segunda-feira, 16 de setembro de 2024

«Number One» Sr. Braima Camará, militante numéro N⁰1 do Movimento para Alternância Democrática - MADEM G15

 

Coordenador, Braima Camara com o falecido Oliveira Sanca

Abel Djassi Primeiro

Presidente do parlamento dissolvido da Guiné-Bissau lamenta falta de segurança no país



O presidente do parlamento dissolvido da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, que regressou hoje ao país após sete meses no estrangeiro, lamentou a falta de segurança no país, que, disse, afeta todos os cidadãos.

Vindo de Dacar, Senegal, após vários meses em Portugal, de onde disse ter viajado para outras partes do mundo para informar sobre a situação prevalecente na Guiné-Bissau, Simões Pereira observou que todos os cidadãos guineenses “temem pela sua segurança”.

“Eu cheguei e estava convencido que estava tudo normal. De repente, dou conta de que há bloqueios de acesso às pessoas ao aeroporto. Há jornalistas que foram agredidos, há jornalistas aos quais foram subtraídos os materiais que tinham utilizado para o seu trabalho”, observou Simões Pereira.

O político referia-se ao repórter de imagem da Lusa, ao qual elementos da Polícia de Intervenção Rápida ordenaram que apagasse as imagens que tinha feito à caravana que acompanhava Simões Pereira no trajeto do aeroporto para a sua residência no centro de Bissau.

O profissional da Lusa relata que foi agredido com um murro nas costas por um agente. Outros tentaram que entrasse na carinha da polícia e que fosse conduzido para a esquadra, o que acabaria por não acontecer.

“Quando a liberdade está em insegurança isso é indício de que quem tem o poder, quem nominalmente diz ter o poder, está com medo”, afirmou Domingos Simões Pereira, em entrevista já na sua residência, no bairro de Luanda, em Bissau.

O também líder da coligação Plataforma da Aliança Inclusiva (PAI – Terra Ranka), vencedora das eleições legislativas de 2023, que estava no Governo e liderava o parlamento, entretanto dissolvido, em dezembro passado pelo Presidente guineense, notou que é chegada a altura das forças vivas se levantarem para tranquilizar o ambiente no país.

Simões Pereira defendeu que sozinho não será capaz de travar essa luta, mas que está numa dinâmica que “deve convocar todos, sociedade civil, partidos políticos” para o fazer.

Questionado sobre a apreensão, pela Polícia Judiciária, de um avião carregado com mais de 2,6 toneladas de cocaína no aeroporto de Bissau, no passado dia 07, Pereira disse que os guineenses se devem levantar para que se clarifique “quem é narcotraficante” no país.

O político, que é igualmente presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que lidera a coligação PAI-Terra Ranka, observou ser difícil “arranjar adjetivos” perante o caso relacionado com o avião que a PJ diz ser oriundo da Venezuela.

“Quando em plena luz do dia há um avião que aterrou no nosso aeroporto e no qual é apreendida essa quantidade de droga (…), esse é um não Estado”, declarou Domingos Simões Pereira, lembrando que chamou a atenção dos guineenses sobre essa possibilidade, de o país se transformar “num não Estado”.

Domingos Simões Pereira salientou que a tripulação estava “tão a vontade” que nem escondeu a droga que trazia na aeronave.
“Provavelmente os tripulantes, as pessoas que vinham no avião estavam convencidas de ir a um sítio onde costumavam ir”, salientou o político, que pediu uma clarificação, ao invés de se empurrarem responsabilidades sobre de quem é a droga apreendida.

Domingos Simões Pereira defendeu ser preciso que se esclareça a situação, para que se saiba quem é narcotraficante e quem não o é.

Conosaba/Lusa

Umaro Sissoco Embalo disponível para continuar a ser Presidente da Guiné-Bissau



O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, disse que está disponível para continuar a ser "Presidente da Guiné-Bissau" se for a vontade dos seus apoiantes, no que é um volte-face ao anúncio que fez na semana passada.

Umaro Sissoco Embaló havia anunciado que não se iria candidatar a um segundo mandato após acatar os conselhos da sua mulher.

"É uma decisão tomada ouvindo a opinião da minha mulher, que é a minha primeira família", declarou Embaló à saída da reunião do Conselho de Ministros por si presidida.

Ao discursar este domingo (15.09) na reunião do Conselho Nacional de uma ala do Movimento para a Alternância Democrática (Madem G-15), que lhe é fiel, Umaro Sissoco Embalo admitiu, perante uma assistência entusiástica de militantes daquele partido, que poderá ser candidato.

"Se ontem [na passada terça-feira] disse que não iria recandidatar-me para um segundo mandato, se entenderem que eu devo o fazer, estou à vossa disposição. Não estou por cima de vós", observou Embalo.

O político destacou estar à disposição dos cidadãos guineenses para enfrentar quaisquer ameaças.

"Se entenderem que continuo a ser a solução estarei à vossa frente", frisou Umaro Sissoco Embaló.

