domingo, 22 de janeiro de 2023

Diretor da ONG Palmeirinha: “TARTARUGAS MARINHAS FONTE DE EQUILÍBRIO ECOLÓGICO E UM EXCELENTE INDICADOR DO AMBIENTE”

O diretor executivo da ONG Palmeirinha, Nicolau Mendes, afirmou que as tartarugas marinhas são “fonte” de equilíbrio e “um excelente indicador do ambiente”, mas enfrentam muitas ameaças, resultado das ações do homem.

Em entrevista ao jornal O Democrata para falar das tartarugas marinhas e dos efeitos do homem nas suas vidas, Nicolau Mendes apontou como uma das ameaças a essa espécie a alteração climática e a subida do nível do mar que afetam as praias onde desovam.

O ambientalista frisou que estudos científicos indicam que as tartarugas marinhas contribuem para que haja um equilíbrio ecológico e desempenham uma “excelente função” de indicador do ambiente e são “fonte” de equilíbrio ecológico, graças à sua natureza pode-se compreender o estado do aquecimento global.

NICOLAU MENDES DIZ QUE A CAPTURA DAS TARTARUGAS FÊMEAS É “PREOCUPANTE”

” Quando as fêmeas desovam, reproduzem fêmeas no solo, e indicam que a temperatura no mar está alta. Quando desovam nas sombras e reproduzem machos, indicam que a temperatura está baixa”, afirmou, alertando que todas estas espécies se encontram ameaçadas, resultado das ações do homem, sobretudo a captura das fêmeas que se tornou  preocupante, bem como a colheita dos ovos para o consumo local e para a realização de atividades de culto tradicionais.

“As capturas acidentais das embarcações de pesca artesanais e industriais, que representam a maior causa da mortalidade dessas espécies, também são uma ameaça”, sublinhou.

Outra causa apontada por Nicolau Mendes tem a ver com a alteração climática e a subida do nível do mar que afeta as praias onde essas espécies desovam, entre muitas outras ameaças que criam grande perturbação a estas espécies. Segundo o diretor executivo da ONG Palmeirinha, a captura das tartarugas marinhas em algumas ilhas do arquipélagos dos bijagós pode-se perceber que não acontece por má fé.

Os homens e mulheres mais velhos da etnia bijagó confirmaram à repórter de O Democrata que fazem-na com muito orgulho, porque “são usadas por algumas famílias para realização de cerimónias tradicionais considerando-as como o mais valioso sacrifício”.

Quando se fala com um dos técnicos do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) descobre-se que a visão e o entendimento sobre essas espécies já não é a mesma coisa que o dos habitantes dizem.

Nicolau Mendes, diretor executivo da ONG Palmeirinha, revelou que os resultados da campanha de sensibilização feita no domínio de proteção das tartarugas marinhas apontam para uma redução da captura.

“Há muito tempo que os habitantes deixaram de fazer essa prática sem avisar as autoridades ou outras entidades que trabalham nessa matéria. Antes de apanhar tartarugas para realizar cerimónias, pedem autorização aos fiscais  das áreas protegidas, isto tem contribuído muito na proteção das tartarugas marinhas”, afirmou.

Quando se trata das alterações climáticas, os técnicos do ambiente afirmam que são uma das maiores ameaças às tartarugas. Os ambientalistas interpelados admitiram que as alterações climáticas têm grandes consequências na vida das tartarugas marinhas, porque têm causado mudanças no mar.

ALTAS TEMPERATURAS NO MAR NÃO FAVORECEM A REPRODUÇÃO

Os ambientalistas admitiram que, quando há altas temperaturas no mar, não há reprodução masculina das tartarugas marinhas e quando a temperatura no mar está muito baixa, apenas reproduzem tartarugas fêmeas, porque a falta da população de um e do outro género de tartarugas representa uma grande consequência para o outro.

“Naturalmente tem que haver um acasalamento entre géneros opostos a fim de a fêmea poder ser fecundada para haver reprodução e mais população”, disse especialista em ambiente.

Nicolau Mendes assegurou que, apesar de todas as ameaças, certifica-se também que as tartarugas marinhas são uma espécie muito reprodutiva, realizando 3 posturas da desova de duas em duas semanas com cerca de 100 ovos cada. Com inúmeros processos de desova, até cada de reprodução atingir a fase adulta o resultado é péssimo.

Estudos apontam que os ovos correm riscos para sobreviver e gerar novos membros. Enfrentam vários predadores naturais ao longo da sua fase do crescimento, caso de algumas aves que se alimentam dos ovos das tartarugas para adquirir proteínas. Além dessas aves são também identificados os jacarés que, devido a cadeia alimentar, consomem constantemente ovos destes incríveis animais que, segundo alguns técnicos do ambiente, “se fossem impedidos de consumir os ovos das tartarugas acabariam atacando os seres humanos”.

