domingo, 17 de agosto de 2025

Escassez do pescado: PESCADORES ARTESANAIS PEDEM AJUDA AO GOVERNO E CLAMAM PELA REVISÃO DE ACORDOS DO SETOR DAS PESCAS


Os pescadores artesanais interpelados pela nossa equipa de reportagem defenderam a necessidade urgente de as autoridades nacionais e os parceiros de desenvolvimento da Guiné-Bissau apoiarem os pescadores nacionais para ultrapassarem as dificuldades que encontram, bem como exortam ao governo no sentido de reestruturar e rever os acordos de pescas assinados com os parceiros para a sustentabilidade do setor.

Os pescadores lamentam que trabalham em situações de precariedade, sem meios e muito menos apoios da parte do governo, contudo denunciaram a invasão de pescadores estrangeiros nas águas territoriais do país.

Falando ao Democrata, Tute Armando José, um dos pescadores artesanais interpelados pela nossa reportagem, disse que a invasão dos estrangeiros ao mar guineense obrigou aos pescadores nacionais a abandonarem as zonas tradicionais das suas atividades por medo de serem atacados ou mortos no mar.

“PESCADORES ESTRANGEIROS TÊM MAIS PRIVILÉGIOS DO QUE OS PESCADORES NACIONAIS”

“Trabalhamos em péssimas condições e com falta de materiais de pesca. Enfrentamos muitos desafios como a invasão dos estrangeiros ao nosso mar”, denunciou, apontando que essa situação levou-os a abandonarem zonas tradicionais das suas atividades porque não conseguem fazer uma pesca desejada para ajudar a população guineense.

“Os próprios pescadores nacionais que se esforçam para abastecer o mercado com o pescado enfrentam riscos. É um trabalho muito difícil, ainda assim os pescadores estrangeiros têm mais privilégios do que os pescadores nacionais”, disse e revelou que se os fiscais flagram pirogas estrangeiras no mar não fazem apreensões e deixam-nos a pescar livremente mesmo que estes representem ameaças a ecossistemas marinhos, porque injectam dinheiro, o que não acontece com os pescadores artesanais guineenses que são capturados e multados em somas avultadas.

Preocupado com a situação de acordos assinados no setor das pescas, o pescador sugeriu que esses instrumentos rubricados com diferentes parceiros e países em diferentes setores das pescas fossem revistos ou reestruturado para a garantir a sustentabilidade do setor em causa.

“As coisas não estão a correr bem e é preciso que haja conjugação de esforços para garantir que nenhuma parte saia prejudicada. Todos devemos trabalhar para a sustentabilidade da pesca artesanal. As autoridades devem proibir a pesca irregular e não declarada. A evolução da pesca artesanal depende da regulamentação do setor. Os pescadores devem pescar com as redes grandes, número 34”, indicou.

Defendeu, neste particular, a proibição das redes pequenas 24, porque às vezes essas redes pequenas apanham peixes pequenos que não valem, tanto para o consumo quanto para a venda.

“Tudo isso não ajuda em nenhum momento a pesca nacional. Os barcos da pesca industrial violam sistematicamente as regras. Lançam as redes nas zonas proibidas, capturam peixes em grande quantidade e até peixes pequenos. Depois de aproveitarem os peixes grandes e deixam os peixes pequenos no lixo, provocando muita poluição no mar”, afirmou.

Indicou que para além de violarem as regras, lançam uma grande quantidade de sacos plásticos e outros resíduos ao mar, levando os nossos peixes a desaparecerem e na maioria das vezes os peixes abandonam certas zonas contaminadas.

“Se os barcos industriais e as pessoas que o fazem de forma abusiva deixarem de o fazer, teremos peixes em abundância nas nossas águas e a nossa situação poderá melhorar no futuro”, aconselhou e disse que as dificuldades que enfrentam no mar têm levado, às vezes, os pescadores a não venderem o produto a um preço acessível, porque se decidirem olhar pelas dificuldades do consumidor, continuarão a ser vítimas da sua generosidade.