O Madem G15, partido fundado em 2018 por dissidentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), está dividido atualmente em dois grupos.

O grupo de militantes reunidos em Conselho Nacional, num dos hotéis de Bissau, diz-se disponível para apoiar um segundo mandato de Umaro Sissoco Embaló e um outro grupo é contra essa pretensão do político.

O grupo hoje reunido é liderado pela veterana de luta pela independência da Guiné-Bissau Satu Camará, e o outro grupo é dirigido pelo empresário Braima Camará, que se considera líder legítimo por ter sido eleito num congresso ordinário em 2022 para um mandato de quatro anos.

As disputas no seio do Madem encontram-se em tribunal a aguardar uma decisão final que deverá ser

conhecida após as férias judiciais, em outubro próximo.

Umaro Sissoco Embaló anunciou no seu discurso que aceita a distinção que lhe foi feita pelo grupo de militantes de Madem que o considera presidente de honra do partido.

"Agradeço a distinção que me fizeram para ser o presidente de honra do Madem e da mesma forma que eu sou presidente de honra de todos os partidos políticos da Guiné-Bissau", declarou o chefe de Estado guineense.

Bastante criticado no país por políticos e membros da sociedade civil, que lembram que as funções de Presidente da República são incompatíveis com as de outra natureza, Umaro Sissoco Embalo afirmou que ninguém lhe tira o direito de ser membro fundador do Madem.

Conosaba/Lusa

Repórter da Lusa agredido e obrigado a apagar imagens

 

Bissau - (16.09.2024) - Um repórter de imagem da Agência Lusa foi agredido pelas forças de defesa e segurança da Guiné-Bissau, ontem (15.09), enquanto cobria a chegada a Bissau do presidente do Parlamento e líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira. 

Segundo testemunhas e o próprio jornalista, um dos agentes desferiu-lhe um murro nas costas, alegando "ordens superiores". Além da agressão, o repórter foi obrigado a apagar as imagens captadas durante o evento.

Outros agentes tentaram conduzir o jornalista para uma viatura da polícia, com a intenção de o levar à esquadra, mas tal não chegou a concretizar-se. 

A situação foi testemunhada por vários repórteres guineenses, que expressaram indignação pelo ocorrido.

Contactado pela DW, o Ministério do Interior da Guiné-Bissau ainda não se pronunciou sobre o caso.

Nos últimos 12 meses, tem-se registado um aumento significativo de agressões a profissionais de comunicação social na Guiné-Bissau, o que tem gerado preocupação entre organizações de defesa da liberdade de imprensa. 

O incidente com o repórter da Lusa é o mais recente de uma série de ataques contra jornalistas no exercício das suas funções.

Por: DW

Donald Trump "são e salvo" depois de uma segunda tentativa de assassínio


Donald Trump "são e salvo" depois de uma segunda tentativa de assassínio© Marco Bello / Reuters

O Presidente norte-americano terá sido alvo de uma nova tentativa de assassínio, este domingo, enquanto jogava golf na Florida. O suspeito, um cidadão norte-americano designado pela imprensa local como solidário da Ucrânia, foi detido poucas horas depois, sem opor resistência e Donald Trump está "são e salvo".

Donald Trump está "são e salvo", depois dos disparos ocorridos enquanto jogava golf, este domingo, antes das 14 horas, no Trump International Golf Club, em West Palm Beach, na Florida, dois meses depois da primeira tentativa de assassínio que visou o candidato à Casa Branca, durante um discurso eleitoral.

Os disparos ocorreram enquanto o ex-Presidente praticava o seu desporto favorito e foram ouvidos por dois agentes dos serviços de segurança, que logo colocaram Donald Trump em segurança num local fechado, numa sala de espera do clube de golf.

Um dos agentes de segurança terá vislumbrado a silhueta de um homem posicionado atrás de uma das grades do campo de golf, a cerca de 300 a 500 metros de distância, visando com a sua arma na direcção de Donald Trump. O suspeito fugiu num carro de tipo SUV, deixando no local, escondidos nos arbustos, uma metralhadora de tipo AK-47 e uma câmara de filmar GoPro. Poucas horas depois, o homem foi detido a uma centena de quilómetros e não opôs nenhuma resistência, de acordo com as autoridades norte-americanas.

O FBI está a investigar o caso como uma "tentativa de assassínio". A imprensa local designou o autor da alegada tentativa de assassínio como sendo Ryan Wesley, um cidadão norte-americano solidário da Ucrânia, que tinha sido entrevistado por televisões internacionais em Kiev, em 2022, onde se deslocou em solidariedade com o povo ucraniano.

Os canais televisivos CNN e CBS avançaram que o Ryan Wesley tem um cadastro judicial aberto há várias décadas e que publica regularmente artigos políticos num blog pessoal, criticando Donald Trump e afirmando o seu apoio à Ucrânia desde a invasão pela Rússia. O actual Presidente Joe Biden e a candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris disseram estar felizes por Donald Trump estar em segurança, afirmando que "não há espaço para a violência" nos Estados-Unidos.

