Sem papas na língua, Isaltino Morais fala da sua passagem pela prisão, acusando a justiça de o ter condenado sem provas. Passos Coelho, Marcelo Rebelo de Sousa e a Geringonça foram outros temas que o entrevistado do Vozes ao Minuto de hoje abordou.
Passou 14 meses no interior de uma cela prisional, tendo-a dividido com outros quatro reclusos.
Quase três anos após a sua libertação - cumpriu metade da pena de dois anos a que foi condenado por fraude fiscal e branqueamento de capitais - Isaltino Morais diz que é injustificável o que se passou, garantindo que não existiam provas que o pudessem condenar.
Mas não é apenas a justiça que é alvo das críticas do ex-autarca que quer agora regressar ao cargo que ocupou durante mais de duas décadas em Oeiras. Passos Coelho também não escapou. Os elogios? Esses ficaram para Marcelo Rebelo de Sousa e para a 'Geringonça'.
A prisão é a face mais negra do Estado. Todos os dias temos de dizer a nós próprios quem somos para não perdermos a identidade
Não podemos embandeirar em arco, mas também não podemos ir no canto do PSD. Na minha opinião, estas políticas não degradam a situação dos portugueses. Este Governo está a demonstrar que havia alternativas à sangria que se estava a fazer à classe média.
Mas os impostos indiretos aumentaram.
Possivelmente até estamos a pagar mais, porque ao nível dos impostos indiretos foram aumentos significativos, mas ainda assim isso significa que havia alternativas. Onde eu acho que o Governo está a falhar, mas também o outro falhou, é ao nível da política de investimento, de criação de riqueza. Nós portugueses temos de trabalhar mais.
Defende o aumento do horário de trabalho?
Não, não é trabalhar mais horas, é produzir mais. Em Portugal produz-se pouco, mas quando um português emigra produz como produzem os trabalhadores locais. Há qualquer coisa na organização do trabalho no nosso país que não está bem. Ou é ao nível dos quadros intermédios, ou dos dirigentes, ou são problemas de formação. Temos de aumentar a nossa produção per capita. Se não aumentarmos a riqueza não a podemos distribuir.
Marcelo ultrapassou as expetativas todas que eu tinhaMarcelo Rebelo de Sousa está a ser um bom Presidente?
Excelente. Ultrapassou as expetativas todas que eu tinha. Há pouco falava em esperança e o Presidente da República teve um papel estabilizador, de equilíbrio, de otimismo. Tem tido um efeito muito positivo e teve um contributo extraordinário para acalmar a crispação política que havia em Portugal.
"Se estivesse satisfeito com Paulo Vistas não me candidatava"
Isaltino Morais está de volta à vida política ativa depois de uma interrupção forçada devido à pena de prisão efetiva que teve de cumprir por ter sido condenado por fraude fiscal e branqueamento de capitais. A sensivelmente seis meses das eleições autárquicas, o ex-autarca de Oeiras conversou com o Notícias ao Minuto sobre as razões que o levaram a candidatar-se novamente à Câmara que dirigiu durante 24
As pessoas pediram e Isaltino acedeu. O ex-autarca de Oeiras está novamente na corrida à liderança da autarquia oeirense, convicto de que a vitória será sua, pelo menos a julgar pelas abordagens de que tem sido alvo por parte dos munícipes.
Aos 67 anos, Isaltino mostra a mesma vontade em fazer mais e melhor por Oeiras que mostrou em 1985, quando se candidatou pela primeira vez.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o candidato explicou que a gestão do seu 'discípulo' não o satisfez nem a si, nem à população, razão pela qual avançou com uma candidatura, caso contrário, assevera, a autarquia seria entregue ao PS.
Isaltino afirma ainda que depois de ter conseguido ter no seu município as melhores escolas, agora vai trabalhar para ter os melhores alunos.
E o SATU é mesmo para acabar de construir. Palavra de Isaltino.
Porque é que decidiu candidatar-se às eleições autárquicas deste ano?
Eu sempre andei muito na rua, sempre falei muito com as pessoas e nos últimos dois anos foi aumentando a pressão dos munícipes, dizendo-me que não estavam satisfeitos e que gostavam que eu voltasse à Câmara Municipal de Oeiras (CMO).
Os oeirenses estão insatisfeitos com o quê?
Oeiras criou uma identidade muito forte. As pessoas que cá vivem e trabalham têm orgulho no município, mas sentem que isso se foi perdendo em simultâneo com uma certa perda de voz da CMO na área Metropolitana de Lisboa. Os oeirenses estavam habituados a que Oeiras fosse uma referência no contexto metropolitano em todo o país e começaram a sentir que isso se estava a perder.
A perceção com que eu fui ficando foi a de que se eu não me candidatasse quem ganharia a Câmara Municipal de Oeiras seria o PSOs restantes candidatos contribuíram para a sua decisão?
A minha decisão só poderia ser tomada depois de conhecer os restantes candidatos. No PSD houve muitas hesitações, que tem muito a ver com as hesitações do partido a nível nacional. O PSD entrou numa deriva muito à Direita, o que fez com que desvalorizasse o poder local e isso viu-se pelas medidas que o governo PSD/CDS tomou relativamente às autarquias. Face ao descontentamento do eleitorado a perceção com que eu fui ficando foi a de que se eu não me candidatasse quem ganharia a CMO era o PS.