Já na fase adulta, os tubarões são destacados como um dos maiores predadores das tartarugas marinhas, conseguem engolir estes animais com muita facilidade, principalmente a população das tartarugas-verdes.

Os seres humanos, graças as suas atividades pesqueiras, representam igualmente outro perigo para essas espécies.

Olhando para as ameaças identificadas, pode-se concluir que a maioria delas são causadas pelo próprio herdeiro, o homem, de todas as riquezas (presente e futura geração) que esta encantada espécie possui.

Aliás, foi por essa e outras razões que o governo guineense instituiu a lei que protege as tartarugas marinhas, no ano 2000 (Art. 27°, decreto-lei NQ 6-A12000 de 22 de agosto).

A grande questão que não se quer calar e que tem sido colocada é porque uma tartaruga vive tantos anos, podendo chegar aos 200 anos?

A resposta possível que  se pode dar é que curiosamente, esses animais podem viver mais anos  devido ao seu ritmo de vida mais lento, têm um metabolismo mais lento. Isso significa que eles gastam muito menos energia para se manterem vivos.

Por exemplo, a tartaruga Terrapin, não cresce e está na lista de tartarugas que não crescem. Ela é típica de água doce e muito comum nas Américas. Entretanto, podemos encontrá-la em vários lugares do mundo. Para se ter uma ideia, essa tartaruga mede cerca de 15 centímetros.

Os peixes reproduzem e respiram dentro da água, mas as tartarugas-marinhas precisam respirar o ar na superfície e seus ovos não se desenvolvem dentro do mar.

“A mamãe tartaruga deita os seus ovos na praia para que o calor da areia ajude as tartaruguinhas a desenvolverem-se dentro deles”, preciso.

TARTARUGAS MARINHAS SÃO FERAS NA HORA DE CONSTRUIR SEUS NINHOS

Na hora de fazer o ninho, as tartarugas marinhas são feras! Com as nadadeiras anteriores removem grande quantidade de areia num espaço de aproximadamente dois metros de diâmetro, o que se chama “cama”. Então cavam, com as nadadeiras posteriores, um buraco para o ninho, com cerca de meio metro de profundidade.

Antes de pensar na reprodução das suas tartarugas, certifique-se que elas já têm idade para tal: os machos não devem ter menos de três anos e as fêmeas cinco.

O nascimento quase sempre dá-se no período da noite, por conta da baixa temperatura da área e das menores chances de serem atacadas por predadores nesse horário.

Todas as espécies de tartarugas não cuidam de suas crias. Elas deixam os ovos enterrados, abandonando seus filhotes à própria sorte.

A fêmea do jabuti põe seus ovos num ninho que escava na terra ou na areia. Em média, são três ovos, mas o número pode variar de um a nove. Ela pode desovar mais detalhes uma vez no ano, algumas vezes após intervalos de 30 a 60 dias. Para incubar, os ovos necessitam de uma temperatura entre 25 e 30 graus.

As espécies maiores, como as tartarugas marinhas, vivem entre 80 a 100 anos. A tartaruga-gigante, maior tartaruga terrestre, pode viver mais de 200 anos.

Embora sejam marinhas, utilizam o ambiente terrestre (praia) para a desova, garantindo um local adequado à incubação dos ovos e para o nascimento dos filhotes. Ao nascerem, as tartaruguinhas rumam imediatamente para o alto mar.

As tartarugas marinhas não são como os outros seres ovíparos que nascem com ajuda das mães. desovam, conservam os ovos e deixam as tartaruguinhas nascerem sozinhas.

É impressionante observar os filhotes das tartarugas saírem dos ovos com esforço próprio. Quando nascem, erguem as cabecinhas e observam o lugar onde nasceram, a fim de poderem voltar quando for necessário, porque elas são como outras espécies marinhas: fazem uma longa migração, mas todas por natureza são obrigadas a desovar na sua terra natal, por outro lado são consideradas animais de maior longevidade, podendo viver até mais de 100 anos.

Também são vistos como animais muito românticos, porque na caminhada da desova descobriu-se que as tartarugas macho, apesar de serem muitos solitários por permanecer no ambiente marinho durante toda sua vida, chega o momento em que as fêmeas sobem à praia para desovar, acompanhadas dos machos que apenas ficam do lado da fêmea a observar.

