13 de Janeiro de 1991 a 9 de Março de 1996).
Pós-Presidência da República
O percurso político de Mário Soares depois dos dez anos de Presidência da República foram orientados para a intervenção a nível internacional.
Depois de ter assumido, em dezembro de 1995, a presidência da Comissão Mundial Independente Sobre os Oceanos, seria escolhido em setembro de 1997 para a presidência do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água.
Também em 1997 assumiu a presidência da Fundação Portugal África — fundada pelo Banco de Fomento e Exterior (posteriormente integrado no Banco Português de Investimento e a presidência do Movimento Europeu Internacional, uma ONGD cuja fundação remonta ao pós-Segunda Grande Guerra e que foi impulsionadora da fundação do Conselho da Europa, em 1949.
Subsequentemente, em 1999, três anos depois de terminar o seu mandato como Presidente, Mário Soares foi o cabeça-de-lista do PS às eleições europeias de 1999. Uma vez eleito foi logo de seguida candidato a presidente do Parlamento Europeu, mas perdeu a eleição para Nicole Fontaine, a quem não teve pejo em afirmar que tinha «um discurso de dona de casa», no sentido pejorativo do termo.
Essa derrota na corrida à presidência do Parlamento Europeu acabou por retirar expetativa à ambição de Soares em desempenhar um cargo importante na política internacional.
Candidato a um terceiro mandato como Presidente da República
Longe da política ativa, sem deixar de assumir como figura de maior referência do PS, Soares surpreendeu o país ao aceitar, em 2005, um regresso à disputa pelo cargo de Presidente da República. Foi assim, aos 81 anos, o segundo candidato anunciado — após Jerónimo de Sousa, candidato apoiado pelo PCP — o que seria um inédito terceiro mandato.
O motivo da sua entrada na corrida era nem mais nem menos do que impedir que José Sócrates, então secretário-geral do PS tivesse de apoiar o candidato Manuel Alegre, após algumas crispações deste histórico do PS com as hostes do seu próprio partido — de resto, Alegre havia sido adversário de Sócrates nas eleições internas do PS em 2004, representando uma corrente ideológica completamente oposta à de Sócrates.
Na eleição presidencial, realizada a 22 de Fevereiro de 2006, Soares obteve apenas o terceiro lugar, com 14% dos votos, ficando inclusive atrás da candidatura (que acabou por não ter apoio partidário) de Manuel Alegre.
As eleições foram vencidas com maioria absoluta (e, portanto, à primeira volta) por Aníbal Cavaco Silva.
Pós-Presidenciais de 2006
Em 2007 foi nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Também preside ao Júri do Prémio Félix Houphouët-Boigny, da UNESCO, desde 2010, é patrono do International Ocean Institute, desde 2009.
No dia 11 de Outubro de 2010 recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa aquando das comemorações do centenário da mesma, coincidindo com as comemorações do centenário da República Portuguesa (5 de Outubro).
Com 89 anos é eleito a personalidade do ano 2013 pela imprensa estrangeira, radicada em Portugal.
Em 25 de abril de 2016, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, entregou a Mário Soares a chave da cidade de Lisboa, a mais alta distinção atribuída pelo município a personalidades com relevância nacional e internacional.[16]
Fundação Mário Soares
Fundador da Fundação Mário Soares em 1991.
Família
Mário Soares é pai de João Barroso Soares, bem como tio paterno por afinidade do cronista e antigo deputado e secretário de Estado Alfredo Barroso e tio materno por afinidade do cineasta Mário Barroso (chamado Mário Alberto em sua homenagem e por ser seu padrinho) do médico-cirurgião Eduardo Barroso e da bailarina Graça Barroso.
Obras publicadas
As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga, com prefácio de Vitorino Magalhães Godinho, Centro Bibliográfico, Lisboa, 1950.
A Justificação Jurídica da Restauração e a Teoria da Origem Popular do Poder Político, Jornal do Foro, Lisboa, 1954.
