terça-feira, 13 de junho de 2017

"É NECESSÁRIA UMA ABORDAGEM MAIS SEVERA CONTRA O TRÁFICO"


Demetrios G Papademetriou é um conhecido especialista em questões migratórias que fala para a Deutsche Presse-Agentur (DPA) sobre redes criminosas e como pará-las.


Demetrios G. Papademetriou, do Migration Policy Institute (MPI), acredita que as políticas migratórias da Europa são demasiado fracas e que estão apenas a ajudar os objetivos dos traficantes.

Segundo o especialista, se os governos querem impedir os contrabandistas, é necessário tornar claro que não será permitida tanta "carga humana" nos seus países.

"A partir do momento em que os traficantes prestam um serviço e, em grande parte das vezes, têm de o completar - trazer pessoas do ponto "A" para o ponto "B", tem que se tornar claro que o ponto "B" já não resulta", disse Papademetriou numa entrevista com a DPA.

Papademetriou é um membro sénior e Presidente Emérito do MPI, um 'think tank' sediado em Washington.

O especialista acredita que a equação é simples - se os países querem livre circulação dentro do seu território, é preciso fortalecer as fronteiras.

Ele reconhece que as nações europeias nunca vão conseguir reduzir completamente a quantidade de pessoas desesperadas mas que, para limitar o alcance das redes organizadas e para prevenir que os migrantes recorram aos seus serviços, é preciso adotar uma abordagem muito mais severa.

"(Os governos) têm de diferenciar o ato do resgaste dos migrantes do ato de dar-lhes entrada na Europa. Ou então têm de ser tomadas decisões rápidas e duras no ponto de entrada", afirma o especialista.

No entanto, Papademetriou reconhece que fortalecer o controlo nas fronteiras é uma "faca de dois gumes", uma vez que isso significa que vão existir mais migrantes a recorrer à ajuda destas redes criminosas.

Segundo o especialista, os governos deviam usar um conjunto de medidas políticas em que se torne claro que apenas as pessoas elegíveis para asilo, enquadradas na Convenção de Refugiados das Nações Unidas, podem dar entrada.

"As restantes voltam para trás. Os Estados Unidos e a Europa têm muitas ferramentas guardadas que ainda não foram usadas", afirma o perito em questões migratórias, acrescentando que as políticas da Austrália podiam servir de modelo para manter os migrantes ilegais fora da Europa.

"Procuram, resgatam. Depois, tem de se levar as pessoas para um lugar que não é a Europa. E criam-se áreas de processamento", afirma o especialista.

Entrevista completa:

DPA: O tráfico de migrantes está a crescer a nível mundial?

Papademetriou: O tráfico de migrantes está a crescer e isso acontece porque cada vez mais países estão a tentar defender-se da imigração ilegal. E porque as fronteiras estão a tornar-se mais fortes. Porque os países de destino estão a investir em mais recursos. E como surgem estes obstáculos, cada vez mais pessoas dependem de "facilitadores".

DPA: O que é que sabe acerca das redes criminosas por trás deste fenómeno?

Papademetriou: São frequentemente chamadas "redes criminosas", mas eu também uso a palavra "facilitadores", porque nem todas as pessoas que transportam alguém de um ponto para o outro fazem parte de uma rede criminosa. Pode observar-se colaboradores "mais pequenos" a prestar um serviço. Eles usam o mesmo mecanismo de mercado. Prestam um serviço por uma determinada taxa para um número crescente de pessoas. E as taxas estão a crescer, o que atrai mais pessoas a tentar trabalhar como "facilitadores".

DPA: A luta contra o tráfico de migrantes e contra as redes criminosas é a melhor forma de impedir esta evolução ou deviam os governos fazer mais alguma coisa?

Papademetriou: A resposta cai em ambos os lados da questão. Os governos, quer seja o da Alemanha, o dos Países Baixos ou dos países periféricos da União Europeia -- nações soberanas ou a União Europeia como um todo -- não têm outra hipótese a não ser construir as suas fronteiras externas. O argumento é simples. Se o que se pretende é existir livre circulação dentro de um país, têm de existir fronteiras mais fortes. Nunca será possível parar o influxo totalmente mas para tentar parar o alcance destas redes e para impedir que as pessoas recorram aos seus serviços, têm de se tomar medidas mais rígidas do que as que a maioria dos europeus tomam nos dias de hoje. O objetivo final das fronteiras é a detenção. Esta lógica aplica-se nos Estados Unidos, na Austrália e no Canadá. Neste momento, existe o problema da travessia das pessoas dos Estados Unidos para o Canadá. Na União Europeia, acontecem também situações como esta. Chamem-lhe uma espécie de evolução no conjunto de políticas da Austrália que consiste em primeiro procurar e depois resgatar. A Europa está hoje a dar um terceiro passo que a Austrália não está a dar: completar o objetivo do negócio e o trabalho dos contrabandistas e dos migrantes ao trazer pessoas para a Europa.

