terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Guiné-Conacri: dois mortos em manifestações contra a junta no poder


A autoestrada Fidel Castro, práticamente vazia, à entrada de Kaloum, na capital Conacri, segunda-feira 26 de Fevereiro. © Matthias Raynal / RFI

Dois jovens morreram a 26 de Fevereiro em Conacri, em confrontos com as autoridades, durante manifestações espontâneas no quadro da greve ilimitada iniciada esta segunda-feira no país, para exigir a libertação do sindicalista e jornalista Sékou Jamal Pendessa e protestar contra o preço elevado dos bens de primeira necessidade.

Conacri foi palco de violências esta segunda-feira 26 de Fevereiro, no primeiro dia de uma greve geral que contou com várias manifestações espontâneas. Dois jovens morreram atingidos por balas em confrontos com as autoridades e mais de uma dezena de manifestantes ficou ferida. Mamadi Keîta, 18 anos, e Abdulaye Touré, morreram respectivamente em Sonfonia, periferia da capital Conacri, e Hamdallaye, um dos bairros da cidade.

Nos outros bairros da cidade, nomeadamente na zona empresarial de Kaloum, há relatos de uma atmosfera atípicamente calma, o que se deve à forte adesão à greve. Escolas, lojas e bancos permanecem fechados; os serviços administrativos paralisados; as estações de gasolina e unidades hospitalares funcionam apenas com serviços mínimos.

A principal reivindicação (e prérequisito para qualquer tipo de negociação com a junta militar) prende-se com a libertação do líder do sindicato de imprensa, condenado a três meses de prisão. A diminuição dos preços dos produtos de primeira necessidade e o fim da censura mediática são outras exigências.

Esta greve ilimitada, prelúdio para potenciais mobilizações futuras, serve também para avaliar o peso das treze centrais sindicais grevistas, apoiadas pelos partidos políticos e pela sociedade civil, face à junta militar, que tem proíbido todas as manifestações e reprimido as vozes dissidentes.

O movimento de contestação que começou a 26 de Fevereiro é inédito desde que Mamadi Doumbouya tomou o poder em 2021.

O secretário-geral da Confederação nacional dos Trabalhadores da Guiné-Conacry, Amadou Diallo, apelou a prosseguir a greve no caso de as reivindicações não serem atendidas: "Fico agradecido com o clima de adesão a esta greve em todo o território nacional. felicito todas as centrais sindicais profissionais que se juntaram ao movimento sindical guineense. O Governo e o patronato perceberam que têm camaradas que podem ir no sentido contrário das suas vontades. A greve continua até que todos os pontos de reivindicação sejam satisfeitos. O primeiro ponto é a libertação imediata e sem negociações do jornalista Jamal Pendessa, depois, a diminuição dos produtos de primeira necessidade e, por fim, o fim da censura das ondas radiofónicas".

A 19 de Fevereiro, o chefe da junta no poder anunciou por decreto a dissolução do Governo em função desde Julho de 2022. Amara Camara, um porta-voz da junta militar avançou que "a gestão dos assuntos internos será assegurada pelos directores de gabinete e os secretários gerais adjuntos até ao estabelecimento de um novo Governo", sem avançar nenhuma data para o efeito nem fornecer qualquer explicação quanto à dissolução.

A junta, liderada pelo coronel Mamadi Doumbouya, que tomou o poder em Setembro de 2021, consentiu, sob pressão internacional, a ceder o poder a civis eleitos até ao fim de 2024, deixando tempo, segundo os porta-vozes, para empreender vastas reformas.

Vários dirigentes da oposição foram detidos e todas as manifestações são proíbidas desde 2022. O acesso à internet tem sido vários vezes impossibilitado devido a restrições de acesso.

Conosaba/rfi.fr/pt/

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