segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Quadra festiva: ASSOCIAÇÃO “BUBABACALHAU” CRITICA OS GUINEENSES QUE PREFEREM O BACALHAU IMPORTADO


As mulheres da associação de centro de transformação de Bacalhau deBuba (BUBABACALHAU), criticam os consumidores guineenses que alegam preferirem mais o bacalhau importado de Portugal em detrimento daquele que é transformado no país, pelo que pedem a intervenção urgente do governo para ajudá-los a desenvolver as suas atividades com maior capacidade de produção e da maior qualidade para poderem ganhar o mercado nacional e, começarem a exportar, de acordo com as solicitações.

Em entrevista telefónica ao Jornal O Democrata para falar da evolução das trocas comerciais e a procura da bacalhau de Buba nesta quadra festiva, Sene Nhabali, presidente da Associação das Mulheres do Centro de Transformação de Bacalhau “Bubabacalhau” disse que há pouca procura e que o negócio reduziu, porque há fraco poder de compra dos consumidores, ressaltando que apenas ela (Sene Nhabali) e algumas mulheres do Centro têm enviado para Bissau algumas vezes, o pouco que produzem com meios próprios.

“BUBACALHAU É PEIXE FRESCO TRANSFORMADO, MELHOR DO QUE O BACALHAU IMPORTADO”

Lamentou que os guineenses tenham manifestado pouco interesse no bacalhau do centro, desde que entrou em funcionamento.

“Apenas algumas pessoas têm procurado manifestar interesse ao nosso bacalhau, mas confesso-lhe que a troca comercial neste momento, sobretudo nesta quadra festiva do Natal e Ano Novo, está muito difícil. Acreditamos que a falta de poder de compra e atrasos no pagamento dos funcionários públicos têm condicionado e deixado indecisas muitas famílias que pretenderiam ir às compras”, lamentou e disse que os países vizinhos nunca se interessaram pelos produtos da Guiné-Bissau.

Afirmou que desde 2022, o centro tem produzido pouco e criticou que o pescado esteja a ser comercializado muito caro.

Segundo a presidente da Associação das Mulheres do Centro de Transformação de Buba, um quilo de peixe fresco custa-lhes 1.500 francos FCA, mesmo assim decidiram continuar a fazê-lo para não ficarem paradas.

“Despois de transformarmos o peixe fresco em bacalhau, vendemo-loa dez mil francos por quilograma. Porque três quilos de peixe fresco correspondem a um quilo de Bacalhau transformado”, esclareceu e disse que talvez a diferença entre o Bacalhau da Guiné-Bissau e de Portugal esteja no período de conservação.

“O Bacalhau de Portugal faz anos conservado, enquanto o da Guiné-Bissau são peixes frescos transformados em Bacalhau e consumidos em pouco tempo, não leva o tempo que o de Portugal leva conservado para ser consumido”, indicou.

Sene Nhabali afirmou que a associação que lidera tem neste momento 22 mulheres associadas, mas poucas estão ativas, devido a problemas financeiros, como também o centro não fornece o bacalhau a nenhum dos supermercados em Bissau, mas nos corredores e em diferentes mercados de Bissau, as mulheres clientes compram o bacalhau do Centro de Buba.

“O IBAP era o nosso intermediário. Ajudava bastante as mulheres da associação a encontrar compradores. Com UICN e Nelson Dias à frente dessa organização, era um alívio. Ajudavam muito as mulheres. Promoviam-no na televisão e em outros meios de informação as nossas atividades e a qualidade da nossa produção para encontrar compradores”, enfatizou.

A ativista informou que neste momento, as mulheres do centro estão a enfrentar dificuldades em encontrar clientes que possam corresponder às suas expectativas e dinamizar as suas atividades.

Criticou o fato de os guineenses priorizarem, discriminadamente, os produtos importados em detrimento de os que são produzidos localmente e defendeu que esse comportamento deve ser banido dos hábitos dos cidadãos nacionais.

“Não temos tido apoios das ONG`s que operam no setor. O governo, através do ministério das pescas, apoiou-nos na reabilitação do centro e neste momento estamos no processo de gradeação.

Revelou que a falta de dinheiro, associada à crise política na Guiné-Bissau e à crise financeira internacional, levou muitas associadas daorganização a abandonarem a atividade de transformação de bacalhau, apenas as resilientes continuam a persistir.

