domingo, 11 de fevereiro de 2024

“INSTRUMENTALIZAÇÃO DA CEDEAO PELA NATO PRECIPITA A DESINTEGRAÇÃO DO MALI, DO BURKINA E DO NÍGER” – Especialista em relações internacionais

O Professor universitário e especialista em segurança e relações internacionais, Abdu Jarju, afirmou que a instrumentalização de Chefes de Estado da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) pelos potencias europeias e sobretudo pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), precipitou a desintegração do Mali, de Burkina Faso e do Níger da CEDEAO, deixando a organização mais fragilizada.

“Assistimos, no domingo, ao funeral da CEDEAO, agora a situação é muito mais preocupante e exige uma reflexão profunda de todos nós. Estes Estados acusam à vontade, a CEDEAO de transformar-se num instrumento das potências europeias e particularmente da NATO. Será que isso é verdade? Sim, é verdade… porque a CEDEAO tornou-se num braço da NATO e uma ameaça para a existência dos povos que lutam pelas suas liberdades e andar sozinhos”, disse o professor universitário e analista Abdu Jarju entrevistado para falar sobre a sub-região, ao Jornal O Democrata como também para analisar a decisão da desintegração dos três Estados da CEDEAO, dirigidos por regimes militares sob sanções políticas daquela organização sub-regional.

“CEDEAO NÃO TEM PARA JÁ LEGIMITIDADE PARA ATACAR E MUITO MENOS SANCIONAR ESTES PAÍSES”

O Burkina Faso, o Mali, e o Níger anunciaram no domingo, 28 de janeiro do ano em curso, a saída da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental que acusam de ter traído os seus princípios fundadores e de estar “sob influência estrangeira”. O anúncio da desintegração foi feito nos três países ao mesmo tempo, através da leitura, nos órgãos de comunicação social estatais de um comunicado conjunto.

Em setembro de 2023, os três países dirigidos por juntas militares que assumiram as rédeas da governação, decidiram assinar um acordo para uma aliança de defesa, dado que na altura havia uma ameaça iminente de a CEDEAO e os seus parceiros atacarem o regime militar nigerino com o propósito de devolver o poder ao Presidente Bazoum. O acordo criou a chamada “Aliança dos Estados do Sahel – AES” e que visa entre outros, organizar um sistema de defesa coletivo e assistência mútua que, segundo os observadores políticos, será transformada numa grande organização política que defende os interesses políticos e económicos destes três países.

Jarju assegurou que a desintegração destes três países é uma ameaça séria à navegação da CEDEAO, que segundo ele, precisa repensar a sua política. Acrescentou que os três países juntos têm uma dimensão de cerca de três milhões de quilómetros quadrados, como também a nível das potencialidades e dos recursos naturais e potencial económico, para além da República Democrática do Congo (RDC), não há um país no continente que detém potencialidades económicas igualadas a estes três países juntos.

Questionado se a desintegração destes países na CEDEAO não lhes tornaria no alvo fácil da NATO e já sem a proteção da organização, disse que esta decisão permite aos três países estarem mais à vontade, dado que para já, a própria CEDEAO não tem já uma base legal para atacar estes países em nome da reposição da ordem constitucional e muito menos solicitar um apoio da NATO para uma ofensiva militar.

Assegurou que na verdade a saída assumida prejudicará a população, como uma das consequências imediatas, porque deixarão de beneficiar da convenção de livre circulação de pessoas e bens a nível de Estados membros da organização. Contudo afirmou que os três Estados vão acabar por criar um mecanismo para contornar a situação e aliviar o sofrimento destas populações que exercem atividades comerciais na sub-região.

Solicitado a pronunciar-se sobre o futuro da Aliança de Estados do Sahel criada pelos três países, disse que é uma organização com futuro, que poderá contar com a integração de outros países da própria CEDEAO devido a sua dinâmica.

“Depois do anúncio da desintegração no domingo e logo na manhã de segunda-feira, verificou-se uma manifestação espontânea das populações destes países e sem que sejam chamadas pelas autoridades. Este é um gesto muito importante e demonstra que a iniciativa conta com o apoio das suas populações e que a nova organização tem um futuro e que vai mesmo complicar ou criar dificuldades a sobrevivência da CEDEAO”, alertou o antigo Embaixador Plenipotenciário da Gâmbia para a Guiné-Bissau, Guiné-Conacri e Cabo Verde.

Jarju explicou que ficou evidente agora que o próximo passo destes países será a saída na moeda Franco CFA, que no seu entender, “para já é uma questão de dias para ouvirmos o anúncio da saída destes três Estado de Franco da Comunidade Financeira Africana”.

“Vimos a imagem de algumas notas da moeda que se diz que vai ser adotada por estes países a circular nas redes sociais, embora não seja oficial. O que se sabe é que estes países estão a preparar melhor a saída da moeda Franco CFA”, disse.

Por: Assana Sambú
Conosaba/odemocratagb

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