Pelo menos 10 pessoas perderam a vida em Moçambique entre os dias 18 e 26 de outubro, vítimas de baleamento, num total de 73 casos registados, anunciaram hoje médicos moçambicanos, pedindo reforço ao atendimento às vítimas de traumas.
"No período compreendido entre os dias 18 e 26 de outubro foram apurados 73 casos de baleamentos resultando em 10 óbitos", anunciou hoje o bastonário da Ordem dos Médicos de Moçambique, Gilberto Manhiça, em declarações à imprensa, lendo um comunicado conjunto com a associação daqueles profissionais de saúde.
O advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, Elvino Dias, e o mandatário do partido Podemos, Paulo Guambe, foram assassinados a tiro em Maputo, no dia 18 de outubro.
Na sequência do duplo homicídio, Venâncio Mondlane convocou marchas, que apelidou de pacíficas, para os dias 21, 25 e 26 de outubro, que acabaram por ser dispersadas pela polícia com tiros para o ar e gás lacrimogéneo, registando-se confrontos entre as forças policiais e os manifestantes em vários pontos do país.
Em conferência de imprensa em Maputo, para fazer o ponto de situação desde o duplo homicídio até ao último dos três dias das manifestações, os médicos moçambicanos denunciaram o "crescimento abrupto e elevado" de casos de violência com recurso a armas de fogo no país e pediram à polícia para garantir a segurança de pessoas e bens.
Segundo os médicos moçambicanos, há mais mortos por baleamento na cidade e província de Maputo.
O presidente da Associação Médica de Moçambique, Napoleão Viola, pediu aos manifestantes para usarem "meios não violentos para manifestar a sua insatisfação e que as partes reconheçam e implementem medidas que assegurem a dignidade da pessoa humana".
"Que o diálogo entre as partes prevaleça e se encontrem soluções para o diferendo", defendeu, apelando ao reforço do atendimento em dias de manifestações: "Em dias em que há previsão de manifestações, é importante reforçar as escalas. Onde estão escalados dois profissionais, se calhar aumentar mais ou colocar alguns em espera para situações que possam a vir a ocorrer [com mais] entradas nas unidades sanitárias".
Os médicos moçambicanos disseram que ponderam criar um sistema de apoio aos cidadãos que possa disponibilizar informações sobre pontos focais que permitam assegurar o socorro às vítimas, sobretudo de baleamentos, durante as manifestações.
"Que temos tido situações de crise em relação à disponibilidade de meios não há dúvidas, mas o mais importante é ter capacidade de reagir para acomodar a situação que vivemos nesta altura. O que não faz sentido é ter compatriotas vítimas desta violência e não termos atendimento para estas pessoas, só porque há uma reserva de meios", acrescentou.
Segundo fontes oficiais, pelo menos 24 pessoas ficaram feridas durante confrontos entre manifestantes e a polícia nos passados dias 24 e 25, em Maputo, e 371 foram detidas.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique anunciou na quinta-feira a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas afirma não reconhecer estes resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
A Frelimo reforçou ainda a maioria parlamentar, passando de 184 para 195 deputados (em 250), e elegeu todos os 10 governadores provinciais do país.
Além de Mondlane, o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, atual maior partido da oposição), Ossufo Momade, um dos quatro candidatos presidenciais, disse que não reconhece os resultados eleitorais anunciados pela CNE e pediu a anulação da votação.
Conosaba/Lusa
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