Ter tartarugas marinhas é o desejo de todas as nações que se queiram desenvolver. A Guiné-Bissau tem o privilégio de ter em abundância 5 de entre as 7 espécies existentes no mundo. Elas povoam algumas ilhas do Arquipélago dos bijagós conhecidas como, a tartaruga-oliva, tartaruga-verde, tartaruga-de-escama, tartaruga-cabeçuda e a tartaruga-de-couro.

A população das tartarugas-verdes leva a Guiné-Bissau ao ponto mais alto da classificação sub-regional em termos da abundância.

Entre as 5 espécies existentes nas nossas águas, a população das tartarugas-verdes é a mais abundante. Desova em todas as praias do Parque Natural Marinho João Vieira Poilão (PNMJVP). A nível do Atlântico, elas também são a terceira mais importante e estão entre as 6 mais importantes do mundo.

As tartarugas-verdes são de uma cor esverdeada, recebem grande destaque pela sua coloração. Apesar de ser um animal herbívoro, na sua fase jovem precisa ingerir carne, assim é considerada carnívoro nos seus primeiros anos de vida até atingir os 20 anos.

Na Guiné, a população da tartaruga-verde costuma fazer aproximadamente 40 mil ninhos por ano no ilhéu do Poilão sem contar com os que desovam nas outras ilhas do arquipélago. A segunda população das tartarugas marinhas que foi registada a desovar anualmente é a tartaruga-da-escama, em números mais reduzidos que as tartarugas-verdes. Já no Parque Natural do Orango regista-se também a tartaruga-oliva que desova cerca de 80 ninhos anualmente.

Relativamente às ilhas do arquipélago dos bijagós, as 3 ilhas mais importantes para a nitrificação das tartarugas marinhas são a ilha de Poilão, Ilhéu de Cabras e a ilha do Meio.

A ilha de Poilão é identificada como a primeira praia mais importante para as fases do crescimento, de alimentação e de nidificação das tartarugas marinhas. Em relação às outras ilhas do arquipélago, a densidade é muito menor, incomparável. Depois da ilha do Poilão, os ninhos encontrados na ilha das Cabras e na ilha de Meio são também elevados, mas são tão pequenos e os números que lá se encontram não são expressivos e consideradas a segunda e a terceira ilha com mais abundâncias de ninhos.

Se pararmos para fazer um estudo profundo sobre a importância das tartarugas marinhas, poderemos descobrir que não “só servem para as ocasiões sociais como é notado nas zonas costeiras”, são em muitos casos utilizados para as cerimónias e consumo pessoal dos habitantes.

“As tartarugas marinhas são fortunas sustentáveis de toda geração, tanto para o setor público como privado”. Elas são espécies que servem para impulsionar o desenvolvimento económico, educacional, cultural e a inesquecível atividade turística”, disse.

São o motivo de o homem não se alimentar de peixes, são caçadores das águas vivas “lamlam” (espécie marinha que se alimenta de pequenos peixes), que flutuam nas águas do mar e alimentam-se de peixes recém-nascidos. Se não forem caçadas pelas tartarugas, a sua geração cresce e acaba lentamente com todas as espécies de peixes.

AMBIENTALISTA CONFIRMA QUE AS TARTARUGAS MARINHAS ESTÃO AMEAÇADAS

Interpelado pelo jornal O Democrata sobre se a sobrevivência das tartarugas marinhas está ou não ameaçada na Guiné-Bissau, o ambientalista Tumbulo Garcia Bamba confirmou que, apesar de seremancestrais, carismáticas, importantes para muitas culturas, sofrem várias ameaças antropogénicas tais como a captura ilegal para consumo, para a alimentação humana, captura acidental nas artes de pesca e a poluição marinha.  Nestes casos, os contaminantes químicos como petróleos, óleos, tintas e plásticos quando são ingeridos pelas tartarugas, mas também destroem o seu micro-habitat, tendo em conta o desenvolvimento costeiro, a erosão das áreas de desova, a remoção da vegetação nativa das praias de desova, os choques com embarcações e as mudanças climáticas.

“As mudanças climáticas são uma ameaça porque as alterações induzidas pelo aumento da temperatura média global impactam negativamente as ervas marinhas e logo conduzem à subida do nível médio do mar e ao aumento das tempestades, inundando as praias de desova. O aumento da temperatura também afeta o sucesso reprodutor e contribui para a assimetria da proporção dos sexos, sendo que o sexo masculino diminui consideravelmente, o que poderá levar ao declínio populacional das tartarugas marinhas”, esclareceu.

