Yahya Sinwar integra o Hamas quase desde a sua fundação. Esteve preso nas prisões israelitas por mais de 20 anos, onde se apercebeu que a “única forma” de libertar prisioneiros palestinianos era através da captura de soldados israelitas. Considerado o cérebro que engendrou os ataques de 7 de outubro, é um dirigente com uma estratégia “radical no plano militar e pragmática na política”
Yahya Sinwar, nomeado esta terça-feira novo líder político do Hamas, é visto como um ativista radical e pragmático, considerado o mentor do ataque de 7 de outubro contra Israel e a "cara do diabo" pelas forças israelitas. O anúncio do Hamas surge uma semana após a morte, em Teerão, do seu antecessor, Ismail Haniyeh.
Sinwar tem passado toda a sua carreira na 'sombra', incluindo em prisões israelitas, onde esteve 23 anos, e depois no aparelho de segurança do movimento islamita palestiniano, onde foi responsável pelas purgas.
Nasceu num campo de refugiados em Khan Yunis, a sul da Faixa de Gaza e interessou-se pelo ativismo islâmico quando estudou na Universidade Islâmica de Gaza, no início da década de 1980. Juntou-se ao Hamas recém-formado em 1987 e exerceu o cargo de diretor do serviço de informações, cujas tarefas incluíam descobrir espiões e simpatizantes de Israel.
Líder desde 2017 do movimento em Gaza, foi, aos 61 anos, o arquiteto do 7 de outubro: nesse dia, centenas de comandos invadiram 'kibutz', bases militares e um festival em Israel, que viveu o pior ataque contra civis desde a sua criação em 1948.
O resultado do ataque sem precedente do Hamas foram 1.198 mortos e 251 pessoas feitas reféns, segundo as autoridades israelitas.
"A estratégia é dele, foi ele quem montou a operação" provavelmente durante um ou dois anos, explicou à agência France-Presse (AFP) Leïla Seurat, investigadora do Centro Árabe de Investigação e Estudos Políticos (CAREP), em Paris.
O líder do Hamas, de cabelo branco, mas com sobrancelhas negras e fartas, "impôs o seu ritmo para mudar o equilíbrio de poder no terreno e apanhou todos de surpresa", defendeu a investigadora. Sinwar conduziu uma estratégia que é "radical no plano militar e pragmática na política".
O homem que é agora "a cara do diabo", nas palavras do exército israelita, não aparece em público desde outubro, acredita-se que esteja escondido algures na rede de túneis por baixo de Gaza.
É o principal decisor do Hamas em Gaza e acredita-se que controla o destino dos cerca de 120 reféns israelitas raptados pelo Hamas. O representante de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, ergueu um cartaz, durante uma sessão especial de emergência na Assembleia Geral da ONU, com as informações de contacto de Sinwar, insinuando que dependia deste a libertação dos reféns.
"É o homem de segurança por excelência" que, com um "carisma de líder", toma "decisões com a maior das calmas", garantiu à AFP Abou Abdallah, antigo colega detido do Hamas, em 2017.
Aos 25 anos, já dirigia a Jihad and Preaching Organization, a unidade de inteligência do Hamas que pune os 'colaboradores', palestinianos punidos por informações junto do inimigo israelita. Em 1988, fundou o Majd, o serviço de segurança interna do Hamas.
Encarcerado em 1989, consolidou-se como líder dos presos. Condenado a quatro penas de prisão perpétua por tentativa de homicídio e sabotagem, foi libertado em 2011 com mil detidos libertados por Israel, em troca do soldado Gilad Shalit, refém do Hamas durante cinco anos. Após ter sido libertado, o novo líder do Hamas afirmou que a “única forma” de libertar enfermeiros era através da captura de soldados israelitas.
Passou 23 anos nas prisões israelitas, onde Sinwar recusava falar com qualquer israelita e castigava aqueles que o faziam ao pressionar o seu rosto contra um fogão improvisado. "Ele é 1000% empenhado e 1000% violento, um homem muito, muito duro", disse o interrogador israelita que trabalhou na prisão onde Sinwar esteve detido, citado pelo ‘The Guardian’.
Yahya Sinwar viu Israel eliminar os seus mentores, nomeadamente o xeque Ahmed Yassine, fundador do Hamas, e Salah Chehadé, fundador das brigadas Ezzedine al-Qassam, o braço armado do movimento, do qual é considerado o braço direito.
Colocado na lista dos EUA de "terroristas internacionais", foi alvo de múltiplas tentativas de assassinato. A comunicação social israelita publicou trechos dos seus interrogatórios, em que descreve ter raptado um traidor, levado para o cemitério de Khan Younès: "Coloquei-o numa cova e estrangulei-o com um keffiyeh [lenço palestiniano]."
A nível político, defende uma liderança palestiniana unida para todos os territórios ocupados: a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, a Cisjordânia, administrada pela Fatah de Mahmoud Abbas, e Jerusalém Oriental. "Fez saber que puniria quem tentasse impedir a reconciliação com a Fatah", recordou o Conselho Europeu dos Negócios Estrangeiros (ECFR).
Após a sua eleição à frente do Hamas em Gaza, o movimento aceitou o princípio de um Estado palestiniano dentro das fronteiras de 1967, mas manteve como objetivo final a "libertação" de todo o território da Palestina em 1948, incluindo o atual território israelita.
A todo o custo, pretende forçar Israel e o mundo a interessarem-se pelo destino dos palestinianos. O porta-voz do Hamas, Osama Hamdan, garantiu, em declarações ao canal Al-Jazeera, que “o problema nas negociações [de um cessar-fogo] não é a mudança no Hamas”, que agora serão continuadas pelo novo líder. Os obstáculos para atingir o acordo, de acordo com o Hamas, são colocados por Israel e pelos Estados Unidos
Conosaba/msn.com/pt
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