Disputa-se, hoje, a primeira volta das presidenciais em França. Emmanuel Macron e Marine Le Pen são apontados como favoritos à vitória, mas, no atual clima de incerteza e insegurança, não se pode descartar qualquer cenário.
No dia em que se deslocam às urnas para a primeira volta das eleições presidenciais, os franceses vivem sob um tenso clima político e social, marcado pelo estado de emergência em que vivem e por um sistema partidário que parece estar a colapsar.
Hoje, no boletim de votos, os eleitores vão encontrar nove candidatos e duas candidatas. Para ser eleito logo à primeira volta, o vencedor precisa de obter mais mais de 50% dos votos. Partindo do pressuposto de que nenhum conseguirá o número mágico, os dois mais votados enfrentam-se duas semanas depois, na segunda volta.
Segundo as sondagens divulgadas pela Bloomberg, os favoritos à vitória são Emmanuel Macron (24% das intenções de voto), antigo ministro da Economia de Manuel Valls, que não se considera nem de esquerda nem de direita, e Marine Le Pen (22,5%), líder do partido de extrema-direita Frente Nacional, que promete referendar a presença francesa na União Europeia, bem como impor medidas intransigentes relativamente aos imigrantes, particularmente se forem muçulmanos.
No entanto, é prematuro e imprudente dar como certo o confronto entre Le Pen e Macron. François Fillon (19,5%), do partido de direita Os Republicanos e Jean-Luc Mélenchon (18,5%), líder do movimento França Insubmissa, apoiado pelos partidos de esquerda radical, estão praticamente colados aos dois favoritos.
A corrida é disputada a quatro e qualquer um destes candidatos poderá figurar nos primeiros lugares. No entanto, na eventualidade de Le Pen chegar à segunda volta, as sondagens indicam que qualquer candidato a venceria.
Estado de emergência e o fantasma de Trump e do Brexit
Pela primeira vez na história da Quinta República de França, o ainda Presidente François Hollande decidiu não se recandidatar a um segundo mandato. Na origem da decisão está a sua impopularidade, fruto da situação económica do país e da forma como lidou com a questão do terrorismo.
A impotência de Hollande em serenar os ânimos no país é sintomática do clima de medo e tensão que se vive em França, a viver sob estado de emergência desde os atentados de Paris, em novembro de 2015.
Quando, hoje, colocarem a cruz no boletim de voto, os franceses ainda terão a memória fresca com o ataque nos Campos Elísios, que causou dois mortos (incluindo a do atacante) e três feridos, bem como as detenções da passada terça-feira, em Marselha, de dois homens que planeavam atacar os candidatos presidenciais e que, alegadamente, teriam ligações ao autodesignado Estado Islâmico.
Este clima de medo parece favorecer, particularmente, Marine Le Pen, que tem pedido medidas duras em relação aos estrangeiros, colocando no mesmo saco imigrantes e terroristas, bem como François Fillon, que também endureceu o seu discurso no que toca a esta matéria.
A Frente Nacional aparece, pois, bem colocada para chegar à segunda volta. Em 2002, o então candidato da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, consegui passar à segunda volta, tendo então saído derrotado por Jacques Chirac, que venceu com 82,21% dos votos contra os escassos 17,79% obtidos pelo pai de Marine.
Quinze anos depois, apesar de uma vitória final ser improvável, é arriscado descartar a possibilidade de Le Pen poder chegar ao Palácio do Eliseu. No sistema eleitoral a duas voltas, os franceses votam “primeiro com o coração, depois com a cabeça”, explica o The Guardian, o que ajuda a perceber o porquê de forças mais extremistas, como a Frente Nacional, serem afastadas do poder.
Contudo, depois da vitória do Brexit e da eleição de Donald Turmp para a presidência norte-americana, em 2016, tudo mudou. Estes fantasmas vão pairar no ar, certamente, se a Frente Nacional chegar à votação final. Por essa razão, o medo de que o populismo chegue a França faz das presidenciais a eleição “mais emocionante de que há memória”, segundo a Economist.
Sistema partidário fragmentado e ceticismo em relação à Europa
Se as sondagens estiverem certas, a segunda volta das presidenciais poderá ser disputada por dois candidatos fora do sistema partidário tradicional. Caso tal aconteça, será a primeira vez em que nenhum dos candidatos dos partidos que têm governado França nos últimos 60 anos chegam à segunda volta.
Neste cenário, a antiga divisão entre esquerda e direita está a perder terreno para o confronto entre progressistas e conservadores. “O realinhamento resultante [das presidenciais] terá repercussões muito para além das fronteiras de França. Pode revitalizar a União Europeia ou destruí-la”, lê-se na Economist.
De olhos postos em França, os europeístas só têm motivos para ficarem preocupados. Dos quatro candidatos com possibilidade de chegar ao Eliseu, apenas Emmanuel Macron defende abertamente o projeto europeu, não deixando, contudo, de realçar a importância de equilibrar os poderes entre Paris e Berlim. Mélenchon e Le Pen, por seu turno, são bastante críticos em relação à União Europeia, apesar das diferenças na visão política e social de cada um para o futuro de França. Já Fillon, defende a permanência francesa na Europa dos 27, apesar do seu ceticismo.
Todos os cenários estão em aberto para hoje. Existem seis combinações de finalistas possíveis e a incerteza só será desvendada quando forem divulgados os resultados finais. A segunda volta disputa-se daqui a duas semanas, no dia 7 de maio.
Conosaba/noticiasaominuto
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