domingo, 9 de março de 2014

POESIA: DO *JOVEM POETA*, EDSON INCOPTE.


VAI E VAI CEDO

Ela vai…
Vai e vai cedo
Quando o dia 
Ainda nem nasceu

Vai sem levar 
Um beijo que seja 
Apenas deixa 
Nas mãos de Deus 
Aquele desejo 
O de todos os dias

Faça frio, faça calor
Ela corre atrás 
Do autocarro 
E do tempo
Corre sem parar 
Todo o dia 
O dia inteiro 

Vai aqui e ali
Cansada, mas vai
Muda de farda 
E de trabalho
Porque tem 
Na verdade 
Não um, nem dois
Mas três trabalhos 

Luta e dá de si 
Para que nada mais
Além dela 
Falte em casa 
Luta pensando 
Num melhor 
E mais seguro 
Amanha p’ra os seus 

Quando volta 
E volta tarde 
Depois do dia 
Ser finado 
Beija, finalmente
Este e aqueloutro 
E agradece a Deus 
A realização plena
Do desejo deixado 
O de todos os dias 

Cheia de fadiga
Não vai ao banho 
Cozinha com alma
Como só uma mãe faz
Cozinha pensando 
No dia seguinte 
Porque afinal 
Ela vai…
Vai e vai cedo
Quando o dia 
Ainda nem nasceu

Se não houver 
Roupa na máquina
P’ra estender
Nem no estendal 
P’ra apanhar 
Há que por a lavar
Porque afinal 
Ela vai…
Vai e vai cedo
Quando o dia 
Ainda nem nasceu

Depois do banho
Confirma o sono
Dos filhos, não dela
Só depois cai na cama
Enorme, mas vazio 
Para antes de dormir
Pensar no marido 
Que ficou para trás 
Lá no além-mar 
Na grande família
Que perante 
Um país problema 
Deposita nela
Todas as soluções 

Quando, por fim 
O sono vence 
Os pensamentos
Ela apaga-se
De tão cansada 
Abraçada ao fiel 
Mas inanimado 
Confidente 
O incomparável 
Travesseiro que 
Na realidade 
Suporta-lhe o espírito 

Só acorda 
Num habitual pulo 
Quando o som 
Do despertador 
Interrompe-lhe
O merecido silêncio
E veste-se apressada 
Mal se arranja 
Para mais uma vez 
Sair correndo 
Porque afinal 
Ela vai…
Vai e vai cedo
Quando o dia 
Ainda nem nasceu

Edson Incopté, 
Belfast, 30 de Janeiro de 2014

Sem comentários:

Enviar um comentário