D. TERESA LOFT
FERNANDES, com muito
prazer que lhe dirijo esta carta aberta, foram muitos anos, não sei se lembra
aquando do seu falecido marido, era RECRUTA, a cumprir o serviço militar em
Bolama.
Vi a sua entrevista na repórter África, não deixarei de fazer
uma pequena síntese de pouco tempo que privei com o seu falecido marido, era um
homem bom sobretudo “palavra de rei não volta atrás”.
O seguinte:
Foram passar fim de semana em Bolama, com o seu filho era
recém-nascido, estiveram hospedados na casa do falecido, Sr. Manuel Miguel da
Costa, era funcionário da Imprensa Nacional de Bolama e a mulher D. Eurisanda
Costa, enfermeira, era funcionária de saúde do respetivo hospital. Fui vizinho
do casal o meu nome JUSTINO SANCHES CORREIA.
O seu falecido marido,
esteve na vossa companhia, na casa do respetivo casal, passou-lhe, a hora de
entrada no quartel, tinha licenças nesta altura até às 21h00 /24h00. passaram esses dois períodos, quando chegou ao quartel, após
de última hora o portão do mesmo esteve fechado, não ariscou, senão apanhava
castigo. Nestas circunstâncias era impedido de sair do quartel no dia seguinte,
sem ver a família, creio, regressariam a Bissau no mesmo dia domingo.
Ele … voltou a casa, preocupado com o seu instrumento musical
(viola), onde estiveram hospedados com o filho, já era tarde; não quis,
incomodar aquele casal amigos.
O moral das estórias, quando cheguei do meu passeio à noite, não
o conhecia, vi, cumprimentei-o boa noite Sr. militar, respondeu-me, estive com
ele, em breves conversas, explicou-me a situação na altura, ele esteve com
uniforme militar, sentado no passeio da casa no chão ao pé de um poste de luz a
musicar, sentiu o barulho do carro, dizia-me, é pá!… É patrulha do serviço militar,
interrompeu a conversa, que íamos tendo, levantou-se, rapidamente, refugiou-se numa
zona escura, para não ser visto àquela hora, fora do quartel.
Após a passagem do patrulhamentos, perguntei-lhe o nome,
dizia-me: JOSÉ CARLOS SCHWARZ para mim o apelido era estranho, dizia-me: amigo
de Aliu Bari, dizia-lhe não conhecer, ficou perplexo, dizia-lhe, mais isso não
interessa, ficou à vontade.
Continuamos nas nossas conversas na sua abordagem com emoção,
falou-me de Domingos Badinca e Domingos Gomes e outros na prisão de Bissau.
Estes dois indivíduos acima mencionados eram funcionários
públicos da Imprensa Nacional em Bolama. O segundo foi deportado para ilhas de
galinhas; mas numa situação bastante crítica, não havia possibilidade de
sobrevivência, esteve lá pouco tempo, a sua saúde piorava dia após dia, inspirava
o cuidado médico.
…… foi transferido
para Hospital de Bolama, estive de uma visita privado com [ele], dizia-me, que
não resistiria que os seus órgãos internos, esteve pisados urinava sangue.
Dizia-me, a luta era assim; éramos colegas de trabalho, com emoção, despeço
dele e agradecia-me a minha visita. Passados alguns tempos morreu.
O então governador da província da Guiné, o Sr. Marechal
António de Spínola, no quadro de Juramento de bandeiras aos militares no seu
discurso, dizia: haviam ninhos de terroristas em Bolama.
Convidei o seu falecido marido, para abandonar àquele sitio, viesse,
dormir no meu quarto, acedeu, sem que a família soubesse.
No dia seguinte arranjei a água para higiene pessoal dele,
ficou satisfeito comigo, perguntou-me, se tivesse família em Bissau, dizia-lhe,
tenho a minha mãe e a zona? Expliquei-lhe! Quando eu tenciono ir a Bissau? Disse-lhe;
estaria em Bissau 22 de dezembro.
Após as nossas conversas, volta das 09h00, dizia-me, que iria
bater a porta que as famílias já estão acordadas, deu duas pancadas na porta, a
mulher, veio, abriu a mesma, ficou assustada e viu o marido àquela hora,
supostamente, pensava que chegava mais tarde, não sabia que ele estivesse ao
lado, pernoitava no meu quarto.
Ele explicou-lhe, o que havia acontecido e apresentou-me, a
mulher, D. Teresa e o filho no colo dela. Agarrei o miúdo pós no meu colo,
brinquei com ele, breves instantes, depois, entreguei o recém-nascido aos pais,
despeço do casal e fui a minha vida.
No dia 23 dezembro, ele foi a casa onde vivia a minha mãe, só
que não me encontrou, tinha saído. Deixou o recado com a minha mãe, dizia-lhe;
que vivia na zona de Coqueiros; para ir lá ter, gostaria imenso de estar
comigo. Haviam tantos assuntos a tratar, não foi possível contatá-lo. Acabei por
regressar a minha terra, era funcionário público na Imprensa Nacional de Bolama.
Em 1977, encontramos na Rua Praia da Vitória, no Consulado da
Embaixada da Guiné-Bissau, em Portugal, eu a subir escadas e ele a descer,
quando me viu, gritou o meu nome: Justino! Abraçou-me, efusivamente, com
palmadas nas minhas costas, esteve com uma enorme alegria, de me ter encontrado
em Lisboa.
Dizia-me, Justino, vou à HAVANA CUBA, assim, que regressar,
estaríamos juntos, tinha muita coisa para nos falarmos.
Não deixarei de testemunhar, a alma de JOSÉ CARLOS SCHWARZ, a
sua sensibilidade, sofria imenso, com os prisioneiros políticos em Bissau e nas
ilhas de galinhas nas prisões nas mãos dos carrascos da PIDE.
Foi com uma grande consternação e estupefação que soube das
notícias, do trágico acidente de aviação que vitimou este grande camarada, cantou
e musicou o seu POVO.
Que Deus lhe abençoe!
Abraços fraternos a toda a família e desejo
infinito.
POR: JUSTINO SANCHES
CORREIA
BOLAMENSE
PORTUGAL 30 DE MAIO DE
2017
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