DPA: Então o que é que os governos deviam fazer?

Papademetriou: Eles têm de diferenciar o ato do resgate dos migrantes do ato de dar-lhes entrada na Europa. Ou então têm de ser tomadas decisões rápidas e duras no ponto de entrada. E isso não significa num dia ou dois mas sim uma decisão rígida de quem pode ficar nos países e quem não pode e levar as pessoas de volta para onde embarcaram. Por exemplo, para a Líbia. Quando os barcos entram em águas internacionais, é ilegal "empurrá-los" de volta.

DPA: O que é que é mais possível?

Papademetriou: É possível através da lógica da Austrália. Procuram, resgatam. Depois, tem de se levar as pessoas para um lugar que não é a Europa. E criam-se áreas de processamento. Isto é caro e difícil e as organizações humanitárias e parte das Nações Unidas iriam levantar sérias questões em relação à legalidade desta abordagem.

DPA: No entanto, há quem diga que isso não irá resultar durante muito tempo porque há cada vez mais pessoas a quererem entrar. No final de contas, não há como impedi-las.

Papademetriou: Pode-se impedi-las mas é necessário tomar medidas mais pesadas e não me estou a referir a disparar contra as pessoas ou a construir muros, mas sim a existir uma panóplia completa de respostas em que se torne claro que apenas as pessoas elegíveis para asilo, enquadradas na Convenção de Refugiados das Nações Unidas, podem dar entrada. As restantes voltam para trás. 

Os Estados Unidos e a Europa têm muitas ferramentas guardadas que ainda não foram usadas. Por exemplo, ainda há muito dinheiro e assistência a ir para países que se recusam a mandar as pessoas para trás. Um segundo exemplo: investir mais cedo numa crise antes que essa crise se torne demasiado caótica. Terceiro exemplo: investir profundamente nos países de onde as pessoas vêm para que elas possam ver boas oportunidades para as crianças serem educadas e para as famílias criarem oportunidades para elas mesmas.

DPA: E em relação a combater os traficantes?

Papademetriou: É uma dessas ferramentas. Mas... há que ser tão inteligente como os traficantes. Por exemplo, a partir do momento em que os traficantes prestam um serviço e, em grande parte das vezes, têm de o completar -- trazer pessoas do ponto "A" para o ponto "B", tem que se tornar claro que o ponto "B" já não resulta. 

Isso tem de acontecer com o passar dos anos, não resultará rapidamente. Hoje as pessoas ouvem e leem nos seus telemóveis que uma via, digamos, através da Líbia, está cortada. Assim, as pessoas tomam outro caminho que pode ser através do Egito. E quando cortam as vias no Egito, essas pessoas têm de encontrar oportunidades e condições para voltarem para os seus países e tentarem fazer algo por eles próprios lá. Assim, os contrabandistas vão tentar usar medidas mais extremas. Isso significa que mais pessoas vão morrer. Há que colaborar estreitamente com todos os países em relação às rotas dos migrantes para que haja uma melhor execução. E é aqui que nós cometemos um grande erro -- pensamos muitas vezes que se apanharmos alguns contrabandistas no "ato" e os mandarmos para a prisão e se lhes tirarmos o dinheiro, que estamos a fazer realmente algo. Digo-lhe com certeza que a menos que o façamos pelo menos 1000 vezes todas as semanas, nós não conseguimos nada. É necessário uma grande dedicação e trabalho policial para conseguir entrar nestas redes criminosas, perceber melhor como é que elas operam, descobrir como é que eles conseguem ganhar o seu dinheiro e impedir os lucros que provêm dos seus serviços. Isso significa um controlo monetário. 

Conosaba/DN


Presidenteatual , Instituto de Política de MigraçãoVídeos daEuropa: 1c. 1 de julho de 2014 - PresenteDistinguido Senior Fellow e Presidente emérito, Migration Policy InstituteVídeos: 1c. 1 de janeiro de 2001 -Co-Fundador e Co-Diretor, Vídeos do Instituto de Políticas de Migração: 6c. 6 de junho de 1996 -Diretoratual , Política de Migração Internacional, Fundação Carnegie para Vídeos dePaz Internacional: 3

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