A 13 de Julho, Donald Trump tinha sido ferido na orelha por disparos de um jovem norte-americano durante um encontro eleitoral, na Pensilvânia.

Dos 46 Presidentes norte-americanos, Donald Trump é o 11° a ser vítima de uma tentativa de assassínio e o segundo a ser vítima por duas vezes.

Conosaba/msn.com/pt

NAÇÕES UNIDAS APOIA GOVERNO DA GUINÉ-BISSAU NA CONVOCAÇÃO DA CONSULTA SOBRE 79ª CIMEIRA .


As Nações Unidas promovem nesta segunda-feira em Bissau um encontro de consultas sobre a próxima cimeira do futuro.

Segundo a ONU, a Cimeira do Futuro, é um evento global de grande importância que visa abordar desafios globais urgentes e moldar um futuro sustentável e resiliente.

Esta cimeira reunirá líderes mundiais, decisores políticos e especialistas para discutir e acordar ações transformadoras em várias áreas, incluindo mudanças climáticas, tecnologia digital, paz e segurança, direitos humanos e governança global.

Para a Guiné-Bissau, a participação na cimeira representa uma oportunidade crucial para se envolver em diálogos de alto nível, partilhar as suas perspetivas sobre questões globais chave e reforçar o seu compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

É também uma plataforma para advogar por apoio na abordagem de prioridades nacionais, particularmente em governança, resiliência económica, adaptação climática e desenvolvimento sustentável do capital humano. É especialmente relevante porque as questões prioritárias a serem debatidas são centrais para o desenvolvimento da Guiné-Bissau.

Entre essas questões estão o futuro com e para os jovens, a digitalização, a paz e o desenvolvimento sustentável. Proposta: Como parte da preparação para a participação da Guiné-Bissau na Cimeira do Futuro, será realizada uma consulta de um dia em 16 de setembro de 2024.

O evento visa fomentar o diálogo entre a sociedade civil, incluindo grupos de mulheres e jovens, bem como partes interessadas do setor privado e do governo, com foco em passos concretos e no desenvolvimento de um pacto consolidado em preparação para a Cimeira do Futuro.

Dado o importante vínculo com a elaboração do novo Plano Nacional de Desenvolvimento do país, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cooperação Internacional e Comunidades e o Ministério da Economia, Planeamento e Integração Regional são copatrocinadores deste evento.

Por: Ussumane Mané/radiosolmansi com Conosaba do Porto

domingo, 15 de setembro de 2024

O antigo Presidente da República, José Mário Vaz, faz um radiográfia da atual situação do país. Data: 15.09.2024

 



Câmara Municipal de Bissau entregou medalha de Cidade de Bissau ao Embaixador de França na Guiné-Bissau.

 

Ana Maria Cabral e as memórias de Amílcar Cabral



Ana Maria Cabral, viúva de Amílcar Cabral, recorda memórias de Amílcar Cabral. © RFI/Lígia Anjos

Cabo Verde comemora o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, figura que liderou a luta pela libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. "Quando conheci Cabral o que me atraiu logo foi o lado político. Nós seguíamos as lutas de todos os povos do mundo. Acompanhámos a libertação de Cuba e precisávamos de gente assim para começar a luta, para mudar o nosso país", conta-nos Ana Maria Cabral, viúva de Amílcar Cabral.

RFI: De que forma é que olha para estas celebrações em torno do centenário do nascimento de Amílcar Cabral?

Ana Maria Cabral: Foi uma boa iniciativa, mas foi pena não ter oportunidade de mobilizar mais gente, sobretudo jovens. A sala estava muito vazia. Fiquei impressionada, tendo em conta que se realizou no auditório de uma universidade. Claro que as aulas ainda não começaram, mas devíamos ter mobilizado mais alunos, porque foi pena. As intervenções foram muito interessantes. Foi pena realmente a assistência ter sido muito reduzida.

Recorda-se do primeiro encontro com Amílcar Cabral?

O primeiro encontro foi há muitos anos. Acho que o primeiro encontro terá sido em Lisboa. Havia gente ligada à Casa dos Estudantes do Império, onde eu era muito activa. A Casa dos Estudantes do Império ficava na Rua Actor Vale, 37, onde vivia uma família de São Tomé e Príncipe, se a memória não me falha. Acho que foi nessa casa que eles criaram o Centro de Estudos Africanos, ele, o Agostinho Neto, o Mário de Andrade, já todos falecidos. Mais tarde entrou também o Eduardo Mondlane, de Moçambique, que também já morreu.

Organizavam-se bailes, encontros no Natal, porque a maioria não tinha familiares em Portugal e era uma maneira de estarmos juntos. Na Casa dos Estudantes do Império, além das festas, organizavam-se outros actos culturais. Eu conheci o Amílcar numa dessas casas. Um dia disseram que ele era casado com uma portuguesa e eu disse 'ele não quer saber nada da nossa terra'. Foi uma amiga são-tomense que nos apresentou, ela continua a viver em Portugal, chama-se Esperança e também é viúva como eu. Foi ela quem me apresentou o Amílcar Cabral.

