Apenas três dos dez Presidente e ex-Presidentes da Guiné-Bissau, entre eleitos e interinos em 40 anos de independência, estão vivos e dois deles permanecem afastados da política, num país que nunca viu concluir uma legislatura presidencial.
Com a morte, hoje, do ex-chefe de Estado Kumba Ialá, deposto em 2003 após três anos na presidência na sequência das eleições de 2000, apenas estão vivos três políticos que se sentaram na cadeira presidencial. Todos eles interinos: o atual, Serifo Nhamadjo, que assumiu a presidência após o golpe de Estado de 12 de abril de 2012, o homem a quem sucedeu, Raimundo Pereira, o único presidente transição que acabou deposto, e Carmen Pereira, há muito afastada da política.
Dos 10 chefes de Estado que a Guiné-Bissau já conheceu - quatro legalmente escolhidos ou eleitos e seis interinos ou de transição - apenas três estão vivos.
Derrubados por golpes de Estado foram Luís Cabral (1980 - morreria de doença em 2009), "Nino" Vieira (1998 - assassinado num segundo mandato em 2009), Kumba Ialá (2003 - faleceu hoje por doença). Malam Bacai Sanhá, vencedor das presidenciais de 2009, morreria, também de doença, em 2012 (fora também interino entre maio de 1999 e janeiro de 2000).
Entre os Presidentes interinos, à exceção de Serifo Nhamadjo, Raimundo Pereira e Carmen Pereira, Ansumane Mané foi assassinado a 30 de novembro de 2000 (presidiu entre 07 e 16 de maio de 1998), Veríssimo Seabra a 06 de outubro de 2004 (assumiu o cargo entre 14 e 28 de setembro de 2003) e Henrique Rosa faleceu de doença a 15 de maio de 2013 (chefiou o país de 28 de setembro de 2003 a 28 de junho de 2005).
A lista é longa desde que a Guiné-Bissau, a 24 de setembro de 1973, declarou unilateralmente a independência - reconhecida a 10 de setembro de 1974 por Portugal -, e pode dividir-se em dois períodos: antes e depois da abertura ao multipartidarismo, em 1991 (mas as primeiras eleições pluralistas só se realizariam em 1994).
Luís Cabral, falecido, por doença, em 2009, foi o primeiro presidente da Guiné-Bissau na época do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), mas acabaria afastado no golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, liderado por João Bernardo "Nino" Vieira, até então o primeiro comissário do Governo (equivalente a primeiro-ministro).
Entre 1980 e 1994, apenas intervalado por 15 dias (entre 01 e 16 de maio de 1984), quando entregou provisoriamente a poder à "histórica" Carmen Pereira, "Nino" Vieira governou sem oposição, vencendo ainda as primeiras eleições multipartidárias no país, em que derrotou Kumba Ialá na segunda volta, até se deposto na sequência da guerra civil de 1998/99.
“Nino” foi substituído interinamente, entre 07 e 16 de maio de 1998, por Ansumane Mané, líder do movimento golpista assassinado em 2000, que entregou a Presidência interina a Malam Bacai Sanhá, que lideraria o país até às eleições de 2000, ganhas por Kumba Ialá.
Três anos depois, a 14 de setembro de 2003, Kumba Ialá foi deposto e para a presidência interina seguiu o líder do golpe militar, o general Veríssimo Correia Seabra que, 14 dias depois, entrega a liderança da transição a Henrique Rosa, que levaria o país até às eleições de 2005.
Verissimo Correia Seabra viria a ser assassinado por um grupo de militares revoltosos em outubro de 2004.
Nas eleições de 2005, após seis anos de exílio em Portugal, "Nino" Vieira regressou ao país e foi eleito novamente presidente da Guiné-Bissau, função que ocupou até março de 2009, quando foi violentamente assassinado.
A transição que se seguiu, iniciada a 03 de março desse ano, veio a parar às mãos do até então presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP, Parlamento), Raimundo Pereira, que promoveu as eleições presidenciais de 28 de junho desse ano, ganhas por Malam Bacai Sanhá.
A 09 de janeiro de 2012, Malam Bacai Sanhá morreu aos 64 anos vítima de doença prolongada num hospital em Paris e Raimundo Pereira, presidente do Parlamento, assumiu de novo a chefia do Estado, até que, a 12 de abril, foi surpreendido por novo golpe de Estado, promovido pelos militares.
Quem assumiu então a presidência interina foi Serifo Nhamadjo, com o apoio da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), uma liderança muito contestada pela maioria da comunidade internacional, que não reconhece as novas autoridades da Guiné-Bissau.
A morte de Kumba Ialá, da etnia balanta, acontece em plena campanha eleitoral para as eleições de 13 de abril, que contam com 13 candidatos presidenciais e 15 partidos à conquista de lugares na Assembleia Nacional Popular.
http://www.dnoticias.pt/actualidade/mundo/440104-a-maldicao-de-ser-presidente-da-guine-bissau
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