Alertou que devido aos impactos destas ameaças sobre estes organismos marinhos, as sete espécies que atualmente existem no mundo estão classificadas na lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Elas têm grande importância ecológica, porque são bioturbadores, predadores e servem de fonte de alimento de outros animais marinhos e terrestres. Dada a longevidade de algumas espécies e com grande capacidade migratória entre áreas de alimentação e de reprodução, são tidas como bioindicadores do ambiente.

“De facto, a sobrevivência das tartarugas marinhas está ameaçada na Guiné-Bissau e estas ameaças são de origem direta (capturas feitas para consumo da sua carne) e indireta por fatores abióticos”, precisou o especialistas, para quem, ocorrem apenas cinco espécies de tartarugas marinhas, nomeadamente a tartaruga-verde (chelonia mydas), a tartaruga-cabeçuda (caretta caretta), a tartaruga-oliva (lepidochelys olivacea), a tartaruga-de-escamas (eretmochelys imbricata) e a tartaruga-de-couro (dermochelys coriacea).

Segundo Tumbulo Garcia Bamba, estas espécies pertencem a duas famílias: a família Cheloniidae e a família Dermochelyidae. As tartarugas marinhas desovam um pouco por todo o arquipélago dos Bijagós, mas a maioria das atividades de desova ocorrem no Parque Nacional de Orango e no Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão, sendo o último o principal para a desova de tartaruga-verde, albergando uma das maiores populações para esta espécie a nível mundial.

Na Guiné-Bissau, o Instituto Nacional de Biodiversidade e Áreas Protegidas, Dr. Alfredo Simão da Silva (IBAP) é o responsável pelo seguimento e conservação das tartarugas marinhas e através de várias parcerias tem-se engajado fortemente na implementação rigorosa e ampla de medidas de proteção. Atualmente, as tartarugas marinhas estão protegidas ao abrigo de diversas convenções nacionais e internacionais.

A conservação das tartarugas marinhas tem abrangido muitos países, pois são espécies altamente migradoras, e a sua proteção só será eficaz se tivermos em conta, não só as áreas de reprodução, mas também as regiões de alimentação que são áreas ecologicae biologicamente para estes organismos marinhos. Com base nisto, o IBAP tem envolvido a comunidade local no processo da conservação da biodiversidade, mediante as sensibilizações através dos impactos que as explorações excessivas dos recursos naturais podem acarretar para sociedade.

É pertinente reforçar o nível da divulgação do trabalho do IBAP através das rádios, criar programas televisivos com intuito de educar, sensibilizar as comunidades no domínio ambiental, os decisores políticos, público em geral e incluir no currículo escolar a cadeira da educação ambiental.

CONSUMO DA CARNE DE TARTARUGA NOS BIJAGÓS ESTÁ ASSOCIADA ÀS ATIVIDADES AGRÍCOLAS

Nos Bijagós, o consumo de carne de tartaruga marinha está associado às atividades agrícolas e coletoras. Por exemplo, em anos passados, durante o cultivo do arroz no Parque Nacional Marinho João Vieira Poilão, quando centenas de pessoas das comunidades se deslocavam   às ilhas do Meio ou João Vieira para a prática do pampam, era comum capturarem tartarugas-verdes quando estas subiam à praia para desovar.

“Dependendo das ilhas, os ovos eram também consumidos. Após o consumo da carne, as carapaças das tartarugas eram muitas vezes limpas e utilizadas como recipientes, e é comum observarem-se nas tabancas Bijagós.

As tartarugas marinhas são consideradas como uma oferenda de grande valor na prática de “paga-garandessa”, feita pelos jovens aos mais idosos (homis garandi), como parte do sistema social das comunidades Bijagós, e são ainda utilizadas (consumidas) em cerimônias de iniciação (fanado) ou de empossamento de um régulos ou rainhas. No entanto, apesar da sua importância para estas cerimónias, as tartarugas marinhas não são consideradas sagradas e não são protegidas por regras tradicionais, podendo ser capturadas e consumidas por todos os membros da comunidade”, frisou.

Alertou que as autoridades devem trabalhar na proteção das tartarugas marinhas, porque têm um potencial turístico, pois “o turismo de observação da vida selvagem é uma atividade não extrativa que tem o potencial de contribuir para o desenvolvimento económico sustentável das comunidades costeiras”.

Para além do potencial para o ecoturismo, as tartarugas marinhas contribuem também para o desenvolvimento de economia locais através de projetos de conservação que geram empregos permanentes ou trabalhos temporários, por exemplo na monitorização das atividades de desova, financiam formações em atividades alternativas e financiam a implementação de atividades que melhoram as condições de vida das comunidades como por exemplo a construção de escolas, poços de água, lojas comunitárias.

Por: Simaira Tavares De Carvalho

Conosaba/odemocratagb

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