O que é que a atraiu: o homem ou o político?

Quando conheci Cabral o que me atraiu logo foi o lado político, embora fosse um homem extremamente atraente. Nós seguíamos as lutas de todos os povos do mundo. Até acompanhámos a libertação de Cuba e sempre precisamos de gente assim para começar a luta, para mudar o nosso país, libertar os nossos países. Foi interessante.

Quais é que foram os maiores desafios de ser esposa de um líder revolucionário?

Os desafios foram tantos, tantos, que eu podia ficar um dia inteiro a contá-los. Resumindo: o maior desafio foi acompanhar uma personalidade como ele, com um carácter forte. Além de ter um carácter muito forte, ele era condescendente, aceitava as opiniões de todos, mesmo se ele reparasse que não tínhamos razão. Ele aceitava porque ele aceitava a opinião de toda a gente. 

Ele dizia que 'todos nós somos úteis para essa nossa luta de libertação' e por isso aceitava a opinião de toda a gente. Lembro-me das reuniões que ele fazia com os mais velhos, com aqueles chefes. A Guiné é um país pequenininho, mas cheio de grupos étnicos, variadíssimos grupos étnicos. Há grupos que são sociedades estratificadas, e ele reunia-se com esses chefes. Uma vez, lembro-me, a propósito das mulheres, ele tinha lançado a ordem de que tínhamos de proteger as nossas mulheres nas áreas já libertadas do colonialismo. Ele insistia que era preciso chamar as mulheres.

Integrá-las na luta?

Não só integrá-las, havia muitas mulheres. As mulheres foram as primeiras a participar na luta porque elas eram exploradas em casa pelos maridos. Permitia que toda a gente participasse, inclusivamente aqueles que não estivessem de acordo podiam defender os seus ideais, as suas opiniões. Ele aceitou que toda a gente expusesse o seu ponto de vista, mesmo que fossem contrários à opinião dele. Por exemplo, nas áreas libertadas ele e os companheiros dele, se eram cinco membros, três tinham que ser mulheres. Se eram comités pequenos ou de três membros, um tinha de ser uma mulher. Houve muitos protestos da parte dos homens que diziam 'não há mulher para ficar em casa para cozinhar para nós', não sei o quê. Foi muito difícil.

Mais tarde, ele e os companheiros dele resolveram criar as milícias, que eram gente que ajudava os combatentes que estavam a participar directamente no combate. Foi também um problema, os homens mais velhos não queriam que a mulher participasse, mas lá se conseguiu. Houve algumas mulheres que se tornaram célebres, como a Carmen Pereira, já falecida, e a Titina Silá, que morreu estupidamente. Ela estava numas áreas libertadas no Norte e como era muito jovem tratava o Cabral como pai. Quando soube da sua morte quis ir a Conacri assistir aos funerais e os portugueses colonialistas acharam que deviam passar por aquele rio, que era um rio cheio de crocodilos. Ela caiu e como não sabia nadar, os companheiros não conseguiram salvá-la e ela terá sido levada e comida pelos crocodilos. Teve uma morte estúpida. A Titina Silá é considerada uma heroína. Todos os anos, depois de 20 de Janeiro, a data em que mataram o Cabral, as pessoas levam as crianças com flores e vão deitar flores a esse rio.

O facto de ter vivido ao lado de Amílcar Cabral, de o ter apoiado, como é que vê para o seu contributo na luta de libertação?

Eu, como era militante, eu tinha de contribuir, como toda a gente.

Mas mais ainda enquanto esposa..

Como militante fui professora na Escola Piloto. Depois foram-se criando áreas libertadas e uma das coisas que se fez foi criar pequenas escolas onde a palavra de ordem era 'quem souber ler e escrever tem de ensinar aos outros'. Os combatentes que sabiam escrever e ler, ensinavam. No início, abriram-se pequenas escolas com os meninos sentados no chão e assim começou a alfabetização nas áreas libertadas. Trabalhei na escola piloto como professora com os alunos, tivemos de fazer livros, tivemos de arranjar todo o material para fazer livros. Mais tarde, com o desenvolvimento e com trabalho de Cabral e dos outros, recebemos muito material escolar da parte dos países nórdicos, sobretudo da Suécia, Alemanha, antiga RDC, de Cuba... e às vezes tinha de interromper o meu trabalho porque o Cabral estava cansado de viajar sozinho e pedia que eu o acompanhasse. Fui a muitas conferências, acompanhando o Cabral.