“Para suportar a transformação, fazemos outras pequenas atividades geradoras de rendimento para angariar dinheiro para comprar o pescado. Não tem sido fácil para nós, senhor jornalista. Por isso, apenas cinco resilientes estão a resistir até ao momento. A intervenção das ONG´s quase que é nula nas nossas atividades”, lamentou.

Criticou o comportamento dos pescadores associados do Rio Grande de Buba que não têm facilitado a vida às mulheres nas suas atividades, sobretudo quando estas enfrentam crises de falta de dinheiro para comprar o pescado.

“São associados, porque havia peixe em grande quantidade, mas não quer dizer que ajudam as mulheres, não. Fomos treinadas na componente da horticultura de malagueta para transformação dabicuda, mas como havia muita produção Nelson Dias propôs-nos que mudássemos os métodos e o formato de trabalho e que passássemos à transformação de Bacalhau. Foi neste quadro que muitos centros que já estavam inativos foram recuperados”, esclareceu.

FALTA DE DINHEIRO CONDICIONA RETOMA DE TRANSFORMAÇÃO DE BACALHAU EM EMPADA E FARANCUNDA

Admitiu que trabalham sob pressão e riscos de perder tudo e sobrar com nada, só para garantir que o centro que lidera não caísse na mesma história de muitos que já não funcionam, tendo lembrando que apenas a ONG DIVUTEC chegou a dar um empréstimo de seiscentos mil francos CFA a 35 mulheres do centro.

Lembrou que no quadro das ajudas que têm recebido de parceiros, a AMAE – Associação das Mulheres em Atividade Económica, injetou um milhão de francos CFA à organização e cada beneficiou de cinquenta mil francos CFA.

“O apoio da UICN era em fundo perdido, não nos preocupávamos com isso, mesmo assim trabalhávamos como se tivéssemos a obrigação de reembolsar algo. Tínhamos caixa, mas o conflito político militar de 7 de junho minou todas as iniciativas e a determinação de Nelson Dias, UICN, que investiu muito dinheiro no centro e nas atividades das mulheres”, assinalou.

De acordo com Sene Nhabali, no universo de 22 mulheres que a organização tem neste momento, apenas cinco mantêm-se ativas, porque “recorremos a outras pequenas atividades, vender nos mercados, fazer hortaliças… para manter o centro funcional. Fumávamos e secávamos o pescado como alternativa à nossa atividade e para sobreviver às crises que, de quando em vez, enfrentamos na organização”.

“Hoje não é assim. Temos falta de gelo. Na época das chuvas realizamos as mesmas atividades”, disse, lembrando que neste momento todos os instrumentos colocados pelo ministério das pescas, à disposição do centro para a secagem do pescado está em ruína.

Revelou que o rendimento resultante das suas atividades tem ajudado as mulheres. Algumas construíram casas próprias e suportaram os estudos universitários de uns dois filhos, frisando que um dos desafios do centro e as associadas é que no futuro próximo comece a abastecer todos os mercados do país. Contudo, defendeu que será necessário um financiamento sustentável para que esse desafio seja atingido.

Sene Nhabali informou que desde que a PESCARTE assumiu a gestão da fábrica de gelo as coisas não têm corrido bem, fato que terá levado as estruturas das pescas a confiarem a gestão da fábrica à confederação das associações dos pescadores do Rio Grande de Buba, incluindo a das transformadoras do bacalhau de Buba.

“A fábrica tem tido problemas nos últimos tempos e há dias não havia gelo, porque estava com avaria. O problema tinha a ver com a falta de gás, mas há informações de que foi ultrapassada, apenas aguarda-se o técnico”, disse, lembrando os problemas são gerais a outros setores onde haviam centros deste género a funcionarem plenamente.

A presidente da Associação das Mulheres do Centro Bubacalhau afirmou que a falta de dinheiro está a condicionar a retoma das atividades de transformação do bacalhau nas localidades de Empada e Farancunda, dois centros inativos há vários anos e as mulheres relegadas à fome e a outros fenómenos.

Sene Nhabali afirmou que a produção diminuiu porque alguns tradicionais pescadores da pesca artesanal estão a ficar velhos e não conseguem fazer-se ao mar por muito tempo, bem como a falta de materiais e redes autorizadas para a pesca naquela zona, o que acaba por levar muitos a violarem as regras, utilizando redes proibidas para poderem sobreviver.

