sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

PORTUGAL PERDE MAIS DE 50 MIL IMIGRANTES EM QUATRO ANOS


Último relatório da OCDE revela que o número de cidadãos estrangeiros caiu de 454 mil para 401 mil. Imigrantes ouvidos pela DW África apontam o desemprego como uma das razões que pesam na decisão de voltar ao país natal.

Manuel Xavier está em Portugal há 22 anos. Nesta altura desempregado, este cidadão angolano vive num dos bairros sociais nos arredores de Lisboa com quatro filhos que nasceram cá. Recentemente, esteve cerca de dois anos e meio em Angola a estudar o mercado de trabalho e os seus documentos caducaram. Agora, está a tratar de todo o processo de renovação dos papéis. Aqui, no país que o acolheu, há falta de trabalho, o que já o levou a experimentar a sorte em países como a Alemanha. Esta é a razão principal que pesa na decisão de um possível regresso a Angola.

Manuel Xavier, angolano, vive há 22 anos em Portugal

Plano eu tenho, o problema é o trabalho”, explica Manuel. “Tenho que ter trabalho primeiro. Fiquei lá dois anos, mas as coisas não correram bem. Aqui também não está nada fácil. Por causa da crise, as coisas complicaram-se”.

João António de Barros, também a residir no bairro Terraços da Ponte, antiga Quinta do Mocho, em Sacavém, está em Portugal desde 1989, quando havia trabalho no ramo da construção civil. Este cidadão guineense, armador de ferro, em situação de desemprego, teve de ir para Inglaterra em busca de trabalho. “Voltei para cá para ver se conseguia trabalho, mas, infelizmente, os meus documentos caducaram. Não tinha passaporte, bilhete de identidade, carta de condução”, conta.
O guineense João de Barros vive em Portugal desde 1989

“Já lá foram os bons tempos da década de 80 e 90”, lembra João António. Sem dinheiro para as despesas, conta por vezes com o apoio da Associação Unida e Cultural. Face à dura realidade que enfrenta, é grande o desejo de voltar para a Guiné-Bissau.

Está em Portugal a tentar “renovar todos os documentos”. “Se não arranjar trabalho aqui, volto a ir para fora. Se tivesse dinheiro para investir em qualquer coisa ia imediatamente para a Guiné-Bissau”, explica.

Em 4 anos, número de imigrantes caiu 10%

João de Barros e Manuel Xavier estão na lista dos imigrantes dos países africanos de língua portuguesa (sobretudo angolanos, guineenses e são-tomenses) que querem voltar ao país natal. Fazem parte dos 401 mil imigrantes radicados em Portugal atualmente, contra os mais de 454 mil que aqui viviam em 2009, quando começou a crise.

O mais recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) diz que, nos últimos quatro anos, Portugal perdeu mais de 10 por cento de estrangeiros residentes. As razões são várias, entre as quais a crise económica. Por outro lado, muitos pediram a nacionalidade portuguesa.

José Camilo Silva, presidente da Associação Unida e Cultural da Quinta do Mocho, confirma que o número de imigrantes que procura apoio diminuiu substancialmente nos últimos anos, sobretudo olhando “para o número de membros da associação”.

José Camilo Silva, presidente da Associação Unida e Cultural da Quinta do Mocho

Oficialmente, a organização conta com 300 sócios. José Camilo Silva tem a sensação de que, na realidade, o total é “menos de um quarto”, “devido ao retorno aos países de origem e a emigração pela Europa fora”.

O bairro está agora com menos habitantes, salienta. Saíram sobretudo os jovens. “Temos testemunhado esse fenômeno. Prestamos apoio na compra dos bilhetes e pedido de vistos”, explica.

Os que por cá continuam, afirma José Silva, aguardam pela aquisição da nacionalidade ou têm vergonha de regressar aos países de origem. Entretanto, os da segunda ou terceira geração que não se sentem integrados na sociedade portuguesa também equacionam a hipótese de ir viver nos países onde nasceram os seus pais. Para muitos, Portugal é cada vez menos atrativo para a imigração.

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