Por:Lígia ANJOS
Conosaba/rfi.fr/pt/

sábado, 14 de setembro de 2024

«NOTA DE IMPRENSA» "MOVIMENTO PARA ALTERNÂNCIA DEMOCRÁTICA- MADEM-G15 Secretariado Nacional

Sob a presidência do Coordenador Nacional do MADEM-G15, camarada Braima Camará, o Secretariado Nacional vem por este meio informar aos militantes e simpatizantes, opinião pública nacional e internacional de que está reunido a Comissão Permanente para analisar o estado da situação das negociações do Coordenador Nacional do MADEM-G15 com as forças politicas nacionais a luz de mandato conferido pelo Conselho Nacional.
Ainda o Secretariado nacional informa que de seguida vai reunir a Comissão Politica Nacional, ainda hoje (14 de Setembro de 2024) pelas 14h00, na sua sede nacional.
Bissau, 14 de setembro de 2024

o secretariado Nacional."
Fonte 📷 MADEM-G15/Bafatá.










Abertura da Reunião da Comissão Política da Frente Patriótico de Salvação Nacional (FREPASNA).

 

https://www.facebook.com/cfmgw/videos/1220223565927290

Data: 14.09.2024

Rádio Capital Fm

Declarações de Nuno Gomes Nabiam, Depois de Reunião da Comissão Permanente deAPU-PDGB.

 

Última Hora: Domingos Simões Pereira, presidente da Assembleia Nacional Popular, regressa ao país.

 

Radio TV Bantaba

Segundo a carta enviada à CEDEAO, o presidente da Assembleia Nacional Popular anunciou o seu regresso para amanhã, dia 14 de setembro de 2024, após vários meses fora do país.


Encerramento do projecto promover a liberdade dos Midias e Acesso informação de qualidade na Guiné-Bissau

 

https://www.facebook.com/radiobantaba/videos/3739244852981978

Senegal: eleições legislativas a 17 de Novembro, após dissolução da Assembleia



Dacar – O Senegal vai a votos a votos a 17 de Novembro após o anúncio a 12 de Setembro da dissolução da Assembleia nacional pelo presidente Bassirou Diomaye Faye. Este visa obter uma maioria que lhe seja favorável num parlamento dominado, ainda, pelo partido do seu antecessor, Macky Sall.

O presidente senegalês é adepto de um panafricanismo de esquerda, mas também da defesa da soberania.

A dicotomia entre o novo poder de Dacar e a oposição nunca cessou desde a tomada de posse.

O primeiro-ministro Ousmane Sonko até ao momento não pronunciou o seu discurso de política geral perante o parlamento num contexto de ameaça de uma moção de censura por parte dos apoiantes do ex chefe de Estado.

Foi neste xadrez político que Bassirou Diomaye Faye, presidente da república, anunciou nesta quinta, 12 de Setembro, a dissolução do parlamento.

Dissolvo a Assembleia nacional para pedir ao povo soberano os meios institucionais que me permitirão concretizar a transformação profunda que eu lhes prometi.

Hoje, mais do que nunca, chegou o momento de abrir uma nova era neste nosso quinquénio.

O artigo terceiro da nossa constituição lembra que a soberania nacional pertence ao povo.

Desta feita o povo é convidado a voltar a se pronunciar e a decidir, de forma soberana, se a Assembleia nacional deve reflectir as aspirações profundas de mudança que foram expressas na noite de 24 de Março de 2024.

Ou se ela deve ainda permanecer como o último resquício e forma de bloqueio de um regime destituído.

Por seu lado a oposição alega que as novas autoridades não têm projecto político e governariam sem rumo definido.

Conosaba/rfi.fr/pt

MNE defende que ensino do português em Timor-Leste deve começar no pré-escolar


Durante a sua estada em Díli, Paulo Rangel aproveitou para preparar a visita oficial do primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, a Portugal, em outubro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, fez este sábado um balanço "extremamente positivo" da visita a Timor-Leste e defendeu que o ensino da língua portuguesa deve começar no pré-escolar. "Este é um ponto relevante, porque o ensino da língua portuguesa dos três aos seis anos não está previsto nos programas de cooperação, quem faz isso são algumas escolas ligadas à igreja", disse.
"Eu acho que é importante no futuro com Timor-Leste, mas isso, enfim, é uma matéria que também terá de ser vista pelo Ministério da Educação, aqui estamos a ver isto numa perspetiva mais global, que possamos ir para idades mais baixas, porque nós sabemos que a aprendizagem das línguas é tanto mais fácil, quando é feita mais cedo", disse o ministro.

No âmbito da deslocação a Díli, que teve início na quinta-feira e termina sábado, com uma visita à embaixada de Portugal e ao cemitério de Santa Cruz, o chefe da diplomacia portuguesa visitou na sexta-feira a pré-escola da obra missionária das Irmãs Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus.

O ministro destacou também o pedido feito pelo cardeal Virgílio do Carmo, arcebispo de Díli, na sexta-feira, sobre a importância da cooperação com as escolas católicas. "As escolas católicas querem ministrar o português, mas precisam de professores e são 2/3 da rede escolar total, portanto, têm um papel muito relevante e é um aspeto também a ter em conta", salientou o ministro.