Revelou que nem sempre conseguem dinheiro para comprar combustível para se fazerem ao mar o que “é muito complicado para nós e para o setor que a cada dia enfrenta desafios associados à falta de materiais e a outras atividades criminosas no mar”.

Tute Armando José foi crítico à atuação das autoridades nacionais e negou que os impactos na vida das pessoas e na economia nacional, por falta de pescado no mercado, não resulta da ação dos pescadores artesanais, porque fazem trabalho de pesca, pagam impostos mas até ao momento não têm visto nenhuma mudança nos serviços portuários, que acusa de cobranças demasiadas e “os custos que essa entidade estabelece são caríssimos, portanto tudo isso não ajuda”.

“Pelo menos, as nossas autoridades devem trabalhar na construção de frigoríficos em todos as regiões para conservação do pescado. Às vezes, não temos condição para conservar grande quantidade de pescado que capturamos durante a pesca e os peixes acabam por estragar. Quando enfrentamos essa situação e outras dificuldades, resolvemos vender peixes a um valor baratíssimo”, lamentou.

PEIXEIRAS QUEREM RESPOSTAS RÁPIDAS À MÁ QUALIDADE DO PESCADO

As peixeiras de diferentes mercados da capital Bissau disseram que estão apreensivas com a passividade das autoridades guineenses quanto à escassez do pescado no mercado nacional e, por isso, exigiram o abastecimento do mercado com pescado de qualidade, bem como regulamentação do preço para garantir que todos os cidadãos tenham acesso a esse produto.

Em entrevista ao jornal O Democrata para falar de escassez e da má qualidade do pescado colocado no mercado, Mia da Costa, umas das peixeiras do mercado do Porto de Bandim em Bissau, revelou que os peixes que compram para revender aos consumidores são caros, razão pela qual no mercado os peixes são vendidos aos consumidores a um preço um pouco alto para compensar as perdas e ganhar um pouco para continuar a sustentar as suas atividades e assegurar o bem-estar familiar.

“Nem todo o pescado colocado no mercado é de qualidade. Às vezes abastecem o mercado com peixes de pouca qualidade e as peixeiras mesmo sabendo que os peixes que estão a comercializar não têm qualidade vendem-nos por que querem dinheiro. A grande vítima continua a ser o consumidor final, que compra o peixe a um preço muito alto e de pouca qualidade”, denunciou e disse que se o pescado for de qualidade vendem uma grade a 30 mil francos CFA´s, mas o preço às vezes oscila, dependendo da pessoa porque pagam senhas à Câmara Municipal de Bissau a 2000 francos CFA´s ao dia.

Interpelado pelo repórter de O Democrata, Matchú Jorge Correia, consumidor, disse que o peixe consumido na Guiné-Bissau é de menor qualidade, porque “os vendedores apenas querem ganhar dinheiro e ponto final, não se interessam dos efeitos colaterais que os produtos que colocam no mercado pode representar à saúde pública.

“As autoridades devem adotar medidas rigorosas para situações desta natureza. Os consumidores devem ser tratados com dignidade, porque estamos a falar de vidas humanas que diariamente são colocadas. O peixe leva tanto tempo no frigorífico, antes de ser colocado no mercado à disposição dos consumidores. Perde algumas proteínas”, disse Matchú Correia, que defendeu o consumo de peixe fresco e de qualidade.

“Os pescadores e as peixeiras devem garantir que os consumidores tenham um consumo saudável, peixe fresco que não tenha durado uma eternidade no frigorífico”, insistiu e desafiou as vendedeiras a absterem-se de vender o peixe quando está em mau estado, estado de putrefação, por representar uma ameaça à saúde pública.

O consumidor defendeu que é necessário baixar o preço do pescado no mercado para que o último cidadão, com menor poder de compra, também tenha acesso aos produtos essenciais, sobretudo ao peixe de qualidade a um preço acessível.

Por: Agostinho Sousa
odemocratagb

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