quinta-feira, 6 de julho de 2023

Deputado detido após duvidar da decisão de Sall não se recandidatar

Birame Souleye Diop
Birame Souleye Diop, presidente do grupo parlamentar da coligação opositora Yewwi Askan Wi, membro do Pastef, o partido de Ousmane Sonko, o mais destacado opositor do Presidente, foi detido na quarta-feira após ter alertado para uma eventual reconsideração do chefe de Estado.

Um político da oposição senegalesa foi hoje detido depois de ter lançado publicamente dúvidas sobre a decisão do Presidente, Macky Sall, anunciada na segunda-feira, de não se recandidatar a um terceiro mandato em 2024.
Macky Sall
"Aviso os próximos candidatos da APR (Alliance pour la République, o partido presidencial): Evitem comer em casa dele, evitem beber a sua água, ele é capaz de vos envenenar e dizer 'como já não temos candidato, vou voltar'. E vai fazê-lo ao estilo de Ouattara. Cuidado", declarou Diop numa conferência de imprensa.

O deputado pediu posteriormente desculpa pelas declarações.

O Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, escolheu o seu então primeiro-ministro, Amadou Gon Coulibaly, para o suceder, mas a morte deste último, aos 61 anos, devido a problemas cardíacos, levou Ouattara a recandidatar-se às eleições presidenciais de 2020, apesar de ter anunciado que não iria concorrer a um terceiro mandato.

Segundo Moussa Sarr, advogado de Diop, o deputado senegalês está a ser processado por "difamação cometida por um membro da Assembleia Nacional contra um chefe de Estado estrangeiro, suscetível de prejudicar as relações diplomáticas do Estado" e "desacreditar uma instituição da República".

"Ele ainda está sob custódia policial na Sûreté Urbaine da esquadra central de Dacar", acrescentou.

Sall anunciou na segunda-feira que não vai concorrer às próximas eleições presidenciais do Senegal, previstas para fevereiro de 2024, após meses de controvérsia, incerteza e tensão política no país, com protestos em larga escala, fortemente reprimidos pelas forças de segurança, resultando em dezenas de mortos (16, de acordo com números oficiais, 30 segundo a oposição).

O Presidente, que governa o Senegal desde 2012 e se aproxima do fim de dois mandatos de sete e cinco anos, considera que a sua terceira candidatura não seria ilegal, apesar de a Constituição do país africano proibir mais de dois mandatos consecutivos.

Segundo Sall e os seus apoiantes, como a Constituição foi alterada em 2016 e o Presidente só cumpriu um mandato de cinco anos, o primeiro mandato de sete anos não deveria contar e teria o direito a candidatar-se novamente.

Tanto a oposição como a sociedade civil do Senegal, país vizinho da Guiné-Bissau, rejeitam esta tese.

A incerteza provocou um aumento da tensão política no país, agravada pela acusação paralela do líder da oposição, Ousmane Sonko, que foi condenado a dois anos de prisão em 01 de junho.

Sonko denunciou a "instrumentalização" da justiça pelo "poder de Macky Sall" para o excluir da candidatura presidencial. O seu partido calcula que haja atualmente mais de 300 "presos políticos". O executivo de Macky Sall refuta ambas as acusações.

Conosaba/Lusa

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