A presidente da Rede Nacional de Jovens Mulheres Líderes (RENAJELF), Maneque Correia da Silva, afirmou que o índice de abandono escolar é mais acentuado nas regiões, por causa de casamentos forçados e a gravidezes precoces, razão pela qual a RENAJELF tem reforçado as capacidades das mulheres sobre a saúde sexual reprodutiva e a proteção contra doenças sexualmente transmissíveis.
Admitiu que o abandono escolar na Guiné-Bissau, sobretudo das meninas, é uma realidade, por isso a sua organização tem utilizado mecanismos de sensibilização e conversação com os familiares, pais e encarregados de educação e as próprias meninas nas atividades realizadas pela RENAJELF, na escola nacional das meninas líderes, onde a organização “trabalha incessantemente” para assegurar que a participação das meninas das regiões seja notável a todos os níveis.
Maneque Correia da Silva fez essa afirmação em entrevista exclusiva ao semanário O Democrata no âmbito do dia internacional das meninas líderes, que se assinala a 11 de outubro, sobre o processo de empoderamento das jovens meninas, o casamento precoce e forçado no país.
A ativista disse que o processo de empoderamento das meninas na Guiné-Bissau é uma realidade, tendo em conta a intervenção da sociedade civil, sobretudo das organizações que defendem os direitos das meninas.
“Se compararmos com há dez anos, vê-se claramente que agora é notável a participação das meninas e jovens raparigas nos lugares onde podem ter voz. Não era igual, não acontecia no passado. Outro elemento importante tem a ver com a participação massiva das meninas nos espaços de associativismo e protagonismo que têm assumido na luta pelos seus direitos e o direito à igualdade entre homens e mulheres”, assinalou.
MUTILAÇÃO GENITAL CRIA DIFICULDADES EM CONCEBER FILHOS E CRIA TUMOR NA REGIÃO VAGINAL
Lembrou que a luta contra as práticas nefastas e violência, seguindo sempre pelo caminho da educação e liderança das maneiras para que possam afirmar-se no processo de empoderamento é uma realidade, embora não sejam atingidas ainda as metas, de acordo com o número cinco dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, que prevê ter maior número possível de meninas no espaço de tomada de decisões, escolas e meninas livres de violência, do casamento precoce e forçado e da mutilação genital feminina.
A RENAJELF disse que a luta contra as práticas nefastas não é um objetivo realizado no país, contudo houve alguns avanços, sobretudo com a aprovação da lei que incrimina a excisão feminina, mas revelou que a mutilação genital continua a ser praticada às escondidas nas comunidades e nos serviços hospitalares.
“Existem pais que dão autorização aos técnicos de saúde para realizarem procedimentos de mutilação logo a nascença”, afirmou.
Questionada sobre os reflexos das práticas nefastas nas meninas, particularmente o fenómeno da mutilação genital feminina, Maneque Correia da Silva afirmou que existem consequências na saúde física da mulher, criando problemas no sistema reprodutivo, no aparelho genital.
“A mutilação genital cria um ambiente propício para infeções e doenças. Dificuldades para conceber filhos e mais grave ainda é que as mães ou os filhos acabam por perder a vida no parto, como também existem outros casos de tumores na área vaginal”, frisou, lembrando que a parte emocional tem a ver com a questão da exclusão social das meninas que já sofreram a mutilação genital feminina e auto exclusão no processo de liderança, empoderamento e até em namoro, porque “sentem-se vergonhadas e inibidas”.
Maneque Correia da Silva sublinhou que a sua organização desenvolve ações tendentes à erradicação do casamento precoce e forçado, como também muitos casos do abandono escolar, acrescentando que para além das denúncias que a organização faz, tira as vítimas das comunidades onde sofrem violência para a casa de acolhimento da AMIC, mas depois enfrenta problemas no momento do retorno às comunidades das vítimas, porque “os violadores não são punidos”.
“O que a RENAJELF faz é estar em contato permanente com os familiares das vítimas para garantir a proteção das meninas. O Estado não criou condições, nem casas de acolhimento suficientes para assegurar a proteção de todas as meninas que sofrem abusos e casamento forçado ou precoce. Temos feito pressões, tanto com o ministério público na aplicação da lei contra os violadores como os pais e encarregados de educação e as próprias vítimas, através de polos regionais da nossa organização e incentivar as meninas para participarem nos eventos da organização, falando com liberdade sobre o que aconteceu com elas”, sublinhou.
A presidente da Rede Nacional de Jovens Mulheres Líderes disse que neste momento a organização está a entabular contatos com o ministério da mulher no sentido de trabalharem juntos na questão da participação das meninas no meio escolar, porque “não é justo exigir alguém para ir à escola, mas também temos que criar as condições para que as meninas possam ir à escola”.
“Existem algumas comunidades que têm apenas dois professores e o ensino termina no quarto ano de escolaridade. Isso obriga muitos pais ou famílias a mandarem os seus filhos para outras localidades e se alguém não tiver família para assegurá-la, fica fora do sistema”, lamentou.
“O mecanismo de sensibilização que utilizamos junto das famílias para deixarem as meninas estudarem tem ajudado em algumas localidades, mas também enfrentamos várias situações, sobretudo no leste do país, concretamente em Gabú”.
Denunciou que na região de Gabú uma equipa da RENAJELF foi expulsa de uma casa, porque o pai da menina que a organização queria ajudar entendeu que a sua filha estava a ser conduzida para o caminho errado, não obstante terem usado o processo de sensibilização com maior pacificidade possível.
“Às vezes, os ativistas da RENAJELF são expulsos de uma localidade, por abordarem temáticas da questão de igualdade de género e da participação das meninas no centro da tomada de decisões, mas espero que com o tempo, vamos conseguir mudar a mentalidade das pessoas sobre este assunto”, garantiu.
Maneque Correia da Silva informou que na zona leste do país o abandono escolar e casamento forçado são frequentes e que até ao momento a sua organização recebeu queixas de vários casos na região de Quínara, através de clubes das meninas da região, concretamente em Empada, de gravidez precoce de meninas de 13 e 14 anos de idade, que acabaram por abandonar a escola e em “Fulacunda, aconteceu também um caso de casamento forçado e de gravidez precoce, de maneira que aquela região já entrou no registo”.
“Quero aconselhar as meninas para investirem na educação como forma de chegar mais longe e ocupar lugares cimeiros de tomada de decisões, mesmo na educação formal ou não formal promovidas pelas organizações da sociedade civil. Aos encarregados da educação, devem deixar as meninas decidirem os seus futuros e seus corpos, porque não se pode empoderar uma menina que não tem espaço na sua casa sobre algum assunto para o bem da família”, referiu.
A ativista defendeu que neste particular, o Estado guineense deve trabalhar e reforçar as medidas de proteção das meninas e no cumprimento das leis sobre a violência e casamento forçado na Guiné-Bissau.
Por: Aguinaldo Ampa
Foto: A.A
Conosaba/odemocratagb
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