Escritos Políticos, 4 edições do Autor, Lisboa, 1969.
Destruir o sistema, construir uma nova vida – relatório do Secretário Geral do PS aprovado no Congresso de Maio de 1973, Roma, 1973.
Portugal Amordaçado, Lisboa, 1974; tradução francesa condensada (Le Portugal bailloné) publicada em Paris pela Calman-Levy em 1972; e depois traduzida em inglês com o título Portugal’s struggle for Liberty, em 1973; em alemão, 1973; em espanhol, com um prólogo de Raul Morodo, em 1974; na Venezuela em 1973; em grego, em 1974; e em chinês, em 1993.
Caminho Difícil: do salazarismo ao caetanismo, Rio de Janeiro, 1973
Escritos do Exílio, Livraria Bertrand, Lisboa, 1975
Democratização e Descolonização, publicações D. Quixote, Lisboa, 1975
Portugal: quelle révolution? Entretiens avec Dominique Pouchin, Calman-Lévy, Paris, 1976; traduzido em português em 1976 ; em alemão, 1976; em italiano, 1976 e em espanhol, Caracas, 1976.
PS, fronteira da Liberdade – do Gonçalvismo às eleições intercalares, prefácio e selecção de Alfredo Barroso, Lisboa, 1974
Entre Militantes PS (1975)
Escritos do Exílio (1975)
A Europa Connosco (1976)
Crise e Clarificação (1977)
O Futuro Será o Socialismo Democrático (1979)
A árvore e a floresta , Lisboa, 1985
Intervenções, dez volumes: textos do Presidente da República, Março de 1986 a Março de 1996, Lisboa, Imprensa Nacional.
Mário Soares e Fernando Henrique Cardoso: o mundo em português - um diálogo, publicado em Lisboa e em São Paulo em 1998 e traduzido em espanhol, México, e em romeno, 2000.
Português e Europeu , Círculo de Leitores, Temas e Debates, Lisboa 2000
Porto Alegre e Nova Iorque: um mundo dividido?, Lisboa, 2002
Mémoire Vivante - Mário Soares - Entretien, Flammarion, 2002
Mário Soares - Memória Viva, com prefácio e anexos inéditos exclusivos para a edição portuguesa, Edições Quasi, Janeiro 2003
Incursões Literárias, Temas e Debates, 2003
Um Mundo Inquietante, Temas e Debates, 2003
Um Mundo Inquietante, Círculo de Leitores, 2003
Mário Soares e Sérgio Sousa Pinto - Diálogo de Gerações , Temas e Debates, 2004
Poemas da Minha Vida, Público, 2004
A Crise. E agora?, Temas e Debates, 2005
Mário Soares: Um Político Assume-se: Ensaio Autobiográfico, Político e Ideológico. Lisboa: Temas e Debates, 2011. ISBN 978-989-644-146-3
Obras em que colaborou
Victor Cunha Rego e Friedhelm Merz, Liberdade para Portugal Com a colaboração de Mário Soares, Willy Brandt e Bruno Kreisky, Livraria Bertrand, 1976. Edição original alemã: Freiheit für den Sieger, Zurique, 1976
Soares: Portugal e a Liberdade, depoimentos diversos, Morais Editores, 1984
Hans Janitschek, Mário Soares, with a foreword by Edward Kennedy – Weidenfeld and Nicolson, London, 1985
Teresa de Sousa, Mário Soares, Nova Cultural, 1988
Maria Fernanda Rollo e J. M. Brandão de Brito, Mário Soares - uma fotobiografia, Bertrand Editora, 1995
Maria João Avilez, Soares, 3 volumes: I: Ditadura e Revolução; II: Democracia; III: O Presidente, Círculo de Leitores, 1996
Entrevistas com Mário Bettencourt Resendes: I-Moderador e Árbitro, 1995, II-Dois anos depois, 1998, III-A Incerteza dos Tempos, 2003, Editorial Notícias.
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