domingo, 6 de julho de 2025

Artigo de Opinião: LISBOA, O REENCONTRO E A ESPERANÇA: Sissoco Embaló e Braima Camará como catalisadores da reconciliação política na Guiné-Bissau



Lisboa foi, mais uma vez, o palco discreto onde se cruzam caminhos decisivos para o futuro da Guiné-Bissau. O reencontro entre o Presidente Úmaro Sissoco Embaló e o Coordenador Nacional do MADEM-G15, Braima Camará, não é apenas um gesto de reconciliação pessoal — é, sobretudo, uma mensagem clara de que o país precisa urgentemente de reencontrar-se consigo mesmo.

Hoje, apesar dos grandes projetos de infraestruturação em curso — visíveis nas estradas, na modernização de serviços e na tentativa de atrair investimento estrangeiro —, a sociedade guineense continua a viver sob o peso de uma crise social alarmante. O custo de vida não pára de subir, os sectores da educação e saúde vivem em ciclos repetitivos de greves, e a governação atual tem demonstrado fragilidades técnicas e políticas para enfrentar os desafios do quotidiano da população.

É neste contexto que o gesto de aproximação entre Sissoco Embaló e Braima Camará ganha um significado ainda mais profundo. A iniciativa de normalizar relações não deve ser vista como um cálculo político, mas como uma necessidade patriótica. O país precisa de pontes e não de muros. Precisa de convergência e não de dispersão. A história já mostrou que, quando estiveram juntos, foram capazes de mobilizar apoios e garantir estabilidade — estabilidade essa que permitiu a vitória presidencial e abriu uma janela de esperança para reformas.

O MADEM-G15, enquanto movimento fundado sob o ideal da Alternância Democrática, tem agora uma nova oportunidade de se reencontrar, corrigir os erros do passado e voltar a ser uma força coesa. 

A reintegração de figuras históricas e de antigos aliados, bem como a recuperação da confiança interna, são passos que podem fortalecer não apenas o partido, mas também o próprio sistema democrático guineense. O mesmo se aplica ao PRS, cujas raízes e quadros experientes têm muito a contribuir para o processo de reconciliação e regeneração política em curso.

A normalização das relações entre USE e Braima Camará pode abrir caminho a um novo ciclo político, assente na maturidade, no respeito mútuo e na consciência de que o país não pode continuar a ser refém de querelas pessoais ou rivalidades sem sentido.

É, por isso, chegada a hora de lançar um apelo firme e sincero aos guineenses — e em especial à classe política, tanto da maioria como da oposição. Chegou o momento de deixar para trás os ressentimentos e de dar um voto de confiança ao processo em curso. A paz, a concórdia e o espírito de compromisso devem ser elevados à condição de prioridades nacionais. Só assim poderemos levar a Guiné-Bissau pelos caminhos da estabilidade institucional, da unidade nacional e da coesão social.

O povo guineense, cansado de instabilidade, merece ver os seus líderes a trabalhar juntos pelo bem comum. A juventude guineense, sedenta de oportunidades, precisa de uma liderança que inspire confiança. E os nossos parceiros internacionais aguardam sinais claros de responsabilidade e compromisso com o progresso.

Este reencontro em Lisboa pode ser apenas o início. Mas, com coragem, visão estratégica e patriotismo, pode tornar-se o ponto de viragem que há tanto tempo se espera.

A história não perdoará mais uma oportunidade desperdiçada. Mas saberá reconhecer quem, num momento decisivo, escolheu a via da paz em vez do conflito, a via da construção em vez da destruição.

Que prevaleça o bom senso. Que se renove a esperança. Que vença a Guiné-Bissau.

Bissau, 6 de Julho de 2025
Aureliano M. Gomes




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