Os criadores de gado da região de Gabú confrontados com uma batalha permanente com ladrões armados com “AK-47”, clamam por segurança junto do governo para combater os gatunos a mão armados que invadem os seus corais, como também revelaram, neste particular, que anualmente perdem mais de quatro mil cabeças de gado, entre roubos e aqueles que desaparecem nas matas, mas que nunca mais são recuperados.
Os criadores afirmaram que as forças da ordem e de segurança alegam falta de meios de transporte para se deslocarem e muitas vezes os criadores, vítimas de roubo, assumem eles próprios criar as condições para a deslocação das forças policiais.
A situação contada pelos criadores de gado foi transmitida ao Jornal O Democrata pelo presidente da Associação de criadores de gado e suínos na Região de Gabú, Aladje Amadu Tidjane Candé, durante uma entrevista telefônica para falar das preocupações levantadas pela associação durante o 1º Fórum Regional de Concertação e de Diálogo Social sobre a problemática do roubo de gado, realizado no domingo, 15 de outubro de 2023, nas instalações do edifício do governo regional.
A realização do fórum é uma iniciativa do governo regional em colaboração com a associação de criadores do gado e contou com a presença da ministra do Interior e da Ordem Pública, Maria Adiatu Djaló Nandigna, Governadora da região de Gabú, Elisa Tavares Pinto, do representante do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, membros da associação dos criadores de gado, oficiais da Polícia de Ordem Pública, da Guarda Nacional e elementos das forças da defesa na região, bem como de elementos da delegacia do Ministério Público.
O fórum visa essencialmente encontrar uma solução sobre a problemática de roubo de gado, que os criadores apontam como um dos estrangulamentos à suas atividades e à economia, como também sensibilizar os criadores sobre os proveitos que podem tirar desta atividade para além da criação para a venda, mas também dinamizar a venda do leite bovino e engajar-se na transformação dos derivados de gado e a sua comercialização.
CRIADORES PAGAM IMPOSTOS AOS LADRÕES COMO GARANTIA PARA NÃO SEREM ROUBADOS
A associação de criadores de gado e suínos, criada em 2001, conta atualmente com 1789 membros. A região de Gabú, de acordo com o recenseamento de gado feito em 2009, detinha 657 326 (seiscentos cinquentas e sete mil e trezentos vinte seis) gados, contudo a associação afirma que atualmente dispõem de mais de um milhão.
Aladje Amadu Tidjane Candé explicou que a realização do fórum deve-se às preocupações de roubos constantes que a associação apresenta as autoridades setoriais e regionais, tendo acrescentado as queixas diárias de roubo levou a governadora a concluir que era preciso criar um espaço do diálogo que envolvesse a associação, as autoridades regionais e os elementos das forças de segurança e da ordem para discutir a problemática do roubo e, consequentemente, encontrar uma solução capaz de estancar o fenómeno na região.
“O problema do roubo de gado é uma agenda nacional, por isso contamos com a presença da ministra do Interior e da Ordem Pública e elementos de todas as franjas da sociedade na região. Enaltecemos esta iniciativa do governo regional, porque permitiu-nos falar abertamente da problemática do roubo de gado”, disse, acrescentando que o Estado (as forças de segurança) conhecem os ladrões, mas não atuam por cumplicidade.
“Às vezes conseguimos apanhar os ladrões com muita coragem e sacrifício. Apresentamos estes gatunos às autoridades policiais e estes entregam-nos ao Ministério Público. Em dois dias encontramo-nos com os ladrões na rua sem serem julgados nem condenados. A vítima perde o seu gado e para além de arriscarmos as nossas vidas a enfrentar os ladrões. Não temos soluções. Entregamos os ladrões às autoridades para fazerem justiça, mas nada acontece”, disse, acusando as autoridades policiais de cumplicidade com os gatunos que assaltam os curais de gado.
Afirmou que há mais de 20 anos da criação da associação, os associados apenas assistiram ao julgamento de dois casos de roubo, denunciando que a cada dia são apanhados ladrões e entregues às forças policiais. Enfatizou que anualmente perdem mais de quatro mil cabeças das vacas, entre roubadas e desaparecidas nas matas que nunca mais são encontradas.
O presidente da associação revelou que alguns criadores do fundo das aldeias por temerem enfrentar o risco de perder a vida em confronto com os gatunos, eram obrigados a pagar um “imposto”, uma contribuição aos ladrões como garantia que não seriam assaltados e que os seus gados sempre estariam seguros.
“As pessoas, vítimas de roubo e em estado de aflição e consciente que as forças de segurança não conseguirão resolver o problema ou recuperar as vacas, acabam cedendo à pressão dos ladrões e cumprir a exigência de pagar 200 mil francos CFA ou mais para recuperarem o seu gado. Outras pessoas, criadores, antecipadamente dão-lhes dinheiro até 200 mil CFA para pedir proteção”, denunciou e criticou a passividade das autoridades policiais, que “mesmo tendo informações não fazem nada”.
