O Diretor Geral do Comércio e Concorrência, Lassana Fati, disse que o executivo pretende colocar em quarentena mais de quarenta mil toneladas de castanha de cajú guardadas nos armazéns para depois procurar um comprador no exterior.
“O governo pretende colocar toda essa quantidade de castanha em quarentena, guardá-la nos armazéns e depois procurar um comprador no exterior. Outra possibilidade é encontrar uma fábrica de processamento da castanha no país que possa assumi-la. Essas opções estão todas em cima da mesa e a grande verdade é que nenhuma decisão foi tomada”, disse ementrevista telefonica ao Jornal O Democrata, para falar dos trabalhos que estão a ser feitos para a abertura da campanha e garantir que não hajam bloqueios da castanha no país. Uma eventualidade lamentada pelos empresários e que pode dificultar a próxima campanha de cajú, se não forem encontrados compradores das castanhas que ainda se encontram bloqueadas nos armazéns.
Mais de quarenta mil toneladas da castanha de cajú estão armazenadas em Bissau e nas regiões. Das 40 mil, segundo o levantamento feito pelo ministério do Comércio, mais de trinta mil estão em Bissau e dez mil nas regiões.
DG COMÉRCIO: “GOVERNO SEGUE CAMPANHAS NOS PAÍSES VIZINHOS PARA DEFINIR O PREÇO DE REFERÊNCIA DA CASTANHA”
O Democrata soube que até o fecho desta edição, a Guiné-Bissau conseguiu exportar 198 mil toneladas da castanha de cajú a partir dos portos de Bissau, segundo os dados disponíveis do ministério do Comércio.
Fati explicou que, no levantamento nacional feito pela equipa do ministério do Comércio, registou-se um total de mais de 30 mil toneladas de castanha nos armazéns em Bissau e mais de dez mil nas regiões, acrescentando que, de acordo com as diligências feitas, das mais de 30 mil toneladas registadas em Bissau, 15 mil devem ser exportadas em breve, através de um barco que, segundo a sua explanação, está a caminho de Bissau.
“Se conseguirmos exportar mais 15 mil toneladas armazenadas em Bissau, ficarão cerca de 15 mil toneladas. As castanhas que se encontram armazenadas nas regiões devem ser escoadas para a capital e nós vamos trabalhar para conseguir um comprador “, assegurou, esclarecendo que uma das razões da retenção dessa grande quantidade de castanha no país se deve primeiramente à queda do preço da castanha no mercado internacional, o que obrigou os comerciantes a recusar vender as suas castanhas para não perderem as suas margens de lucros, mas também a produção de outros países como a Tanzânia e Moçambique, acabaram por atrair os compradores.
“O terceiro fator tem a ver com os primeiros contratos assinados entre os nossos empresários e os indianos que até ao momento não conseguiram pagar as castanhas já exportadas. A castanha já foi levada, mas os empresários não receberam o dinheiro”, contou.
Relativamente à campanha de cajú de 2023, cujo lançamentose pretende fazer lá para o final do mês em curso, disse que o governo espera que haja muita concorrência este ano na campanha com a entrada de um grupo de empresários chineses e de outros países interessados na castanha da Guiné-Bissau. Acrescentou que o grupo de empresários chineses esteve duas vezes no país e manifestou o interesse em comprar a castanha nacional, como também os empresários de outros países manifestaram o mesmo interesse, razão pela qual espera muita concorrência este ano e que o país venda muita quantidade da sua castanha.
“O mercado chinês até ao momento não era aberto à castanha da Guiné-Bissau, mas se for aberto conforme o interesse que nos mostraram, penso que 2023 vai ser muito concorrido em termos de procura da castanha de cajú da Guiné-Bissau”, afirmou.
Questionado se o ministério do Comércio já tem um preço de base que pretenda apresentar ao Conselho de Ministros, respondeu que já há uma indicação do preço de referência dos países vizinhos que já iniciaram a campanha de cajú, por exemplo, “a Costa de Marfim começou a campanha de caju com o preço base de 315 francos cfa e o Burkina Faso com 300 francos cfa”.
“Esses são indicadores que nos permitem trabalhar na fixação do preço de referência da nossa castanha. Mas é bom dizer que há um trabalho que o comércio está a fazer, aliás, como se sabe existe uma comissão que envolve técnicos de outras instituições que estão a trabalhar na fixação do preço de referência da castanha nacional”, frisou, aproveitando a ocasião para aconselhar os produtores e os guineenses em geral que é preciso envidar esforços para trabalhar a qualidade da castanha de cajú guineense, porque nos últimos tempos tem havido queixas dos compradores sobre a perda da qualidade da castanha, bem como constatam pedras nos sacos de castanha o que, na sua observação, mancha a imagem do país e a sua produção.
INTERMEDIÁRIOS: “CASTANHAS NOS ARMAZÉNS JÁ ESTÃO A GERMINAR. A CONDIÇÃO PARA SUA EXPORTAÇÃO É BAIXA”
O presidente da Associação Nacional dos Intermediários de Negócios da Guiné-Bissau, Lassana Sambú, admitiu que há pouca possibilidade de a castanha de cajú que ainda se encontra nos armazéns ser exportada, porque “apresenta pouca qualidade, está a germinar e a condição para a sua exportação é baixa”.
