domingo, 5 de novembro de 2023

Opinião: (RE)AVALIAR A RGB HOJE

A Resistência da Guiné-Bissau, vulgo Movimento Bafatá, carece de corajoso reposionamento na cena política nacional. Na política, os tempos mudam como a própria realidade e exigem adequada readaptação de dirigentes em função dos princípios e dos objectivos que orientam cada organização partidária, tendo em conta a ideologia que professa e os valores em que se enquadra. Na Guiné-Bissau, cada vez mais as populações e a Sociedade têm vindo a enfrentar sérias dificuldades de vida, envoltas em penúrias quotianas.

È que já lá vão 50 anos, meio século de Independência, e não se vislumbra o caminho a seguir. As pessoas estão cansadas de sofrer neste País em que nada funciona e se vêem apenas a evolução de negócios particulares, adendas à posição que se ocupa no aparelho do Estado.

Por outtro lado, tem-se vindo a assistir a uma progressiva desorganização do Estado que, completamente desarticulado e esventrado, se apresenta irreconhecível como tal, incapaz de decisões sérias ou apontar rumos. Na verdade, perdeu-se o sentido do Estado. Na sua acção construtiva, o Estado da Guiné-Bissau não congrega para definir, não consegue organizar para executar ou realizar. Dia-a-dia nos Confrontamos com constantes divergências e gritantes desentendimentos entre aqueles que são votados para servir o País.

Não existe capacidade de unir sentimentos do País e sua gente para as tarefas construtivas da Nação. Unidade e solidariedade que são elementos básicos de uma Nação não se cultivam entre nós. Não há vontade política nem noção de instruir e sensibilizar uniformemente para uma unidade nacional possível e desejável. A falta de respeito pelas populações que, cansadas de suportar fome, vão contemplando e suportando o pó de caminhos em que, velozmente e com vidros escuros, circulam as pomposas viaturas climatizadas, ajudando a esquecer a obrigação de reabilitar e realizar a manutenção de estradas, se é de estradas se pode falar !

Tudo isto dentro de silêncio sobre gritante desprezo pelos direitos humanitários no País, manifestas dificuldades em reconhecer a cada um a sua particularidade singular, defenida e protegida nos princípios de Leis.

É preciso que esta situação mude e é nisto que os políticos são chamados a servir o País, repor o Estado, construir a Nação e formar sua gente. Por outras palavras, é necessário que o empenho e a actuação dos políticos sejam consentâneos com os interesses do País e das populações.

A RESISTÊNCIA DA GUINÉ-BISSAU, vulgo “MOVIMENTO BAFATÁ” (RGB/MB), deve estar do lado da mudança, na primeira linha da construção de uma nova esperança para as populações guineenses. A RGB foi e deve continuar a ser fruto da rejeição de facilitismos enganadores, da verborreia inconsequente.

No passado, tendo acompanhado e vivido intensamente a situação política do País, a qual chegou à ousadia de iliminaçâo física de nacionais e quadros, e em função não só dos fuzilamentos ocorridos em 1986, como também antes, nas diversas matanças provocadas nas diversas prisões do País, a RGB/MB decidiu avançar para uma luta política no exterior que durou 6 (seis) anos, com intencionalidade e determinação, sob ameaças e tentativas de assassinar seus dirigentes, pela sanha furiosa do PAIGC que se sentia ameaçado nos seus privilégios.

A Democracia que o Partido, a RGB, planeou e trouxe para a Guiné-Bissau e que deu indício de vigorar uns dois ou três anos após as primeiras eleições multipartidárias, essa Democracia nada tem a ver com o momento actual, nada deve à situação política que o País está a viver, diria, a suportar hoje.

Essa foi e é a luta da RGB que não terminou e tem de se retomar, sempre com ideias próprias, devidamente programadas em etapas necessárias. RGB possui valores e objectivos claros para Guiné-Bissau e que conduziram a luta até ao fim da etapa anterior, que se consubstancia em : Revisão da Constituição de então, com a queda do famigerado Art. 4º ; o fim da pena de morte no País; o fim do monopartidarismo, a abertura democrática; as primeiras eleições em formato de multipartidarismo; a instalação de um Parlamento com representações de vários partidos políticos; a liberdade de manifestação e liberdade de expressão, embora as duas últimas em retrocesso. São as conquistas da RGB e só da RGB.

Para recuperar o sentido da luta política e restabelecer confiança que o País depositava na RGB, tem de voltar a ser idêntico e autêntico. Não pode descaracterizar-se, passando a exibir ideias e orientações políticas alheias. Não pode afastar-se das necessidades da Sociedade e esquecendo a luta das mulheres deste País que dia e noite dispendem esforço enorme e energias vitais para sustento de lares; não é permitido ignorar que o País ainda tem escolas à sombra de pollom, que nas escolas públicas são os pais, em especial as mães, que pagam para os professores não fazerem greves nas tabancas do País, em fim, recusar trocar a autenticidade de valores e principios de um Partido, a completar quatro décadas de existência ! Não se deixar manietar por fontes de recursos materiais sem que se possa contrapor ideias que salvem o que ainda é salvável na soberania e na Democracia Nacional. Estes são situações e atributos que retiram dignidade para estar à frente da luta, sabendo que todas as doenças nos nossos hospitais são curadas com paracetamol preconcebido !…

Para RGB, estado na Guiné-Bissau tem de ser um Estado na moderna acepção da palavra, Estado construtivo, organizado, empenhado na educação e na formação da sua gente; um Estado solidário com os menos favorecidos, e há muitos na miséria. Um Estado consciente e responsável na justa ansiedade do Povo por um mínimo de Dignidade Colectiva e pessoal.

A voz da RGB não pode calar-se nas antenas da radio no Pais. Nem quando estávamos no exterior se viu tal coisa. A luta foi sempre à luz do dia, não clandestina, a partir do Memorável 12 do Novembro do mesmo ano da fundação, lembrem-se, a 27 de Julho de 1986.

Hoje, em momentos políticos que foram graves para o País, não se ouviu nem se sabe o que pensa a RGB sobre diversos assuntos de preocupação nacional.

Recusemos situações e atitudes que conduziram à carnificina pós independência e em que foram sendo iliminados paulatinamente muitos daqueles que puseram de pé o projecto da independência política perante o colonialismo, em que é gritante o eternamente triste “caso 17 de Outubro”, a última gota de água para Resistência da Guiné-Bissau não mais parar : “bafara/Bafata” : mar intchi.

Por: Salvador Tchongó Domingos
25/10/2023
Conosaba/odemocratagb

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