[REPORTAGEM] Um número significativo das crianças do Ilhéu das Galinhas, que apoiam pescadores estrangeiros nas atividades da pesca, consomem a droga canábis através da influência desses pescadores estrangeiros, facto que constitui uma preocupação da associação de filhos e amigos daquele ilhéu, pelo que solicitaram as autoridades regionais e ao governo central no sentido de instalarem um posto móvel das forças de segurança com o intuito de combater a venda e o consumo da droga nessa comunidade.
A denúncia foi feita pelo presidente da Mesa da Assembleia da Associação dos Filhos e Amigos do ilhéu das Galinha, César de Oliveira Lopes, numa entrevista ao Jornal O Democrata (fevereiro de 2024), para falar das dificuldades enfrentadas pelos habitantes locais.
Galinhas é uma ilha pertencente ao arquipélago de Bolama/Bijagós, situada no sul da Guiné-Bissau, a uma distância de cerca de 20 milhas da capital Bissau. A ilha tem 50 km2 e uma população estimada em cerca de dois mil habitantes. Funcionou no período colonial como uma prisão denominada “Colónia Penal e Agrícola da Ilha das Galinhas”.
Entre os presos políticos e ativistas defensores da causa da independência ali encarcerados estão José Carlos Schwarz, inteletual e músico guineense de referência.
ASSOCIAÇÃO CRITICA AUSÊNCIA DE ESTADO E A FALTA DE ÁGUA POTÁVEL
César de Oliveira Lopes defendeu que os populares precisam de um posto móvel de segurança para desmantelar os pescadores estrangeiros que estão a levar as crianças daquela zona fora do controlo das autoridades nacionais, no consumo da droga, como também no roubo de animais.
“Estes fenómenos estão a ganhar proporções alarmantes porque são praticados por pessoas que saem de outras zonas com pirogas para roubar os bens dos populares do ilhéu”, denunciou.
Assegurou que na localidade de Ambancanam, uma tabanca que fica no interior do ilhéu, nunca houve indícios de conflitos entre pescadores estrangeiros e os populares locais, mas na tabanca de Amitite, a 10 quilómetros, de Ambancanam, aconteceu uma situação em que pescadores envolveram-se em conflito com os populares da comunidade.
Segundo o líder juvenil, em reação a essa situação, a comunidade expulsou os pescadores da aldeia.
César de Oliveira Lopes disse que estão a viver numa total precariedade, sem transporte marítimo para fazer ligação entre o Ilhéu das Galinhas e Bissau, para permitir que os cidadãos escoassem os seus produtos para a capital como ostra, peixe, olho de palma, entre outros.
O responsável informou que depois de vários tempos sem transporte marítimo, a associação e a comunidade juntaram um fundo e compraram uma canoa que neste momento está a fazer ligações para capital Bissau, como também evacuação de doentes que precisam de tratamento especializado.
“A canoa leva mais tempo em Bissau e em consequência disso, morreram duas grávidas que precisavam de evacuação para Bissau, sem contar a situação de agitação no mar que é um problema sério”, relatou.
César Lopes informou que o ilhéu dispõe de um centro de saúde, sem médico nem ambulância, apenas os enfermeiros fazem consultas e dão os primeiros socorros e os doentes e as grávidas evacuadas das outras tabancas para mesma ilha a uma distância de três a quatro quilómetros são transportados em canapés ou nas costas para o centro de saúde e no caso de Bissau para o porto.
Criticou a ausência do Estado no ilhéu, não obstante terem lançado várias vezes gritos de socorro ao governo regional para apoiá-los com uma vedeta rápida para a evacuação de doentes, porque a canoa demora muito tempo, às vezes mais de três horas para chegar a Bissau e não consegue fazer o transporte todos os dias, apenas uma vez por semana.
“É urgente resolver esta situação para ajudar os populares doIlhéu das Galinhas que merecem serem acarinhados como qualquer guineense”, advertiu e disse que estão a viver na miséria.