Explicou que essa baixa qualidade se deve às más condições de armazenamento do produto, alertando que há grandes riscos de o novo ano agrícola ser comprometido porque não há nenhuma garantia de que as castanhas em condições péssimas ou em processo de germinação devido à humidade estejam a ser separadas das que têm condições para serem comercializadas.
“A qualidade da castanha corre o risco de baixar para menos,até de 48 por cento. Se acontecer, cairá o preço e baixará a economia nacional, porque é o produto que suporta, em parte, a nossa economia”, enfatizou.
“Mais de 8 mil toneladas de castanha continuam com os produtores. Se adicionarmos essa quantidade à que está estocada em Bissau, estaremos a falar de quase 30 mil toneladas”, afirmou, para de seguida indicar que tudo isso coloca a campanha de 2023 numa situação muito complicada.
“Tínhamos alertado o governo que diligenciasse para viabilizar a próxima campanha, porque o seu sucesso dependeria do ano agrícola anterior. Era preciso que fosse escoada toda a castanha para Bissau para evitar a perda de qualidade e, consequentemente, a baixa do preço”, assinalou.
Apesar desses indicadores, Lassana Sambú disse esperar que a campanha de 2023 seja diferente da do ano passado, porque na abertura da campanha do ano passado foram introduzidos alguns impostos, principalmente o de Contribuição Predial Rústica de produtor, mas essas taxas nunca reverteram em benefício dos produtores, dos operadores económicos nem na melhoria da produção, apenas o governo tem beneficiado desses impostos.
“Para onde foi canalizado o dinheiro desses impostos”, questionou, lembrando que na Contribuição Predial Rústica de exportação, 22 por cento reverteria para fundo de promoção para uma conta consignada, mas até ao momento não se sabe onde foi parar esse dinheiro. O governo tinha outra forma de alargar a sua base tributária para ganhar dinheiro, não superlotar o que já estava superlotado”, disse.
Sambú criticou a forma como o governo faz a sua previsão de receitas para o ano económico, acrescentando que as previsões de receitas a atingir deveriam basear-se no relatório do ano transato.
“Ainda não se conseguiu exportar toda a castanha e o governo nem sequer tem solução para tal e já fez a sua previsão adicional de receitas. Vamos ter problemas, caso não sejam ultrapassados os problemas que estão a ser levantados”, alertou.
O intermediário espera que a estrutura do custo para a próxima campanha, 2023, seja muito clara, sem prejuízos nem penalizados.
Lassana frisou que, apesar do processo de conversações com o governo para solucionar o problema da castanha que ainda se encontra nos armazéns e a intenção de o governo em comprá-la, ainda há riscos de o preço baixar no mercado internacional.
“Vamos analisar a estrutura do custo, se vai ou não viabilizar a campanha de 2023, porque o governo precisa assumir a sua responsabilidade e concentrar toda a castanha em Bissau. Os compradores conhecem a nossa capacidade produtiva e o tempo em que a nossa castanha perde qualidade. Se a castanha começar a germinar nos armazéns, vai levantar muitas suspeitas sobre a qualidade do produto na próxima campanha e o seu preço no mercado internacional poderá cair”, referiu.
EXPORTADORES: “GOVERNO NÃO DEVE ABRIR ACAMPANHA DE 2023 COM CASTANHAS AINDA BLOQUEADAS NOS ARMAZÉNS”
O presidente da Associação dos exportadores e importadores, Mamadu Iero Jamanca, alertou, que não é aconselhável abrir uma nova campanha com um número significativo de castanhas do ano passado nos armazéns, principalmente quando não são criados sistemas de controlo para evitar riscos comerciais.
Interpelado pelos jornalistas à saída do encontro entre os intervenientes do setor privado e a delegação ministerial do Comércio da Gâmbia, disse que a campanha de cajú do anopassado ainda não fechou e nos armazéns continua uma quantidade estimada em 45 mil toneladas de castanha de cajú por exportar.
Jamanca garantiu que estão a ser tomadas medidas para solucionar o atraso na exportação da castanha de 2022 e abrir a nova, mas frisou que a não exportação da castanha poderá ser má para a economia guineense, poderá estar a favorecer riscos e provocar perdas económicas para o país e para os operadores económicos.
Apontou como uma das soluções, ter armazéns em condições que vão permitir a conservação adequada da castanha e garantir que não perca a qualidade.
“Parte das cerca de 45 toneladas pode ser dividida para a produção de viveiros novos em colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisa Agrária, INPA, permitindo a reestruturação de pomares”, esclareceu.
Relativamente ao encontro com as autoridades gambianas, Jamanca disse que sua organização está empenhada em explorar a parceria com a Gâmbia que tenciona explorar a castanha cajú guineense, devido à sua potencialidade e qualidade.
“Esta prospecção do governo Gambiano ao mercado guineense, particularmente no setor de cajú, vem sequência das orientações que os dois governantes receberam dos respetivos presidentes, sobretudo a sua transformação local. E nós, enquanto entidade que zela pelo setor, vamos explorar esta parceria, porque é possível ser processada e transformada a nossa castanha, mesmo que seja em pequena quantidade”, referiu.
Por: Assana Sambú/Epifânia Mendonça
Conosaba/odemocratagb
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