O ex-presidente da República de Cabo Verde Pedro Pires disse hoje que o Governo deve avaliar se defende os interesses de Cabo Verde ao isentar de vistos os cidadãos da União Europeia, considerando que deve haver contrapartidas.
"Cabo Verde deve defender sempre os seus interesses. Quando nos valorizamos é quando defendemos os nossos interesses. Não somos por nem contra ninguém, somos por nós mesmos. Portanto, a governação deve ver se está a defender os interesses de Cabo Verde ou se não está", disse Pedro Pires.
O ex-Presidente da República falava hoje aos jornalistas, na cidade da Praia, à margem de uma visita à recém-criada Fundação José Maria Neves para a Governança, de que é fundador e patrono o ex-primeiro-ministro de Cabo Verde.
O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, anunciou, segunda-feira, a intenção de isentar de visto de entrada no país, a partir de maio, os cidadãos da União Europeia, incluindo do Reino Unido, medida classificada como "absurda" pelo ex-primeiro-ministro José Maria Neves e "avulsa" e "voluntarista" pelo maior partido da Oposição (PAICV).
Questionado pelos jornalistas, Pedro Pires escusou-se a comentar diretamente a medida, mas assinalou que "na vida não há almoços grátis".
"Dou, tens que me dar a contrapartida e a questão é saber qual é a contrapartida", disse Pedro Pires.
Sobre a criação da Fundação José Maria Neves para a Governança, o ex-presidente, que preside ao Instituto Pedro Pires para a Liderança, considerou positivo o surgimento de uma organização que vem dar um contributo para que o debate público não se esgote apenas nos partidos.
"É de interesse para o país e para a sociedade cabo-verdiana porque até hoje os debate sobre as questões públicas tem sido feito num regime de preto e branco. Um partido diz uma coisa e o outro diz o contrário, colocando-nos longe da verdade das coisas", disse.
Para Pedro Pires é, por isso, "interessante que apareça uma terceira intervenção por uma instituição com esta".
Sobre a possibilidade de campos de trabalho conjunto entre a Fundação e o Instituto Pedro Pires, o ex-Presidente da República considerou que é preciso analisar os projetos caso a caso, acrescentando que poderá haver colaboração no âmbito da rede de relações internacionais já constituída pelo instituto.
A Fundação José Maria Neves tem como objetivo promover a democracia, a boa governação e o desenvolvimento sustentável através da realização de conferências, debates, publicações e projetos.
Terá um centro de documentação, e gradualmente pretende-se avançar para a criação de uma escola de governação, de um instituto do ambiente e de uma editora.
José Maria Neves, do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), deixou o Governo de Cabo Verde em abril de 2016, após 15 anos de maiorias absolutas, e está atualmente a fazer um doutoramento em Políticas Públicas, em Portugal.
Conosaba/Lusa
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