César de Oliveira Lopes revelou que o ilhéu não tem água potável e há períodos em que a diarreia constitui uma das maiores preocupações à população e aos técnicos de saúde, tendo em conta o consumo de água inapropriada.
“Não temos por onde ir e somos, por isso, condenados a consumir a mesma água com todos os riscos”, frisou e disse que para além da situação de falta de transporte marítimo, a ausência de médico e da água potável que levam aquela ilha ao isolamento total, também estão sem cobertura das redes de telecomunicações móveis que operam no país, apenas a MTN colocou uma antena com um raio de dois quilómetros, de maneira que estão a enfrentar enormes problemas.
“Quando acontece uma situação de urgência, a evacuação de um doente, por exemplo, se quisermos informar os familiares que vivem em Bissau, somos obrigados a sair à procura da rede móvel para comunicar. Já fizemos várias diligências junto dos operadores móveis, mas até ao momento a situação não resultou. Vamos continuar a fazer a nossas diligências porque é urgente as duas empresas colocarem antenas com maior raio para que possamos sair do isolamento de há várias décadas e espero que o as autoridades tenham paciência de ler este artigo e que encetem diligências para dar respostas às nossas preocupações, as populações que vivem na zona insular, sobretudo do Ilhéu das Galinhas”, sublinhou.
César de Oliveira Lopes denunciou que está-se a registar, neste momento, nas tabancas partes do ilhéu, indícios de fuga de jovens para outros lugares à procura de melhores condições de vida e estudos.
De acordo com o líder juvenil, essa situação levou à quebra de mão-de-obra em termos de produção do arroz no campo e outros produtos, bem como a pesca que era uma fonte de rendimento de muitas famílias também sofreu, razão pela qual a fome está a ser sentida nas aldeias.
O responsável da associação de filhos e amigos do Ilhéu dasGalinhas, tendo lembrado que há dois anos, a organização tentou mobilizar jovens daquela zona que vivem em Bissau a voltarem periodicamente na época das chuvas para ajudar os mais velhos nos trabalhos do campo, mas não tem sido nada fácil concretizar essa ideia, devido às dificuldades que vivem em Bissau, sobretudo no concernente aos transportes.
“Continuamos a sensibilizar a população para trabalhar para lutar contra a fome, porque aquela zona é fértil e rica, pode-se produzir qualquer produto”, enfatizou.
César de Oliveira Lopes assegurou que o Ilhéu das Galinhas não tem nenhuma escola pública a funcionar, mas graças a Igreja Evangélica Central estão um pouco mais folgados a nível do ensino, porque “a escola alberga alunos de primeiro ao nono ano de escolaridade, apenas a partir do décimo ao décimo segundo ano de escolaridade é que os alunos procuram os setores e Bolama e Bissau para prosseguirem os seus estudos”.
“Estamos a trabalhar arduamente para que, no futuro, consigamos ampliar a escola para que os alunos possam estudar até ao décimo segundo ano de escolaridade”, anunciou.
Revelou que não têm nenhum posto de controlo, nem uma esquadra policial ou agentes de segurança para dirimir pequenos conflitos entre populares.
“Os filhos do ilhéu que vivem em Bissau realizaram um retiro para analisar a situação da nossa terra, nomeadamente a problemática de segurança”, disse, sublinhando a necessidade de envolver o Ministério do Interior para colocar um posto móvel de segurança, porque “a população cresceu e temos vindo a registar nos últimos tempos roubo de gado e outros animais e os próprios pescadores que estão a envolver as crianças locais no consumo de drogas”.
“Quando há conflitos, recorremos primeiro ao comité da tabanca para tentar resolver. Se não conseguirmos, recorremos a Bolama para resolver o problema, portanto precisamos de um posto móvel para nos prevenirmos melhor de várias situações, eventuais conflitos entre os pescadores e populares e os nossos jovens estão envolvidos no consumo de drogas”, exortou.
Por: Aguinaldo Ampa
Conosaba/odemocratagb
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