Durante a sua estada em Díli, Paulo Rangel aproveitou para preparar a visita oficial do primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, a Portugal, em outubro, mas também o Programa Estratégico de Cooperação (PEC) para o período entre 2024-2028, que poderá ser assinado em outubro. "As prioridades claramente do lado de Timor continuam a ser as mesmas", nomeadamente educação e justiça, afirmou o ministro.

No setor da educação, o ministro destacou a "grande aposta" nos Centro de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE) ou as escolas CAFE, projeto iniciado em 2014, e que está presente nos 13 municípios timorenses e tem mais de 11.000 alunos. Segundo o ministro, o projeto está "neste momento em expansão", devendo também passar a existir em Ataúro, ilha em frente a Díli, e nos postos administrativos.

"Isto poderia significar 60 no futuro, estamos a falar de uma potenciação significativa", disse.

Em relação à justiça, o chefe da diplomacia portuguesa disse que é muito importante investir "na independência dos tribunais, na formação de magistrados". O Governo timorense criou um grupo de trabalho para a reforma do setor da Justiça, liderado pela antiga ministra da Justiça Lúcia Lobato, que defendeu que Portugal deveria ser o parceiro estratégico naquele setor.

No âmbito da reforma do setor, Timor-Leste vai enviar este ano os primeiros 50 estudantes para Portugal para estudar Direito em cinco universidades portuguesas. O projeto prevê um total de 250 a 300 juristas formados em Portugal e será financiado na sua totalidade por Timor-Leste, num investimento inicial de cerca de 14,9 milhões de euros até 2028.

O ministro dos Negócios Estrangeiros destacou também como prioridades da cooperação a proteção social, o ambiente e a economia azul, nomeadamente a economia do mar.

O último PEC, entre 2019-2023, assinado entre Portugal e Timor-Leste teve uma execução de 102% e tinha um envelope financeiro de 70 milhões de euros para intervenções nos setores de Consolidação do Estado de Direito e Boa Governação, Educação, Formação e Cultura e Desenvolvimento Socioeconómico Inclusivo.

Conosaba/Lusa

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

«Aeronave de Droga» Venezuela afasta-se de qualquer ligação com avião apreendida em Bissau

O ministro do interior venezuelano negou que o avião apreendido na Guiné-Bissau com 2,6 toneladas de cocaína a bordo tenha vindo da Venezuela.

"Aquele avião nunca tocou solo venezuelano" disse Diosdado Cabello, depois de uma audiência presente em um evento governamental na quarta-feira.

A polícia judiciária da Guiné-Bissau disse que a apreensão de cocaína no sábado (07 de setembro) foi realizada em estreita cooperação com a Agência Antidrogas dos EUA e o Centro de Análise e Operações Marítimas–Narcóticos, uma organização europeia.

A tripulação de cinco pessoas, que incluía dois cidadãos mexicanos, bem como cidadãos da Colômbia, Equador e Brasil, foi presa, incluindo o piloto.

Os primeiros relatos da mídia citaram uma fonte de segurança dizendo que o avião era do México.

O ministro do Interior da Venezuela disse que seu país "não produz drogas" e que o maior consumidor de drogas do mundo era o império norte-americano, provavelmente se referindo aos EUA.

A Guiné-Bissau em particular é conhecida como uma rota preferida para cartéis internacionais de drogas. Em março, o filho do ex-presidente do país, Malam Bacai Sanha, foi condenado a mais de seis anos de prisão por um tribunal dos EUA que o considera líder de uma rede internacional de tráfico de heroína.

Dois anos atrás, o líder da Guiné-Bissau acusou um barão das drogas condenado de estar por trás de um golpe fracassado contra ele.

A África Ocidental se tornou um centro de drogas da América Latina e do Sudoeste Asiático destinadas à Europa, de acordo com um relatório da ONU divulgado este ano.
Por: Africanews com Rádio Capital Fm

Economia: PAULO GOMES DEFENDE NECESSIDADE DE UM ESTADO COMPETENTE E EMPREENDEDOR PARA REDUZIR A POBREZA NA GUINÉ-BISSAU


O economista guineense Paulo Gomes atribui na elevada taxa de pobreza entre os jovens e as mulheres nas áreas rurais à falta de foco e consistência na aplicação de políticas públicas voltadas à redução da pobreza.

Em entrevista à Rádio Sol Mansi, Paulo Gomes comentava sobre o primeiro boletim de estatísticas da Guiné-Bissau, divulgado na quarta-feira, uma iniciativa pioneira do Grupo Interinstitucional de Trabalho sobre Estatísticas da Proteção Social (GITEPS), com apoio técnico e financeiro da Organização Internacional do Trabalho (OIT), por meio do projeto ACTION/Portugal.

O relatório, que foi consultado pela Rádio Sol Mansi, sublinha que a pobreza é mais prevalente entre as mulheres (51,4%) e nas áreas rurais, onde 75,6% da população vive abaixo da linha da pobreza.