Candidata-se com que objetivo?
Eu não me candidato para dar continuidade ao que já fiz, mas sim para fazer melhor. O que é importante num presidente de uma Câmara é ter uma visão do território e uma visão sociológica da comunidade para desenvolver projetos e programas que sejam capazes de garantir a competitividade do município. É preciso criar mais emprego e condições para atrair mais empresas para o concelho. O que eu quero é Oeiras na vanguarda, como sempre esteve.
Em que áreas tem planos para atuar?
Há políticas a que é preciso dar continuidade, como é o caso da habitação, uma área em que o município de Oeiras foi pioneiro ao ser o primeiro a acabar com as barracas. Mas não está resolvido o problema. A pobreza não se resolve numa geração. A pobreza vai-se resolvendo ao longo de várias gerações.
A educação também tem um papel importante na erradicação da pobreza.
A melhor forma de resolver a pobreza é através da educação. Temos de dar cada vez mais meios para que os jovens de famílias carenciadas tenham acesso ao Ensino Superior. O meu programa de 2009 era fazer em Oeiras as melhores escolas do país. E fizemos.
E agora, o que pretende para a educação?
Agora queremos ter os melhores alunos. Para isso tem de haver políticas de apoio aos professores, aos pais e aos alunos. Os pais têm de ser sensibilizados para que acompanhem os estudos dos filhos e os filhos têm de ser sensibilizados para respeitar os professores e para estudarem e se prepararem, não para passar, mas para saber.
Oeiras não tem pobres ou eles existem, mas estão escondidos?
É provável que Oeiras seja o município com menos pobres. Mas tem. Nos bairros sociais existem ainda 4 ou 5 mil famílias com dificuldades. Em 2011 havia no concelho 15 sem-abrigo. Neste momento haverá um número incipiente. Também há a pobreza envergonhada e haverá sempre. O que é preciso é que seja residual e temos de criar condições para isso.
Eu não me candidato para dar continuidade ao que já fiz, mas sim para fazer melhorComo é que Oeiras viveu os anos da crise?
Melhor do que a maior parte dos municípios. Acho que ultrapassou melhor essa fase porque tem a média salarial mais elevada e a mais baixa taxa de desemprego da área metropolitana de Lisboa. É preciso manter e aumentar esses indicadores.
O que é que correu mal com o SATU?
Na minha opinião houve um erro quando, em 2005, a então presidente, Teresa Zambujo, inaugurou o SATU que nunca devia ter entrado em funcionamento até a primeira fase – que liga Paço-de-Arcos ao Lagoas Parque – estar concluída (a segunda liga o Lagoas Park ao Tagus Park). O certo é que foi inaugurado apenas 1,5 km até ao Oeiras Parque, o que é o mesmo que deixar-se uma ponte a meio do rio. Depois veio o governo PSD/CDS que aprovou uma lei que levou à extinção da empresa e o SATU é hoje um equipamento municipal.
Tem planos para o SATU?
Vou concluí-lo. Estou convencido que até 2019 estará no Lagoas Parque.
Como avalia o mandato de Paulo Vistas?
Não me pronuncio sobre isso. Quem avalia são os eleitores, mas estou convencido de que se eles estivessem satisfeitos não me abordavam na rua como abordam, nem veriam em mim alguém que trará mais progresso e desenvolvimento ao concelho. Se estou satisfeito com a gestão dele? Não, não estou, caso contrário não me candidatava.
Eu e Paulo Vistas não temos uma relação pessoal praticamente desde que fui preso.
Falou com ele antes de avançar com a sua candidatura?
Não.
Mas ele acusou-o de ter andado a sondar os atuais presidentes de Junta…
Isso já foi esclarecido. Os presidentes de Junta já disseram que não falei com eles e eu já disse que os munícipes que vão fazer parte da minha lista são uma nova geração de classe política. Os candidatos a presidentes de Junta são todos caras novas.
Então por que razão Paulo Vistas afirmou que sim?
Não faço ideia. Pergunte-lhe a ele.
Não tem qualquer tipo de relação com ele?
Não. Há muito tempo... Se nos encontrarmos falamos e cumprimentamo-nos. Mas uma relação pessoal não a temos praticamente desde que fui preso. Não tenho já uma relação de cumplicidade.
Ele afastou-se?
Eu saí há três anos da prisão e nunca mais tive uma relação de proximidade com ele. Mas isso como calcula não era a mim que competia... mas não quero falar sobre isso.
Espero que o embate seja entre mim e o Joaquim Raposo (PS) e é isso o que as sondagens dizemEspera-se que o grande embate em Oeiras seja entre o dr. Isaltino e o dr. Paulo Vistas.
Eu espero que seja entre mim e o Joaquim Raposo (PS) e é isso o que as sondagens dizem.
E o candidato do PSD?
O atual presidente da comissão política de Oeiras, o dr. Ângelo Pereira, é uma pessoa por quem tenho o maior respeito. É um jovem que pode ser uma aposta no futuro, admito que sim, se ele continuar. O que me parece é que o PSD não fez uma aposta para ganhar a eleição.
noticiasaominuto.com Conosaba do Porto
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