“Têm noção que essas redes são nocivas ao ecossistema marinho e que a sua utilização indevida pode provocar a fuga de peixes de uma zona para outra, porque quando capturam peixes com essas redes, muitos morrem e contaminam o ambiente e se o ambiente não for favorável, os sobreviventes tendem a abandonar esse local”, esclareceu, tendo apelo à direção-geral da pesca artesanal a trabalhar em parceria com os pescadores do Rio Grande de Buba, abrir uma loja de venda de materiais, apoiá-los com materiais de pesca, bem como treiná-los em matéria de conservação do ecossistema marinho e dos perigo que a pesca não recomendada representa aos recursos do mar.

“O nosso maior entrave neste momento é a falta de meios financeiros e de conservação do pescado. Não usamos tarrafes, porque foi-nos recomendado que é uma prática nociva contra o meio ambiente. Usamos lenhas de outras árvores. É um processo longo, de meses, sobretudo a transformação, mas temos lidado com dificuldades”, disse.

A presidente da Associação das mulheres do centro frisou que devido à escassez de peixes grandes na época seca, a produção do bacalhau só se faz em grande quantidade na época das chuvas, porque nesta época são capturados peixes grandes em grande número.

Para além dessa atividade de transformação do pescado, no período em que não há captura de peixes grandes, as mulheres dedicam-se a outras atividades de pequeno rendimento, como alternativa. Algumas canalizam os seus lucros para a compra de peixes aos pescadores artesanais para vender nos mercados arredores e outras aplicam-nos na compra e revenda de produtos e legumes nas feiras ou noutros mercados próximos de Buba.

Essa estratégia, segundo Sene Nhabali, foi adotada porque dentro da associação, embora sejam todas vendedeiras de peixes e do ramo de transformação de pescado, algumas são membros de famílias de pescadores, que conseguem a todo o tempo dedicar-se à essa atividade de venda e transformação do pescado, tanto na época da seca como na das chuvas.

“Faz parte dos planos do projeto, porque a maior parte é vendedora de peixes e do ramo de transformação do pescado e porque também uma parte das mulheres tem familiares pescadores que as fornecem peixe a todo o tempo, por isso dedicam-se inteiramente a esse ramo. Nós quenão temos essa oportunidade, recorremos a atividades alternativas para garantir a autossuficiência familiar, sobretudo nos períodos em que o centro praticamente fica inativo, apenas com um número reduzido das associadas”, informou.

De acordo com Sene Nhabali, neste momento, quem está a dinamizar o centro é a vice-presidente da associação, mas está a fazê-lo com muitas dificuldades.

Disse que se tivessem apoios necessários, cada membro do centro seria capaz de produzir cerca de trezentos quilogramas ou mais de bacalhau por ano.

NHABALI: “SE O CENTRO FECHAR ESTAREMOS SUJEITAS À CRISE DE FOME”
“A promotora desta iniciativa é a UICN, que teve apoio da República Popular da China. A UICN em parceria com a embaixada da China mobilizou os técnicos do ministério das pescas que treinaram as nossas associadas em vários domínios e técnicas de transformação e conservação do pescado. A dinâmica que o projeto tinha com o apoio de Nelson Dias à testa da UICN era notável, mas nos últimos tempos as coisas não têm andado muito bem”, indicou.

Sene Nhabali apelou ao governo a dar a maior atenção às mulheres de pequenas iniciativas geradoras de rendimento económico, das cooperativas agrícolas, das organizações camponesas, empreendedoras para poder lutar contra a fome, promover o desenvolvimento e o bem-estar social da população. Enfatizou o papel da AMAE- A Associações das Mulheres em Atividade Económica, na dinamização das atividades das mulheres transformadoras de bacalhau.

“Portanto, o executivo tem de tratar todas as organizações com iniciativas desta natureza em pé de igualdade”, concluiu, lembrando que o centro tem ajudado muito no escoamento de pequenas capturas no período de repouso biológico.

Lamentou que não tenham beneficiado de nenhum apoio financeiro durante a vigência da pandemia da Covid-19 e tenham sobrevivido apenas com esforços internos.

A presidente da Associação das mulheres do Centro de transformação de Bacalhau de Buba defendeu que é urgente a recuperação do centro, que neste momento está a representar uma ameaça à integridade das transformadoras, porque” o teto tem fendas e neste ano praticamente abandonamos o centro”.

“Estamos a trabalhar num lugar alternativo fora do centro, que nos dá mais garantias e segurança. Todos os materiais úteis foram retirados dela para esse local que escolhemos como alternativa”, afirmou.

Por: Filomeno Sambú
Conosaba/odemocratagb

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