Na opinião de Paulo Gomes, uma solução viável para reverter esse quadro envolve a melhor distribuição de recursos que possam efetivamente reduzir a pobreza, com ênfase na saúde e educação como pilares essenciais.

“Quando estamos a falar do índice de pobreza nas mulheres significa que esta terá o impacto nas crianças e jovens, porque todos nós sabemos ou conhecemos o papel da mulher para com a criança”, considerou o economista afirmando que à falta de foco e consistência na aplicação de políticas públicas voltadas à redução da pobreza têm contribuído na elevação da alta taxa da pobreza.

O estudo também destaca que as mulheres, particularmente nas zonas rurais, são as mais atingidas pela pobreza. Em 2010, 69,3% da população do país vivia em condições de pobreza, sobrevivendo com menos de mil francos CFA, o equivalente a menos de dois euros por dia.

Paulo Gomes, ex-candidato às eleições presidenciais de 2014, afirmou que o país necessita urgentemente de um Estado competente, empreendedor e alinhado ao setor privado para superar a dependência de alimentos e reduzir o índice de pobreza.

“Temos que investir para melhor reduzir a nossa dependência, sobretudo, nos produtos que são mais consumidos no país”, apontou.

O boletim consultado pela emissora Rádio Sol Mansi também enfatiza a importância de uma maior coordenação institucional, com a participação ativa do Ministério das Finanças, bem como a implementação de mecanismos e sistemas de monitoramento mais eficazes e flexíveis para a produção de dados sobre a proteção social. Essas medidas devem ser uma prioridade para o GITEPS e demais instituições.

Finalmente, o documento sugere que, para aumentar a eficácia do sistema de proteção social, é crucial ter um panorama mais abrangente das prestações sociais em vigor. Isso permitirá identificar lacunas e áreas desprotegidas, além de facilitar a coleta de dados mais precisos e oportunos para relatórios futuros.

Por: Ussumane Mané/radiosolmansi com Conosaba do Porto

Amílcar Lopes Cabral foi homem além do seu tempo?

No próximo dia 12 de setembro, comemoraremos o centenário de nascimento do pai e fundador de nacionalidades guineense e cabo-verdiana. Costumeiramente, essa comemoração, bem como a da nossa independência, 24 de setembro, são marcadas por eventos políticos, acadêmicos e culturais, eventos nos quais fala-se bastante da vida e dos feitos do nosso maior e inconteste herói nacional. São nesses eventos também que algumas figuras já afirmaram que Cabral foi homem além do seu tempo (Cabral i/foi homi além de si tempo, como aparece em crioulo).

Essa afirmação poderia ser entendida como um simples recurso argumentativa na tentativa de engrandecer o Cabral e seus feitos, uma hipérbole. Mas tenho impressão de que talvez não se trate disso, para algumas pessoas isso é um fato e elas tentam, dentro do seu limite, justificar a afirmativa.

Além de indefinições e inconsistências que essa frase carrega, ela é, antes de tudo, menos informativa do que parece. Afirmar que Cabral foi homem além do seu tempo não oferece muita coisa útil como se imagina e não me parece a forma mais
producente e talvez mais honesta também de resumir os feitos dele. 

As indefinições dessa afirmação estão no seguinte: sempre que se fala que Cabral foi homem além de seu tempo, não se faz recorte de espaço, isto é, não se especifica se ele foi além do seu tempo tomando como referência a Guiné, a África ou o mundo inteiro, não se define qual é o critério para ser elevado a essa categoria e nem o que seria ser uma pessoa ser além do seu tempo. 

Entretanto, o último é possível de ser deduzido, já que quando falam que ele foi além do seu tempo porque pensou coisas que no seu tempo não se pensava. 

Portanto, entende-se que ser além do seu tempo é pensar ou fazer coisas que ninguém faz ou pensa no seu tempo. As inconsistências da afirmação estão no fato de que muitas coisas que se pensa que ele foi pioneiro, não foi o caso, se se considerarmos o contexto global.

Se considerarmos Cabral homem além do seu tempo tomando a Guiné-Bissau (GB) como referência, a afirmação será verdadeira, considerando que, de fato, ele falou e sugeriu coisas que talvez ninguém conseguisse pensar nesse contexto, no período de 1924 a 1973. No entanto, é preciso destacar que poucos guineenses tinham acesso e oportunidade que Cabral tinha, o que fez total e completa diferença em termos de preparo intelectual e acadêmico entre eles, isto é, Cabral era um “privilegiado” em relação a quase todos os guineenses desde seu nascimento. Por exemplo, de acordo com Peter Karibe Mendy, o pai de Cabral á era professor desde 1911 e a sua mãe era empresária independente, ou seja, podemos deduzir, com alto grau de segurança, de que os dois eram letrados, sabemos a diferença que ter pais letrados faz na vida dos filhos, isto sem mencionar o fato de ele ter tido condições de estudar desde criança e de depois
fazer a sua formação superior em Portugal, coisas que provavelmente nenhum outro guineense, da idade dele, tinha. Por essa razão, acho que a G-B não deve servir de parâmetro.