Avançou que um dos ladrões capturados, cabecilha do fenómeno residente na aldeia de Coida, a cinco quilómetros da cidade de Gabú, passa agora todo o tempo a extorquir os criadores em nome de dar apoio e total garantia que não serão roubados.
“Essa pessoa chegou a ser detida, mas conseguiu sair das celas. Desta vez com a colaboração da associação foi detida novamente, porque nos últimos tempos, tem estado a ameaçar a vida dos dirigentes da associação que foram denunciá-lo. Este jovem tem uma quadrilha de roubo constituída por jovens e crianças. Até crianças assaltam os curais para roubar gado. Estes miúdos roubam e contactam o jovem cabecilha, que pede resgate ao dono para recuperar as vacas perdidas. No mínimo 200 mil CFA ou mais. Se o dono pagar o valor exigido, terá a sorte de recuperar o gado, mas nem sempre acontece”, disse.
GOVERNADORA DE GABÚ: “É PRECISO BANIR FATORES CULTURAIS NA CRIAÇÃO DE GADO”
Interpelada via telefónica para falar dos objetivos da realização do Fórum e das recomendações produzidas, Elisa Tavares Pinto, governadora da região de Gabú, disse que as autoridades regionais lançaram a iniciativa de realizar o primeiro Fórum de auscultação sobre o roubo de gado na região como uma das estratégias de combate ao fenómeno e ajudar a resgatar a Associação dos Criadores que, por causa dos efeitos da prática excessiva de roubo de gado, se tem concentrado apenas em prender os ladrões e combater a prática.
“Os criadores têm-se concentrado apenas no combate e em prender os ladrões, não têm trabalhado muito naquilo que é o desígnio da organização, desenvolver o setor. Estamos a trabalhar para resgatar esse setor e mostrar aos criadores que é um setor que tem muitas potencialidades que podem ser aproveitadas e transformar não só a vida económica da região, como também de todo o país”, disse.
A governadora destacou como uma das primeiras recomendações, a criação pelas autoridades nacionais de condições de segurança aos criadores e o apoio dos parceiros de desenvolvimento ao setor, através das solicitações da Associação dos Criadores de Gado, por ser uma das principais atividades económicas da região.
Elisa Tavares Pinto afirmou que a região tem milhares de cabeças de gado, mas os resultados não são sentidos, tanto a nível dos criadores como no tesouro público, razão pela qual defendeu que é preciso capacitá-los e investir seriamente para que possam explorar o setor da criação.
“Vender apenas carne não pode desenvolver o setor. É preciso explorar, transformar e comercializar todos os derivados, nomeadamente chifres, couros, leite, para potencializar as atividades dos criadores e colocar o produto final ao consumidor guineense, sem ter que importar nada”, defendeu.
A governadora reconheceu que as forças de segurança e da ordem pública não têm sido capazes de estancar o fenómeno, por isso as autoridades e as estruturas regionais decidiram transformar as reuniões internas sobre a problemática de roubo de gado na região num Fórum, incluindo o governo central e os parceiros de desenvolvimento.
“Os criadores usam muito pouco o gado a seu favor, devido a fatores culturais. Um criador prefere acordar todos os dias sentado na pobreza e a ver o gado como espelho do queexplorá-lo. É preciso trabalhar essa componente para que tenham a cultura de explorar gado e viver bem. Não é possível um criador com cinco mil cabeças de vaca viver na pobreza extrema, devido a fatores culturais, não”, defendeu.
A Associação dos Criadores de Gado da região de Gabú tem acusado as forças de segurança e da ordem pública de cumplicidade no roubo de gado, estes por sua vez alegam falta de meios para fazer face ao fenómeno.
Confrontado com a situação, Elisa Tavares Pinto informou que a ministra do Interior e da Ordem Pública prometeu trabalhar seriamente para minimizar a falta de recursos materiais nas regiões, contudo pediu engajamento e sentido de responsabilidade das autoridades policiais no combate ao fenómeno.
“O PNUD está empenhado em ajudar, apenas está a aguardar as resoluções. Os criadores também precisam de trabalhar para que as resoluções saídas do fórum sejam transformadas num plano de ação e, consequentemente, num projeto para que possam beneficiar de apoios do governo regional e dos parceiros de desenvolvimento. O governo regional envolveu parceiros no fórum como uma das estratégias para conseguir apoios para avançar com projetos de desenvolvimento do setor de criação de gado bovino e suínos”, declarou.
Por: Assana Sambú/Filomeno Sambú
Conosaba/odemocratagb.
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