Se tomarmos como a referência toda a África, a afirmação se mostra falsa, pois Cabral não esteve além de nomes como: Léopold Sédar Senghor, embora pensem
diferente em relação a quase tudo, Ahmed Sékou Touré, Kwame Nkrumah , aquele que, aliás, o influenciou muito através do seu pan-africanismo, muito menos esteve além do Cheikh Anta Diop, um dos mais brilhantes cérebros que esse mundo já viu, não esteve à frente de tantos outros líderes e pensadores africanos do seu tempo ou os que o antecederam que já lutavam pelas mesmas coisas, também não estava na frente de muitos de seus colegas de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) que passaram pela Casa de Estudantes do Império (CEI), em Portugal. Aliás, vale destacar que a passagem por essa instituição transformou profundamente a vida dos que por ela passaram, presume-se que não foi diferente na vida de Cabral, visto que também por lá passou.

Acho que já ficou claro que Cabral não foi além do seu tempo nem quando tomamos como recorte espacial a África que dirá quando consideramos o contexto
global. Ele foi, seguramente, um brilhante homem de século XX, aprendeu como poucos e soube aproveitar de mais diversos conhecimentos disponíveis nesse período para sua causa (a independência da Guiné e Cabo Verde) como ninguém, mas não foi além do seu tempo. 

A título de exemplo, vários conceitos como: democracia revolucionária, imperialismo, homem novo etc. que ele utilizou, são conceitos dos quais ele se apropriou (no sentido de estudar, como ele certa vez admitiu ter precisado estudar o Marx) do marxismo e do leninismo. Quanto à questão de gênero que ele também já discutia, é um assunto que já se discutia no mundo, na própria África, as mulheres, em outros países, já se organizavam politicamente para defender seus interesses e seus espaços. 

É salutar lembrar que a Nísia Floresta publicou seu livro intitulado Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens, em 1832 e em 1949 a Simone de Beauvoir publicou alguns capítulos de seu próximo livro, O segundo sexo. Eu poderia citar uma quantidade volumosa de obras e de pessoas que já discutiam essa questão bem antes dele, mas acho que consegui mostrar o meu ponto.

A intenção desse artigo não é diminuir os feitos de Cabral, até porque não tenho
a condição intelectual, muito menos poder de influência suficientes para promover tal coisa, sem mencionar que uma tentativa desse tipo seria um atestado de estupidez da minha parte, visto que a grandeza de Cabral é incontestável para todos que são/estão minimamente informados sobre a sua vida e obra. O proposito aqui é humanizar a figura dele, trazer o Abel Dassi para mais perto de nós (simples humanos que aprendem um com o outro) e desse modo utilizá-lo como modelo que vai inspirar a todos os guineenses.

Geralmente, quando as pessoas falam de Cabral, ignoram (no sentido de deixar de lado) as informações que exponho aqui não são secretas, todos que estudam a vida de Cabral têm acesso à elas. Ele é apresentado como que quase um iluminado, aquele parece que foi um enviado, um profeta, alguém que teve uma epifania e do nada assumiu a missão de libertar um povo que não sabia o que queria. Isso não é verdade, Cabral foi um ser humano como nós, apenas teve a oportunidade que poucos tinham e soube aproveitá-la, foi um excelente estudante e insaciável investigador, assim ele conheceu muita coisa que já se debatia à sua época ou bem antes dele, aperfeiçoou outras e quando voltou para a Guiné encontrou um povo bravo e destemido que sempre lutou, à sua maneira (lutas fragmentadas), para se libertar do domínio colonial, ele agregou a essa luta a nacionalização da mesma. Ou seja, a grande contribuição de Cabral foi a nacionalização da luta, ele logrou o que ninguém tinha conseguido antes, e deste modo nos deixou o que talvez seja seu maior legado, a nossa independência nacional.

Cabe à nossa geração, ao invés de ficar disputando adjetivos e/ou frases de efeito
para descrever os feitos de Cabral, aprender com ele através de estudo sério de seu pensamento, sem ter isso como um valor em si, e assim descobrir a nossa missão e decidir se vamos cumpri-la ou traí-la como insistiu o Fanon. Cabral humanizado nos será mais útil, inspirará mais pessoas se for apresentado como modelo não como limite intelectual ou alguém que ninguém sabe como chegou onde chegou, ou que simplesmente nasceu com tudo, isso além de ser contraproducente, não é verdade.

Cabral foi um estudante sério, um arguto investigador e um ávido leitor, foi, provavelmente um dos mais extraordinários homens do seu tempo, ele costumava dizer: “sou um simples africano cumprindo o meu dever para com o meu país, no contexto de nossa época”.

Viva Cabral, Cabral ka muri!
São Paulo, Brasil, 08 de setembro de 2024

Por: Fernando Colonia (o bolamense)